|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vítimas de choques com "treminhão" dobram na região de Ribeirão
Já são 16 mortes em acidentes evolvendo caminhões canavieiros, que, com excesso de peso, trafegam abaixo da velocidade mínima permitida nas estradas
VERIDIANA RIBEIRO
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Robson Lima, 26, Daniel
Francisco, 29, Rodrigo Antonio, 25, não tinham ligação com
a agroindústria até a safra deste
ano, quando perderam a vida
em acidentes diferentes envolvendo caminhões canavieiros
na região de Ribeirão Preto,
que fica a 314 km de São Paulo.
Alguns desses veículos puxam até três carretas. São conhecidos como "treminhões".
A morte dos três jovens engrossa uma estatística que teve
forte alta neste ano, segundo a
Polícia Militar Rodoviária.
Desde o início da safra, em 1º
de maio, 16 pessoas morreram
em estradas da região em acidentes envolvendo veículos
que levam cana de lavouras para usinas, onde o produto é
transformado em açúcar ou álcool. Nenhuma das vítimas era
motorista dos caminhões.
Mesmo com só três meses de
safra, as mortes representam
quase o dobro do número de vítimas nesse tipo de acidente
durante todo o ano passado.
Uma das explicações para as
mortes, na opinião de sindicatos, especialistas e Ministério
Público do Trabalho, está no fato de as usinas aplicarem no
transporte a mesma lógica que
rege o trabalho nas lavouras.
Assim como os boias-frias
são pagos pela tonelada de cana
cortada, os transportadores
terceirizados, que representam
metade dos 10 mil caminhoneiros que abastecem a indústria
na região, recebem por peso.
Para ganhar mais, os terceirizados transportam até o dobro
de carga do que é permitido pela legislação e trabalham, em
média, 12 horas por dia, a maioria sem folga durante a safra,
segundo 30 motoristas e quatro
sindicatos ouvidos pela Folha.
Para os sindicatos que representam a categoria, falta fiscalização. "Falta o Ministério Público do Trabalho ficar mais em
cima. Com os contratados das
usinas, houve fiscalização e a
situação melhorou, aí a jornada
foi reduzida para 8h. Foi quando começou a onda de terceirização desenfreada para as usinas escaparem da fiscalização",
disse Fábio Miguel Luchi, presidente do Sindicato dos caminhoneiros de cana de Guariba.
O Ministério Público do Trabalho admite que centrou a fiscalização no corte da cana. "A
prioridade eram as lavouras.
Mas devo entrar com ação na
Justiça para obrigar empresas
a cobrar redução de jornada
dos terceirizados", afirmou
Charles Lustosa Silvestre, procurador do Ministério Público
do Trabalho em Ribeirão Preto, que tem cinco inquéritos
abertos por excesso de jornada.
A prática de transportar
mais cana para ganhar melhor
leva o caminhoneiro a cometer
uma segunda irregularidade,
dirigir com velocidade inferior
à metade da velocidade máxima permitida nas pistas. Em
trechos de subida, a velocidade
máxima de um veículo canavieiro é de 25 km/h, quando
deveria ser de 40 km/ h.
"É por isso que muitos acidentes ocorrem por colisões
traseiras. À distância, o motorista não consegue avaliar a
que velocidade está o caminhão. Quando ele percebe [a
lentidão], já está muito próximo e não consegue frear", afirma Coca Ferraz Ferraz, doutor
em transportes e professor titular da USP de São Carlos.
Segundo Luiz Eduardo Ulian
Junqueira, tenente e comandante interino da 4ª Companhia de Policiamento Rodoviário de Ribeirão, não há como
fiscalizar e punir motoristas
que andam abaixo da velocidade mínima exigida nas rodovias
porque o radar que registra o
excesso de velocidade não consegue aferir baixa velocidade.
Texto Anterior: Projeto obriga empresa a criar grupo para defender mulher Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Complexo de pai abandonado Índice
|