São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Irmã foi demitida após prisão; mãe não teve coragem de vê-lo

DA REPORTAGEM LOCAL

"Mãe! A Luiza entrou no esgoto!" A irmã de Leandro Basílio Rodrigues, acusado de ser o "maníaco de Guarulhos", Jaqueline Rodrigues, interrompe a conversa com a Folha para ver o que aconteceu com a filha. "Nada não, é só uma mania da menina -ela vive entrando naquele buraco." Luiza, 4, volta com uma casca de caranguejo na boca. "Onde você achou isso? Tira da boca. Como ela achou esse bicho?"
Jaqueline é uma mãe delicada com as crianças. Vizinhos na favela do Parque Industrial dizem que também era delicado o irmão dela, antes apelidado de "Cofrinho", por causa do bermudão sempre arriado na cintura, agora conhecido como "maníaco de Guarulhos".
Confusos, os familiares de Leandro não sabem o que pensar do noticiário. "Está saindo tanta coisa na TV, e dizem que ele está confessando", diz Ana Lúcia Rodrigues, 52, mãe de Leandro e de mais oito filhos, dos quais só três sobreviveram. "Foi a gripe, a pneumonia, essas doenças, que levaram as minhas crianças."
Ana Lúcia vive à custa de faxinas e bicos como cozinheira. O barraco em que mora tem TV? "Tem." Tem geladeira? "Tem." Tem máquina de lavar? "Tem. Sou eu mesma", diz ela, que também é a lavadeira da favela. Uma vizinha pagou-lhe R$ 5 para ela dar conta da roupa de seis filhos.
Ana Lúcia não tem coragem de defender o filho. Até agora não foi vê-lo. A irmã de Jaqueline, que não quis dizer o nome, já foi demitida pela patroa que mora no centro de Guarulhos.
Quando bate o desespero, a mãe sai andando sem rumo pela favela com esgoto correndo em canaletas abertas. Nessas andanças já caiu três vezes (ela sofre de pressão alta). Sem dinheiro para advogado, acredita no Estado: "Vão arranjar um advogado para ele".
Na favela, até tem vizinho que confirma à TV que Leandro é o que dizem. Uma mulher diz que "já desconfiava de que ele era maníaco". Mas é a TV ir embora e o pessoal que duvida começa a aparecer. Os vizinhos próximos não acreditam, a mãe do filho dele, B., não acredita, a dona do bar não acredita, a dona do lava-rápido onde ele trabalhou também não. A inspetora da escola, a professora, ninguém acredita. Mas isso se fala à boca pequena.
O menino que, lembra a inspetora da escola, era um garoto saudável, "com umas notinhas ruins, mas que adorava educação física e que vivia abraçado na gente, de tão carente" virou doença contagiosa.
Único filho homem de Ana Lúcia, Leandro foi mimado pela mãe, diz a irmã. Na adolescência, foi viver com o pai em Belo Horizonte. Lá, foi acusado de, em 2006, então com 17 anos, ter matado a namorada e incendiado o corpo. Condenado a cumprir medida socioeducativa de internação por tempo indeterminado, fugiu.
Ana Lúcia e Jaqueline foram procuradas por assistentes sociais que as levaram para visitá-lo sob a orientação de que nada perguntassem. "Diziam que não seria bom falar do assunto para não deixá-lo nervoso", lembra Jaqueline.
Ana Lúcia fala de Leandro com expressão triste. Não lembra até que ano ele cursou (foi até a 6ª série) e só fala que ele era um menino "que respeitava todo mundo" e que, mesmo sendo usuário de crack, nunca levou droga para casa.
No dia 26 de agosto, ela saiu às 6h da manhã em busca de uma clínica de recuperação para Leandro. O rapaz havia lhe deixado um bilhete com imprecisas indicações, em letra de criança: "Casa de recuperação Casa de Meu Pai.....Av Ipiranga em frente ao Extra. Quando a senhora ver (sic) as pessoas vestida (sic) de branco no sinal, pergunta na onde (sic) fica a casa." E em letras garrafais: "Te amo eternamente". Ana não encontrou o endereço.
No mesmo dia, à noite, policiais procuraram-na em casa atrás de informações sobre Leandro. Ela não sabia onde ele estava. Entregou aos policiais uma foto do filho que, horas depois, seria preso. (LC e MB)


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