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Participação do Exército nas ruas é alvo de críticas
Tropas podem ajudar na crise com serviço de inteligência, segundo especialistas
Momento político em São Paulo, com transição
no governo paulista e
eleições, colabora para insuflar os ataques
DA REPORTAGEM LOCAL
A presença de tropas do
Exército nas ruas de São Paulo
é condenada por especialistas e
integrantes de alguns setores
representativos da sociedade
ouvidos pela reportagem.
Muitos avaliam inclusive que
essa medida poderia até agravar a tensão entre os habitantes, em vez de tranquilizá-los.
Isso não significa que as Forças Armadas não pudessem
ajudar no combate à crise
-mas de forma diferente da sugerida pelo secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro
Abreu Filho, para quem as tropas deveriam vigiar os muros
de presídios, ou da oferecida
pelo governo Lula, para quem
elas poderiam atuar nas ruas.
"Não tem cabimento. A polícia está bem equipada, mas está
faltando informação. O Exército poderia ajudar com inteligência", diz Jarbas Passarinho,
coronel da reserva, ex-ministro
e ex-governador do Pará.
Para ele, "é uma piada" convocar tropas do Exército para
vigiar presídios. "Eles não são
treinados para essa função."
"O Exército não deve cumprir papel de polícia. Não está
preparado. Ele pode ajudar por
meio do serviço de inteligência,
com recursos para transporte,
com sistemas de comunicação
e de logística", afirma Luiz
Eduardo Soares, ex-secretário
nacional de Segurança Pública.
"É provocação pensar isso
[Exército para ficar nos muros
de presídios]. É como dizer:
"não preciso de vocês". Acontece um incêndio e eu ponho você
para tomar conta da casinha do
cachorro", critica Soares.
"Não é para isso que eles são
preparados", diz Paulo de Mesquita Neto, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, comentando, também, a possibilidade de ajuda em "funções administrativas". "Seria um desperdício. É mais útil ele combater tráfico nas fronteiras", completa ele, para quem a falta de
respostas eficientes aos ataques do PCC não é um problema de contingente de policiais.
Karyna Sposato, diretora-executiva do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas
para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente, afirma que a presença do Exército
só aumentaria a tensão nas
ruas. "Seria uma medida puramente estética que aumentaria
o clima de guerra."
Momento político
O momento político em São
Paulo é um dos principais fatores citados por alguns especialistas para insuflar os ataques.
Ele abrange desde a proximidade das eleições até a situação
transitória no comando do governo Estado, condições que
deixariam as instituições mais
frágeis, fortalecendo, por conseqüência, a ação do crime.
"Esses ataques, como em
2001, na megarrebelião, acontecem em um momento político específico. Nos dois casos
houve uma ausência do governador. O vácuo no poder favorece esse tipo de ação", afirma
Mesquita Neto, comparando a
interinidade do ex-governador
Geraldo Alckmin (PSDB) há
cinco anos, quando Mário Covas estava doente, à situação vivida por Cláudio Lembo (PFL).
O inglês Tim Cahill, pesquisador da Anistia Internacional
sobre direitos humanos no Brasil, diz acreditar que acontecerão "mais e mais" ataques do
crime organizado no país. "É
resultado da ineficiência da
Justiça criminal e da longa história da falta de planejamento e
investimento na área."
(ALENCAR IZIDORO E FABIO SCHIVARTCHE)
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