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Trabalhadores condenam opção por crime
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O gari Luiz Carlos Almeida, 39,
sai de casa todos os dias às 4h30
para trabalhar. Uma hora e meia
de trem e ônibus (lotados) separam sua casa, em Mauá, na periferia da Grande São Paulo, da praça
da Sé, seu ponto de varrição. No
fim do mês, ele leva para casa R$
280 "limpos". Para ele, o sofrimento que Fernando Dutra Pinto
impôs à família do empresário
Silvio Santos "não tem perdão".
"Se todo pobre sair matando e
sequestrando os outros por ai, já
pensou o que vai ser do Brasil"?
pergunta o pedreiro desempregado José Miguel da Silva Filho, 47,
morador da Vila Matilde (zona
leste), periferia de São Paulo.
Nos dias 5 e 6, a Folha ouviu 13
trabalhadores de nove regiões diferentes da capital e da Grande
São Paulo. A maioria das entrevistas foi feita depois que a namorada de Fernando, Luciana dos Santos Souza, a Jenifer, disse diante
das câmeras de TV que o dinheiro
do sequestro seria destinado à
compra de cestas básicas.
"Ah, moça, coração dos outros é
terra que ninguém vai. Mas eu arrisco dizer que essa Jenifer está
mentindo", disse o desempregado José da Silva, 43, que faz bico
para estúdios de fotografia 3x4
em frente ao Poupatempo da praça Alfredo Issa, no centro.
Dos 13 entrevistados, 12 condenaram a atitude de Fernando Dutra Pinto. Todos o consideraram
"ousado", mas ninguém disse que
o sequestrador é inteligente.
"Se ele fosse inteligente, não teria sido preso nem o dinheiro devolvido", diz o ajudante de padeiro Luiz José da Silva, 45.
Outros, como o gari Daniel
Franco da Silva, 34, disseram que
"quem é inteligente não comete
crime, arruma trabalho".
Os entrevistados, especialmente
os desempregados, não aprovam
a idéia da vida marginal dos bandidos que os impede de "entrar e
sair dos lugares de cabeça erguida" e faz com que eles "tragam
vergonha" para a família.
"A pessoa que comete um crime
perde a dignidade", diz o faxineiro José Mineiro da Silva, 48.
"A gente se lasca por aí, mas
mantém a cabeça erguida", disse
seu José da fotografia, aquele que
passa oito horas por dia em pé em
frente ao Poupatempo tentando
atrair clientes para os estúdios.
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