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TERRA NOVA
Cultivo familiar de fumo bate tecnologia dos Estados Unidos e leva Brasil ao topo do ranking de exportação do setor
Produção é artesanal no "Vale do Tabaco"
DO ENVIADO ESPECIAL
Para quem acredita que só há
salvação para a agricultura com
grandes propriedades e muita tecnologia, a plantação de fumo no
Vale do Rio Pardo equivale a um
curso de pós-graduação. Lá, só há
pequenas propriedades e 95% dos
produtores aram a terra com bois.
A mão-de-obra familiar, inclusive das crianças, é empregada em
92% das propriedades do Sul do
país. Contratar um ajudante é luxo que só ocorre no auge da safra.
Foi com essa combinação que o
Brasil tornou-se o maior exportador de tabaco do mundo e campeão em qualidade.
O trabalho é pesado, segundo
Carlos Alberto Moraes, 33, que está nesse tipo de lavoura desde os
nove anos. A cultura é anual e toma 140 dias -as mudas são plantadas em junho, e as folhas, colhidas entre novembro e dezembro.
"No verão, trabalho umas 15 horas -das 5h30 até as 20h. E de
madrugada tem de levantar umas
seis vezes para controlar a lenha
que seca o fumo. Levanto a cada
45 minutos para ver se a temperatura está boa", relata Moraes.
Muitos deixam o fumo, diz, porque não agüentam a carga.
A mão-de-obra familiar, em vez
de ser um empecilho para a qualidade, é peça essencial para o bom
fumo. "A cultura exige cuidados
artesanais. A produção familiar
melhora a qualidade do tabaco",
avalia Marco Dornelles, 40, engenheiro agrônomo da Afubra, a associação dos fumicultores. Segundo ele, "quando o camarada é
contratado, não cuida tão bem da
produção".
Produção
O tabaco inverte o ranking dos
países com maior inovação tecnológica. Os EUA, líder nessa tabela,
produzem tabaco de baixa qualidade porque lá se faz esse tipo de
cultivo em latifúndios com mão-de-obra contratada.
No sul do país, responsável por
95% da produção nacional, o minifúndio típico tem uma área de
17,9 hectares, dos quais 2,5 hectares são usados no cultivo do fumo. Um quarto da propriedade é
ocupado por matas nativas. A secagem do fumo, em estufas aquecidas a lenha, consome 500 árvores por ano.
Para ter árvores para queimar, o
setor se tornou o segundo maior
reflorestador do país, só atrás da
área de papel e celulose, segundo
o Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo).
A indústria usa a chamada
"produção integrada": o agricultor recebe sementes, insumos e
agrotóxicos e tem a compra da safra garantida. Agricultores reclamam que, como não há alternativa para a venda, a indústria é arbitrária ao estabelecer o preço. O
Sindifumo argumenta que não
define o preço, estabelecido por
uma comissão na qual os agricultores têm representantes.
(MCC)
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