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Polícia impede contato com "maníaco", diz defensoria
Confissões de homicídios em série ocorreram sem a presença de advogado ou defensor
Defensor não descarta que tenha havido tortura; delegado diz que confissões foram espontâneas e sem "nenhum tipo de pressão"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
MARLENE BERGAMO
REPÓRTER FOTOGRÁFICA
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Doze dias depois de ser preso
em flagrante e de, segundo a
polícia, ter confessado entre 18
e 50 assassinatos, Leandro Basílio Rodrigues, 19, ainda não
teve contato físico com nenhum advogado ou defensor
público. Nenhum advogado
acompanhou o rapaz quando os
investigadores levaram-no aos
locais em que ele, supostamente, descreveu como matou, estuprou e roubou. Nenhum
acompanhou-o em depoimentos. Nunca ninguém da Defensoria Pública conseguiu nem
sequer ver o jovem.
"Não descarto a hipótese de
Leandro estar sendo torturado
para confessar crimes em série,
se é que confessou alguma coisa", disse Luiz Eduardo de Toledo Coelho, 27, coordenador
da regional de Guarulhos da
Defensoria Pública do Estado.
"Aqueles três rapazes não foram torturados para confessar
o assassinato de Vanessa Batista de Freitas [em agosto de
2006]? Por que agora não poderia estar acontecendo a mesma coisa com o rapaz que está
assumindo a culpa pela morte
dela? [refere-se a Leandro]"
O delegado Jackson Cesar
Batista afirma que as confissões de Leandro foram feitas de
forma espontânea e "sem nenhum tipo de pressão".
De acordo com Toledo Coelho, desde a prisão do rapaz que
a polícia alcunhou de "maníaco
de Guarulhos", a defensoria
tenta contato. "Eu mesmo fui
duas vezes ao 1º DP. Uma vez
me disseram que ele estava "em
diligência", da outra vez, disseram-me que estava na Delegacia da Mulher. Também tentei
obter informações por telefone. Não consegui nada."
Na sexta-feira passada, Toledo Coelho apelou para o juiz
corregedor dos presídios. Ainda não teve sucesso.
Segundo a polícia, ao ser preso, às 2h do dia 27 de agosto,
quando passava em frente a um
posto da PM perto do centro de
Guarulhos, Leandro confessou
ter matado e violentado mais
de 50 mulheres. Por essa versão, ele levou os policiais até
onde acabara de matar e violentar Gisele de Souza, 25. No
mesmo ato, teria assumido o
assassinato de Aline da Rocha,
21, cujo corpo fora encontrado
na véspera em um terreno baldio. Daí para a frente, diria ser o
responsável pelas mortes de
Juliana, Viviane, Keliane, Vanessa. Tudo segundo a polícia.
O delegado William Grande,
do 1º DP de Guarulhos, diz que
a Defensoria Pública só o procurou uma vez, por telefone.
"Perguntaram se o Leandro estava aqui e respondi que estava,
mas que só pernoitava no DP,
porque durante o dia ele saía
em diligência com o pessoal da
delegacia de homicídios."
Indagado se não era prejudicial ao inquérito que o rapaz tenha confessado os crimes na
presença exclusiva de policiais,
ele respondeu: "Isso não é problema seu nem meu. Se uma
pessoa não está aqui, não dá para falar com ela, certo?"
A lei 11.449/2007 determina
o máximo de 24 horas para que
a autoridade policial comunique a prisão em flagrante ao
juiz, com cópia para a defensoria, o que chegou a ser feito.
Segundo a presidente da
ONG Instituto de Defesa do Direito de Defesa, Flávia Rahal, a
ausência de um defensor na fase do inquérito torna "questionáveis" as confissões obtidas.
"É um absurdo, ainda mais em
um crime com essa repercussão, em que até já se criou a figura do monstro, do "maníaco",
que a Defensoria Pública não
tenha tido acesso ao Leandro."
O promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, que pediu a
condenação e depois a libertação dos três jovens que primeiro foram acusados de matar Vanessa, considera "incongruente" a confissão de Leandro. "É
incongruente com o que tem no
laudo, porque ele nega que a
agrediu sexualmente, e a menina foi brutalmente violentada.
A polícia vai ter que criar provas contra o "maníaco". Ela não
tem nada. Dois anos depois, o
que tem? Só confissão."
A polícia diz ter provas sólidas que indicam Leandro como
assassino de Vanessa. Ontem, a
Promotoria informou que pedirá o exame de sanidade mental de Leandro e que o denunciará à Justiça pela morte de
Gisele. "Até agora, só há evidências do envolvimento de
Leandro neste crime", disse o
promotor José Barbutto.
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