São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Polícia impede contato com "maníaco", diz defensoria

Confissões de homicídios em série ocorreram sem a presença de advogado ou defensor

Defensor não descarta que tenha havido tortura; delegado diz que confissões foram espontâneas e sem "nenhum tipo de pressão"


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARLENE BERGAMO
REPÓRTER FOTOGRÁFICA

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Doze dias depois de ser preso em flagrante e de, segundo a polícia, ter confessado entre 18 e 50 assassinatos, Leandro Basílio Rodrigues, 19, ainda não teve contato físico com nenhum advogado ou defensor público. Nenhum advogado acompanhou o rapaz quando os investigadores levaram-no aos locais em que ele, supostamente, descreveu como matou, estuprou e roubou. Nenhum acompanhou-o em depoimentos. Nunca ninguém da Defensoria Pública conseguiu nem sequer ver o jovem.
"Não descarto a hipótese de Leandro estar sendo torturado para confessar crimes em série, se é que confessou alguma coisa", disse Luiz Eduardo de Toledo Coelho, 27, coordenador da regional de Guarulhos da Defensoria Pública do Estado. "Aqueles três rapazes não foram torturados para confessar o assassinato de Vanessa Batista de Freitas [em agosto de 2006]? Por que agora não poderia estar acontecendo a mesma coisa com o rapaz que está assumindo a culpa pela morte dela? [refere-se a Leandro]"
O delegado Jackson Cesar Batista afirma que as confissões de Leandro foram feitas de forma espontânea e "sem nenhum tipo de pressão".
De acordo com Toledo Coelho, desde a prisão do rapaz que a polícia alcunhou de "maníaco de Guarulhos", a defensoria tenta contato. "Eu mesmo fui duas vezes ao 1º DP. Uma vez me disseram que ele estava "em diligência", da outra vez, disseram-me que estava na Delegacia da Mulher. Também tentei obter informações por telefone. Não consegui nada."
Na sexta-feira passada, Toledo Coelho apelou para o juiz corregedor dos presídios. Ainda não teve sucesso.
Segundo a polícia, ao ser preso, às 2h do dia 27 de agosto, quando passava em frente a um posto da PM perto do centro de Guarulhos, Leandro confessou ter matado e violentado mais de 50 mulheres. Por essa versão, ele levou os policiais até onde acabara de matar e violentar Gisele de Souza, 25. No mesmo ato, teria assumido o assassinato de Aline da Rocha, 21, cujo corpo fora encontrado na véspera em um terreno baldio. Daí para a frente, diria ser o responsável pelas mortes de Juliana, Viviane, Keliane, Vanessa. Tudo segundo a polícia.
O delegado William Grande, do 1º DP de Guarulhos, diz que a Defensoria Pública só o procurou uma vez, por telefone. "Perguntaram se o Leandro estava aqui e respondi que estava, mas que só pernoitava no DP, porque durante o dia ele saía em diligência com o pessoal da delegacia de homicídios."
Indagado se não era prejudicial ao inquérito que o rapaz tenha confessado os crimes na presença exclusiva de policiais, ele respondeu: "Isso não é problema seu nem meu. Se uma pessoa não está aqui, não dá para falar com ela, certo?"
A lei 11.449/2007 determina o máximo de 24 horas para que a autoridade policial comunique a prisão em flagrante ao juiz, com cópia para a defensoria, o que chegou a ser feito.
Segundo a presidente da ONG Instituto de Defesa do Direito de Defesa, Flávia Rahal, a ausência de um defensor na fase do inquérito torna "questionáveis" as confissões obtidas. "É um absurdo, ainda mais em um crime com essa repercussão, em que até já se criou a figura do monstro, do "maníaco", que a Defensoria Pública não tenha tido acesso ao Leandro."
O promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, que pediu a condenação e depois a libertação dos três jovens que primeiro foram acusados de matar Vanessa, considera "incongruente" a confissão de Leandro. "É incongruente com o que tem no laudo, porque ele nega que a agrediu sexualmente, e a menina foi brutalmente violentada. A polícia vai ter que criar provas contra o "maníaco". Ela não tem nada. Dois anos depois, o que tem? Só confissão."
A polícia diz ter provas sólidas que indicam Leandro como assassino de Vanessa. Ontem, a Promotoria informou que pedirá o exame de sanidade mental de Leandro e que o denunciará à Justiça pela morte de Gisele. "Até agora, só há evidências do envolvimento de Leandro neste crime", disse o promotor José Barbutto.


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