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Projeto obriga empresa a criar grupo para defender mulher
Ideia é combater discriminação de gênero na questão salarial e em cargos de chefia
Governo federal apresentará substitutivo a projeto que já tramita na Câmara; comissão terá de ser criada somente em companhias médias e grandes
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal produziu
um projeto de lei que obriga
empresas médias e grandes a
criar uma comissão interna para fiscalizar se mulheres são
discriminadas na questão de
salário e cargos de chefia.
A ideia é que funcionários
eleitos e representantes do empregador tenham acesso a salários, comparem a presença dos
dois sexos em posições de chefia e recebam denúncias de assédio sexual. Casos de discriminação deverão ser repassados
aos órgãos competentes.
A comissão terá de elaborar
um plano para enfrentar desigualdades e avaliar o cumprimento de compromissos.
Dados do Dieese mostram
que mulheres ganham menos
do que os homens. Entre 1998 e
2008, o assalariado teve rendimento médio real entre 20% e
30% maior que a assalariada na
região metropolitana de São
Paulo. "A mulher sempre ganhou menos, em grande parte o
motivo é a discriminação", diz
Patrícia Lino Costa, economista do Dieese. "O mando ainda é
muito masculino", afirma.
O predomínio masculino foi
constatado por algumas empresas. Em 2006, a Caixa Econômica Federal viu que tinha
percentual de funcionárias
próximo do percentual de mulheres em gerências em relação
aos homens, situação que poderia parecer proporcional.
Fez, então, análise detalhada
e percebeu que o número de
mulheres em gerências estratégicas não passava de 18%.
"Quando a gente pôs esse olhar
é que percebemos. São pessoas
que definem ações, é aí que a
gente precisa atuar", diz Laura
Macedo, da gerência de responsabilidade social empresarial.
Hoje o índice de mulheres em
gerências estratégicas é de 21%.
A Caixa é uma das empresas
que aderiram ao programa voluntário Pró-Equidade de Gênero da Secretaria de Políticas
para as Mulheres, que oferece
selo de qualidade a empresas
que reduzirem disparidades.
Integra o plano a Fersol, empresa com 250 colaboradores.
No ano passado, 70% dos cargos de chefia eram de homens.
Hoje, está meio a meio.
Também decidiu aderir o
Banco do Brasil, que até 1969
não tinha nenhuma mulher como funcionária, segundo
Amauri Niehues, o diretor de
gestão de pessoal do banco.
O BB tem hoje 62% de homens, percentual que é maior
quanto mais elevado é o cargo.
Gerências de bancos ficam sob
a responsabilidade de 20% de
mulheres. "Nosso objetivo é
chegar a uma proporcionalidade que seja justa", diz Niehues.
Há uma comissão responsável por coordenar o programa
de equidade de gênero no banco, espaço semelhante ao que o
novo projeto pretende criar.
A proposta deve ser apresentada como substitutivo a um
projeto que tramita na Câmara.
Ficam incluídas empresas privadas -as públicas podem ser
objeto de decreto no futuro-,
que podem ser punidas se não
formarem os comitês. A punição ainda não está definida.
"A diferença é naturalizada e
não aparece. Precisamos de
uma política para fazê-la aparecer", diz Pedro Abramovay, secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça.
O passo é positivo por ser
educativo, mas não mudará o
preconceito de gênero nas empresas, diz Eneida Dultra, do
Cfemea, ONG que atua para garantir cidadania às mulheres.
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