São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Vítimas de choques com "treminhão" dobram na região de Ribeirão

Já são 16 mortes em acidentes evolvendo caminhões canavieiros, que, com excesso de peso, trafegam abaixo da velocidade mínima permitida nas estradas

VERIDIANA RIBEIRO
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

Robson Lima, 26, Daniel Francisco, 29, Rodrigo Antonio, 25, não tinham ligação com a agroindústria até a safra deste ano, quando perderam a vida em acidentes diferentes envolvendo caminhões canavieiros na região de Ribeirão Preto, que fica a 314 km de São Paulo.
Alguns desses veículos puxam até três carretas. São conhecidos como "treminhões".
A morte dos três jovens engrossa uma estatística que teve forte alta neste ano, segundo a Polícia Militar Rodoviária.
Desde o início da safra, em 1º de maio, 16 pessoas morreram em estradas da região em acidentes envolvendo veículos que levam cana de lavouras para usinas, onde o produto é transformado em açúcar ou álcool. Nenhuma das vítimas era motorista dos caminhões.
Mesmo com só três meses de safra, as mortes representam quase o dobro do número de vítimas nesse tipo de acidente durante todo o ano passado.
Uma das explicações para as mortes, na opinião de sindicatos, especialistas e Ministério Público do Trabalho, está no fato de as usinas aplicarem no transporte a mesma lógica que rege o trabalho nas lavouras.
Assim como os boias-frias são pagos pela tonelada de cana cortada, os transportadores terceirizados, que representam metade dos 10 mil caminhoneiros que abastecem a indústria na região, recebem por peso.
Para ganhar mais, os terceirizados transportam até o dobro de carga do que é permitido pela legislação e trabalham, em média, 12 horas por dia, a maioria sem folga durante a safra, segundo 30 motoristas e quatro sindicatos ouvidos pela Folha.
Para os sindicatos que representam a categoria, falta fiscalização. "Falta o Ministério Público do Trabalho ficar mais em cima. Com os contratados das usinas, houve fiscalização e a situação melhorou, aí a jornada foi reduzida para 8h. Foi quando começou a onda de terceirização desenfreada para as usinas escaparem da fiscalização", disse Fábio Miguel Luchi, presidente do Sindicato dos caminhoneiros de cana de Guariba.
O Ministério Público do Trabalho admite que centrou a fiscalização no corte da cana. "A prioridade eram as lavouras. Mas devo entrar com ação na Justiça para obrigar empresas a cobrar redução de jornada dos terceirizados", afirmou Charles Lustosa Silvestre, procurador do Ministério Público do Trabalho em Ribeirão Preto, que tem cinco inquéritos abertos por excesso de jornada.
A prática de transportar mais cana para ganhar melhor leva o caminhoneiro a cometer uma segunda irregularidade, dirigir com velocidade inferior à metade da velocidade máxima permitida nas pistas. Em trechos de subida, a velocidade máxima de um veículo canavieiro é de 25 km/h, quando deveria ser de 40 km/ h.
"É por isso que muitos acidentes ocorrem por colisões traseiras. À distância, o motorista não consegue avaliar a que velocidade está o caminhão. Quando ele percebe [a lentidão], já está muito próximo e não consegue frear", afirma Coca Ferraz Ferraz, doutor em transportes e professor titular da USP de São Carlos.
Segundo Luiz Eduardo Ulian Junqueira, tenente e comandante interino da 4ª Companhia de Policiamento Rodoviário de Ribeirão, não há como fiscalizar e punir motoristas que andam abaixo da velocidade mínima exigida nas rodovias porque o radar que registra o excesso de velocidade não consegue aferir baixa velocidade.


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