São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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Para o Procon, programa tem de ser obrigatório

Remédios fracionados não são do interesse da indústria farmacêutica, afirmam órgãos de defesa do consumidor

Grandes redes de farmácia e drogaria não vendem o produto; órgãos públicos também não souberam informar onde comprar

DA REPORTAGEM LOCAL

Para os órgãos de defesa do consumidor, o programa do remédio fracionado só sairá do papel quando se tornar obrigatório no país. "Tanto a indústria farmacêutica quanto as farmácias estão lucrando com o sistema vigente hoje e não vão mudar de atitude a menos que sejam obrigadas", afirma o sanitarista Sesifredo Paz, consultor do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
O risco dessa medida é as empresas repassarem para o consumidor o ônus das mudanças que dizem ser necessárias para o fracionamento, avalia a técnica do Procon Renata Molina.
"Se isso acontecer, a vantagem econômica do fracionamento deixa de existir", afirma. De acordo com Molina, a atual falta de obrigatoriedade do fracionamento impossibilita ações dos órgãos em prol dos consumidores.
Paz e Molina defendem a realização de uma ampla campanha de conscientização da população e dos médicos sobre a política de fracionamento. "O consumidor não está cobrando porque nem sabe que o fracionamento existe", afirma Paz.

Não encontra
O consumidor interessado em obter medicamentos fracionados dificilmente conseguirá saber onde comprar o produto. A Folha procurou seis das maiores redes de farmácias e drogarias do país -Droga Raia, Drogaria São Paulo, Drogasil, Farmais, Onofre e Drogão-, e a resposta foi unânime: não se trabalha com fracionados.
O Drogão, por exemplo, diz que "aguarda melhor definição e regulamentação do sistema". As redes afirmam que não há procura e que a medida "não decolou".

Consumidores
A reportagem tentou, como um consumidor comum, descobrir com órgãos públicos onde seria possível encontrar determinado remédio fracionado.
No site da Anvisa, uma página especial sobre remédios fracionados diz: "Agora, as farmácias e as drogarias de todo o Brasil poderão oferecer os remédios que seu médico recomendou na forma fracionada". Ali está o telefone do Disque Saúde. O serviço, porém, não soube dizer em quais farmácias poderia ser encontrado o tal medicamento.
Foi dado, então, o número do Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo. Também não foi possível obter a informação. Encaminhada para a Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde da prefeitura), a reportagem falou com quatro diferentes pessoas, em diferentes áreas, que não puderam dizer onde se encontraria um medicamento fracionado.
De volta ao interlocutor de origem da coordenadoria, a procura chegou ao fim: "Não sei te informar. E não sei mais para onde poderia te passar".
(CLÁUDIA COLLUCCI E CONSTANÇA TATSCH)


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