São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Rapaz detido em blitz da PM é encontrado morto

André Lima de Araújo, 19, desapareceu em maio do ano passado, em Guarulhos

Depois de 460 dias, família identificou corpo que havia sido enterrado como indigente em cemitério da cidade de Nazaré Paulista

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quadra L, ala 6, lote 11. Cemitério de Nazaré Paulista (56 km de SP). Foi nessa cova, onde estão enterrados outros cinco "indigentes", que os parentes do montador de brinquedos André Lima de Araújo, 19, o encontraram na segunda, depois de 460 dias de buscas em matagais, hospitais e necrotérios.
Araújo estava desaparecido desde a noite de 1º de maio de 2007, quando, ao lado do cunhado, foi parado em uma blitz da Polícia Militar na periferia de Guarulhos (Grande SP).
Conforme revelou a Folha 11 dias após o seu sumiço, naquela noite Araújo foi colocado em um carro do 31º Batalhão porque, durante a abordagem dos quatro PMs, omitiu o fato de que fora acusado de um furto seis meses antes.
Como, logo no início da abordagem, assumiu que tinha passagem policial, seu cunhado foi liberado, não sem antes tomar socos, tapas e pontapés, e acabou se tornando a principal testemunha do crime.
Quando foram abordados, Araújo e o cunhado, de 22 anos, voltavam a pé de um lugar onde haviam conseguido trabalho como montadores de brinquedos de parques de diversão.
Durante os mesmos 460 dias em que os familiares de Araújo tentaram encontrá-lo, a Corregedoria da PM investigou seu desaparecimento, mas nenhum policial chegou a ser afastado das ruas pelo crime.
Na investigação, o cunhado do rapaz disse ter reconhecido o soldado Alexandre Gonçalves, hoje no 44º Batalhão da PM, como um dos que colocaram Araújo no carro da polícia.
Após esse reconhecimento, o cunhado diz ter passado a sofrer ameaças, abandonou a família e foi viver no Nordeste.
O PM Gonçalves não foi localizado ontem pela reportagem. Até hoje, os outros três PMs que participaram da abordagem não foram identificados.
De acordo com documentos do delegado Luiz Carlos Ziliotti, da Polícia Civil de Nazaré, o corpo de Araújo foi achado três dias após o seu sumiço.
O rapaz estava caído em uma ribanceira, com cinco tiros na cabeça. Tinha um plástico na cabeça e estava seminu.
Desde 4 de maio de 2007, o corpo ficou à espera de identificação em uma geladeira do IML de Bragança Paulista (83 km de SP). Em 20 de junho deste ano, a juíza Fernanda Gonçalves Grabert autorizou o enterro. Antes, peritos colheram material biológico para o exame de DNA.
Antes mesmo desse exame, no entanto, a Polícia Civil cruzou dados do corpo achado em Nazaré e de boletins de ocorrência de desaparecidos e avisou a família de Araújo que alguém com as características dele estava morto.
A mãe o reconheceu por fotos. "Ficava batendo o mato com facão, mas meu coração de mãe nunca pressentiu que ele estava enterrado como indigente junto com outras cinco pessoas", disse Cisleir Lima de Araújo, 39. "A gente tem que confiar na polícia, não dá para ter pânico dela."


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