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Aceitar tropas seria atestado de incapacidade de SP, diz cientista
UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
Ao ter sua autoridade questionada, o governo de São Paulo
perde a "guerra de atrito" com o
PCC e se vê em uma encruzilhada: ou aceita tropas federais
e confirma sua incapacidade de
conter os ataques ou as rejeita e
expõe a população a mais riscos. A análise é do cientista político Jorge Zaverucha, 50, doutor pela Universidade de Chicago e coordenador do Núcleo de
Estudos de Instituições Coercitivas da Universidade Federal
de Pernambuco.
FOLHA - Como o sr. vê o confronto
entre PCC e polícia em São Paulo?
JORGE ZAVERUCHA - O PCC está
numa "guerra de atrito" com o
governo de São Paulo com o intuito de enfraquecê-lo para poder negociar em condições
mais vantajosas. Essa "guerra"
danifica mais o Estado, que tem
sua autoridade questionada, do
que o PCC. Então, o PCC leva
vantagem. Prova disso é que já
se fala em trazer tropas federais, o que seria um atestado da
incapacidade do Estado para se
defender. E isso teria óbvios reflexos na candidatura Alckmin.
FOLHA - Deixar a população à mercê do PCC também não me parece
uma boa solução.
ZAVERUCHA - Exatamente. O governo está numa encruzilhada.
Terá de optar pelo melhor em
duas opções ruins.
FOLHA - A reincidência dos ataques
justifica a presença do Exército?
ZAVERUCHA - Não me parece
que a mera presença de tropas
ostensivas resolveria a questão.
FOLHA - Como a polícia do Estado
poderia impedir os ataques?
ZAVERUCHA - Primeiro, houve
um erro de diagnóstico ao dizer
que o PCC havia sido desarticulado. Segundo, a inteligência
policial/penitenciária tem sido
inepta quanto a desbaratar a logística que move o PCC. Terceiro, não tenho notícias de que as
fontes de financiamento do
PCC tenham sido minadas.
Quarto, não foi desarticulado o
processo de recrutamento do
PCC. A força ostensiva é condição necessária, mas não suficiente para enfrentar o PCC.
FOLHA - Vem ganhando corpo o
discurso que defende o endurecimento das ações policiais.
ZAVERUCHA - Se a idéia for sair
matando para mostrar serviço,
esse "endurecimento" é contraproducente: inocentes morrerão e o Estado perderá ainda
mais sua legitimidade. Mas, se
for autorização judicial para
maior agilidade na escuta telefônica, aumento do poder discricionário do agente policial
etc., tudo bem.
FOLHA - Não há o risco de que sejam retirados da população alguns
direitos em nome da segurança?
ZAVERUCHA - Em geral, no Brasil, as camadas mais pobres têm
seus direitos civis violados com
mais freqüência. A novidade
agora é que, em alguns casos,
todos foram atingidos.
Ao mesmo tempo, foi na periferia que a reação policial se
mostrou mais brutal. Desse
modo, também é atingida a população mais carente. Sob este
prisma, Estado e PCC são dois
lados da mesma moeda.
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