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Psicólogos dão apoio a pacientes com câncer
Ramo recente da psicologia trata o trauma do câncer na família e no paciente; especialistas divergem sobre o tema
"Só quem vence o estigma de morte ligado à doença e de loucura ligado à psicologia procura ajuda", diz psicooncologista
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Faz algum tempo que Lucas,
4, pele alva e grandes olheiras,
voltou a correr pela brinquedoteca do Centro Infantil Boldrini, em Campinas. Se agora ele
se pendura no pescoço da mãe,
Manoela Dualibe, 29, mostrando os dentes e ela não cai no
choro como no começo da leucemia, diz, é porque teve "muito suporte". Ele faz quimioterapia. E ela ainda conversa com a
psicooncologista que a "tirou
da depressão".
"Toda a família adoece com o
câncer", diz a presidente da Sociedade Brasileira de Psicooncologia, Elisa Perina. Ela diz
que o ramo recente da psicologia que trata os traumas do câncer permanece um mistério pela "quase inexistência em hospitais públicos". Há, sim, psicólogos nos centros oncológicos,
exigência do Ministério da Saúde, mas sem a especialização.
Especialistas divergem sobre o
tema (leia texto nesta página).
"Quando descobri a leucemia
do meu filho, em 2006, achei
que era a certidão de óbito", diz
Manoela, levada a contragosto
pela médica à psicooncologista.
Viu o filho aprender sobre as
"bolinhas do mal" e ganhar
uma boneca para dar injeções,
aceitando melhor o tratamento. "Mas quem precisava era
eu", diz, com o sotaque de São
Luís (MA), que ambos deixam a
cada dois meses para ir a Campinas. "Precisei de ajuda para
não passar tristeza para ele."
Depois de 20 anos tratando
pacientes com câncer, a psicoterapeuta Maria Margarida
Carvalho, 75, a Magui, diz que
pouco mudou desde então.
"Quando um psicooncologista procura o paciente, ainda ouve: "Não preciso de nada, não
sou louco, só tenho câncer"."
Hoje, ela atende pacientes no
sobrado com "cheiro de casa da
avó", no Pacaembu (região central de SP). "Só quem vence o
estigma de morte ligado à
doença e de loucura ligado à
psicologia procura ajuda."
Segundo Humberto Verona,
presidente do Conselho Federal de Psicologia, a "atenção ao
sujeito" é cabal para reduzir o
sofrimento. Com isso, diz,
"consegue-se um resultado
muito melhor no tratamento."
Mas, mesmo que não haja cura, "é preciso viver até o fim",
diz Magui. Ela fala de um paciente que chegou "desenganado", e que, cheio de planos, casou, comprou casa, escolheu a
mobília. Morreu meses depois
-mas viveu bem até o fim. "Às
vezes a pessoa está morrendo,
quer falar dos medos, mas a família, não. O companheiro da
morte é o psicooncologista."
Elisa Perina concorda. "Fora
de possibilidade de cura, o que
vale é a qualidade de vida", diz.
"Por que ir para o respirador na
UTI se ele viverá cinco dias?
Melhor estar cercado pela família." Como Katia (leia texto
ao lado), que superou a morte
iminente da filha realizando-lhe o último desejo -aproveitar bem sua presença.
Para quase todos
Edilaine Pimentel disse não.
Ela engoliu as lágrimas para enfrentar o câncer no mediastino
da filha, Ana, 15. Quando a psicóloga foi à UTI e perguntou o
que ela tinha, Ana disse: "Sei,
tenho câncer. Pode ser que eu
morra, mas pode ser que não".
Ambas aceitaram a doença
sem desespero, "pela fé em
Deus", diz Edilaine, evangélica
de fala pausada. "Acho importante a psicooncologia, mas a
gente não precisa." Nem vai
precisar, diz, mesmo tendo o
câncer voltado sem resposta à
quimioterapia. A última chance
é o transplante de medula.
"Tem sofrimento, mas tem vitória também", diz, sorrindo.
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