São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

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Aceitar tropas seria atestado de incapacidade de SP, diz cientista

UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS

Ao ter sua autoridade questionada, o governo de São Paulo perde a "guerra de atrito" com o PCC e se vê em uma encruzilhada: ou aceita tropas federais e confirma sua incapacidade de conter os ataques ou as rejeita e expõe a população a mais riscos. A análise é do cientista político Jorge Zaverucha, 50, doutor pela Universidade de Chicago e coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas da Universidade Federal de Pernambuco.

 

FOLHA - Como o sr. vê o confronto entre PCC e polícia em São Paulo?
JORGE ZAVERUCHA -
O PCC está numa "guerra de atrito" com o governo de São Paulo com o intuito de enfraquecê-lo para poder negociar em condições mais vantajosas. Essa "guerra" danifica mais o Estado, que tem sua autoridade questionada, do que o PCC. Então, o PCC leva vantagem. Prova disso é que já se fala em trazer tropas federais, o que seria um atestado da incapacidade do Estado para se defender. E isso teria óbvios reflexos na candidatura Alckmin.

FOLHA - Deixar a população à mercê do PCC também não me parece uma boa solução.
ZAVERUCHA -
Exatamente. O governo está numa encruzilhada. Terá de optar pelo melhor em duas opções ruins.

FOLHA - A reincidência dos ataques justifica a presença do Exército?
ZAVERUCHA -
Não me parece que a mera presença de tropas ostensivas resolveria a questão.

FOLHA - Como a polícia do Estado poderia impedir os ataques?
ZAVERUCHA -
Primeiro, houve um erro de diagnóstico ao dizer que o PCC havia sido desarticulado. Segundo, a inteligência policial/penitenciária tem sido inepta quanto a desbaratar a logística que move o PCC. Terceiro, não tenho notícias de que as fontes de financiamento do PCC tenham sido minadas. Quarto, não foi desarticulado o processo de recrutamento do PCC. A força ostensiva é condição necessária, mas não suficiente para enfrentar o PCC.

FOLHA - Vem ganhando corpo o discurso que defende o endurecimento das ações policiais.
ZAVERUCHA -
Se a idéia for sair matando para mostrar serviço, esse "endurecimento" é contraproducente: inocentes morrerão e o Estado perderá ainda mais sua legitimidade. Mas, se for autorização judicial para maior agilidade na escuta telefônica, aumento do poder discricionário do agente policial etc., tudo bem.

FOLHA - Não há o risco de que sejam retirados da população alguns direitos em nome da segurança?
ZAVERUCHA -
Em geral, no Brasil, as camadas mais pobres têm seus direitos civis violados com mais freqüência. A novidade agora é que, em alguns casos, todos foram atingidos.
Ao mesmo tempo, foi na periferia que a reação policial se mostrou mais brutal. Desse modo, também é atingida a população mais carente. Sob este prisma, Estado e PCC são dois lados da mesma moeda.


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