São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Participação do Exército nas ruas é alvo de críticas

Tropas podem ajudar na crise com serviço de inteligência, segundo especialistas

Momento político em São Paulo, com transição no governo paulista e eleições, colabora para insuflar os ataques


DA REPORTAGEM LOCAL

A presença de tropas do Exército nas ruas de São Paulo é condenada por especialistas e integrantes de alguns setores representativos da sociedade ouvidos pela reportagem.
Muitos avaliam inclusive que essa medida poderia até agravar a tensão entre os habitantes, em vez de tranquilizá-los.
Isso não significa que as Forças Armadas não pudessem ajudar no combate à crise -mas de forma diferente da sugerida pelo secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, para quem as tropas deveriam vigiar os muros de presídios, ou da oferecida pelo governo Lula, para quem elas poderiam atuar nas ruas.
"Não tem cabimento. A polícia está bem equipada, mas está faltando informação. O Exército poderia ajudar com inteligência", diz Jarbas Passarinho, coronel da reserva, ex-ministro e ex-governador do Pará.
Para ele, "é uma piada" convocar tropas do Exército para vigiar presídios. "Eles não são treinados para essa função."
"O Exército não deve cumprir papel de polícia. Não está preparado. Ele pode ajudar por meio do serviço de inteligência, com recursos para transporte, com sistemas de comunicação e de logística", afirma Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública.
"É provocação pensar isso [Exército para ficar nos muros de presídios]. É como dizer: "não preciso de vocês". Acontece um incêndio e eu ponho você para tomar conta da casinha do cachorro", critica Soares.
"Não é para isso que eles são preparados", diz Paulo de Mesquita Neto, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, comentando, também, a possibilidade de ajuda em "funções administrativas". "Seria um desperdício. É mais útil ele combater tráfico nas fronteiras", completa ele, para quem a falta de respostas eficientes aos ataques do PCC não é um problema de contingente de policiais.
Karyna Sposato, diretora-executiva do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente, afirma que a presença do Exército só aumentaria a tensão nas ruas. "Seria uma medida puramente estética que aumentaria o clima de guerra."

Momento político
O momento político em São Paulo é um dos principais fatores citados por alguns especialistas para insuflar os ataques.
Ele abrange desde a proximidade das eleições até a situação transitória no comando do governo Estado, condições que deixariam as instituições mais frágeis, fortalecendo, por conseqüência, a ação do crime.
"Esses ataques, como em 2001, na megarrebelião, acontecem em um momento político específico. Nos dois casos houve uma ausência do governador. O vácuo no poder favorece esse tipo de ação", afirma Mesquita Neto, comparando a interinidade do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) há cinco anos, quando Mário Covas estava doente, à situação vivida por Cláudio Lembo (PFL).
O inglês Tim Cahill, pesquisador da Anistia Internacional sobre direitos humanos no Brasil, diz acreditar que acontecerão "mais e mais" ataques do crime organizado no país. "É resultado da ineficiência da Justiça criminal e da longa história da falta de planejamento e investimento na área." (ALENCAR IZIDORO E FABIO SCHIVARTCHE)

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Aceitar tropas seria atestado de incapacidade de SP, diz cientista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.