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Associação de docentes vê processo de "privatização"
DA REPORTAGEM LOCAL
Ciro Teixeira Correia, presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP) e professor do Instituto de Geociências, diz ser contra a proposta de regulamentação
das fundações que o Conselho
Universitário quis votar no último dia 4.
Para ele, ao contrário de aumentar o controle público sobre
as entidades, o texto concentra no
reitor o poder de decidir sobre a
ação delas dentro da USP.
Correia vê na proposta de regulamentação "a continuidade do
processo de privatização" do ensino público superior.
Leia a seguir os principais trechos de entrevista concedida à
Folha:
DISCUSSÃO - Hoje há uma série
de fundações que têm desenvolvido atividades dentro da universidade se valendo da infra-estrutura e do corpo docente sem que a
USP tenha discutido se isso é adequado ou não. Nós entendemos
que essas questões não estão devidamente discutidas.
REGULAMENTAÇÃO - Fomos contrários à votação de uma nova minuta [adiada na última terça-feira
para a próxima gestão" porque há
uma resolução em vigor que tenta
normatizar [as fundações", e a
proposta que estava em pauta, no
nosso entendimento, ao contrário
de aumentar o controle da universidade, concentra na mão do
reitor o poder de decidir quando a
universidade deve aceitar uma
entidade como fundação de
apoio.
A minuta [da regulamentação"
propõe um cadastro das fundações, e as que estiverem no cadastro poderão desenvolver projetos
e administrar cursos. Para estar
no cadastro, dependem de ato do
reitor, ouvidas comissões do conselho. Ela atribui o poder exclusivamente à figura do reitor. Isso é
inadequado. Estamos diminuindo o controle.
PROFESSORES - Eventualmente
existem professores que estejam
se beneficiando de complementação salarial, por exemplo. Não tenho números sobre isso.
Esses dados não são apresentados pela USP. É responsabilidade
da universidade dizer quantos
docentes estão trabalhando nas
fundações, qual o regime de trabalho desses docentes, quanto
eles recebem.
Mas a questão é como a sociedade vê isso. Será que uma universidade pública deve colocar parte
do corpo docente e da infra-estrutura a serviço de interesses vinculados a fundações privadas?
PRIVATIZAÇÃO - A eventual
aprovação da minuta, para mim,
é a continuidade de uma privatização da universidade.
A Constituição brasileira estabelece que o ensino nas instituições públicas superiores deve ser
gratuito. E, para contornar isso,
têm-se criado cursos de extensão
universitária, pós-graduação lato
sensu, cursos vinculados às fundações que são pagos. Isso é prejudicial para a universidade, para
a sociedade e para os estudantes.
Esse tipo de ação cria uma privatização, porque pega uma parte
da capacidade intelectual, através
do corpo docente, e da infra-estrutura operacional da universidade, que, por definição, deve ser
destinada a toda a sociedade.
O acesso deve ser garantido de
forma equânime a todos, e você
começa a destinar parte do sistema a uma parcela da sociedade
que tem poder para pagar por ele.
RECURSOS - Há uma linha de argumentação aqui [na USP" que
diz que a instituição universitária
não consegue hoje viver sem as
fundações. Isso não se sustenta.
Embora o volume de recursos
que passe pelas fundações seja
grande, a parcela que é revertida
para a universidade é pequena.
O orçamento da USP é de R$ 1,1
bilhão. O dinheiro das fundações
que é repassado significa 1,5%
disso. A universidade não depende disso.
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