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Disputa política emperra ação conjunta
Ajuda do governo federal a São Paulo não saiu do papel; os dois lados dizem que campanha eleitoral contaminou discussão
Uso de tropas do Exército nas ruas do Estado, vagas em penitenciária federal e liberação de recursos estão entre os pontos de conflito
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo após três ondas de
ataques do crime organizado
no Estado de São Paulo, autoridades estaduais e federais mantêm uma disputa política que
dificulta e atrasa a implementação de ações destinadas a
combater o PCC e dar mais segurança aos paulistas.
Principais adversários nas
eleições de outubro deste ano, o
PT, através do governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, e o PSDB
de Geraldo Alckmin, que exerce forte influência no governo
paulista de Cláudio Lembo
(PFL), são os dois protagonistas desse embate.
São Paulo não recebeu até
agora a verba federal de R$ 100
milhões, anunciada há um mês,
para a construção de novos
presídios e a reforma de unidades destruídas após as recentes
rebeliões -parte da verba será
usada para a compra de equipamentos de inteligência.
O Estado não enviou a papelada necessária, mas alega que
é o Ministério da Justiça que
está impondo dificuldades para
a liberação da verba, como disse ontem o governador Lembo.
"O secretário da Administração Penitenciária esteve em
Brasília e entregou os projetos,
mas sempre recebe uma nova
solicitação. A burocracia criou
uma dificuldade grande", disse.
Porém, Lembo afirmou "não
estar preocupado" com esses
R$ 100 milhões, que não "são
nada". "Isso, para São Paulo, é
tão pouco..." A verba seria suficiente para comprar 3.280 carros de polícia iguais aos 433
que o governador entregou anteontem no Pacaembu, em
evento com a banda da PM.
Ontem à noite, em ofício, o
Depen (Departamento Penitenciário Nacional) reiterou
que o dinheiro está disponível,
mas alertou o secretário paulista Antonio Ferreira Pinto (Administração Penitenciária) de
que hoje é a data-limite para o
envio dos projetos. O prazo para os demais Estados havia expirado em 30 de junho.
A União diz que apenas cumpre a burocracia legal. Enquanto isso, Estados como o Rio
Grande do Sul e o Paraná já receberam, cada um, os R$ 12 milhões solicitados ao fundo penitenciário federal em 2006.
Exército
Outro ponto de discórdia é
sobre a presença do Exército
nas ruas. O ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, oferece as tropas desde os primeiros
ataques do PCC -em maio.
Lembo repetidamente rejeitou esse tipo de ajuda -disse
ontem inclusive que Bastos deve explicar se o Estado bancaria
despesas com tropas. Mas seu
secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, admitiu anteontem a possibilidade de tropas ajudarem a
guardar os muros de presídios e
realizar ações em favelas.
Saulo quer ao menos 4.500
soldados em São Paulo. Thomaz Bastos sinalizou que pode
enviar 10 mil em apenas 72 horas. Lembo desautorizou seu
secretário da Segurança. "Ele
[Saulo] disse que gostaria do
Exército nas muralhas dos presídios. Eu não quero, então não
assino o ofício [para a solicitação das tropas]", afirmou.
Inaugurado há 48 dias, o presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR) também é motivo de discussão. A
União diz ter recebido do governo paulista, no dia 23 de junho, um pedido para ceder 40
vagas, mas que não obteve a
confirmação formal até agora.
As autoridades estaduais não
falam sobre o assunto. Segundo
a Folha apurou, o Estado teme
a reação do PCC.
Anteontem, Saulo havia também ironizado a verba de R$ 1
milhão que o ministro da Justiça ofereceu para um mutirão
de revisão de processos dos 140
mil presos no Estado: "Que
mutirão é esse de R$ 1 milhão?
É outro factóide".
Em conversas reservadas
com a Folha, tucanos ligados a
Alckmin e assessores próximos
a Thomaz Bastos confirmam
que a campanha eleitoral contamina as ações de governo em
detrimento da eficiência dos
programas conjuntos.
Até o próprio governador de
São Paulo vê essa influência.
"Eles [petistas e tucanos] fazem a campanha e eu fico aqui
dirigindo firmemente", afirma
Lembo.
(FABIO SCHIVARTCHE, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CÁTIA SEABRA E
ANDRÉA MICHAEL)
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