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Irmã foi demitida após prisão; mãe não teve coragem de vê-lo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Mãe! A Luiza entrou no esgoto!" A irmã de Leandro Basílio Rodrigues, acusado de ser o
"maníaco de Guarulhos", Jaqueline Rodrigues, interrompe
a conversa com a Folha para
ver o que aconteceu com a filha. "Nada não, é só uma mania
da menina -ela vive entrando
naquele buraco." Luiza, 4, volta
com uma casca de caranguejo
na boca. "Onde você achou isso? Tira da boca. Como ela
achou esse bicho?"
Jaqueline é uma mãe delicada com as crianças. Vizinhos na
favela do Parque Industrial dizem que também era delicado
o irmão dela, antes apelidado
de "Cofrinho", por causa do
bermudão sempre arriado na
cintura, agora conhecido como
"maníaco de Guarulhos".
Confusos, os familiares de
Leandro não sabem o que pensar do noticiário. "Está saindo
tanta coisa na TV, e dizem que
ele está confessando", diz Ana
Lúcia Rodrigues, 52, mãe de
Leandro e de mais oito filhos,
dos quais só três sobreviveram.
"Foi a gripe, a pneumonia, essas doenças, que levaram as
minhas crianças."
Ana Lúcia vive à custa de faxinas e bicos como cozinheira.
O barraco em que mora tem
TV? "Tem." Tem geladeira?
"Tem." Tem máquina de lavar?
"Tem. Sou eu mesma", diz ela,
que também é a lavadeira da favela. Uma vizinha pagou-lhe
R$ 5 para ela dar conta da roupa de seis filhos.
Ana Lúcia não tem coragem
de defender o filho. Até agora
não foi vê-lo. A irmã de Jaqueline, que não quis dizer o nome,
já foi demitida pela patroa que
mora no centro de Guarulhos.
Quando bate o desespero, a
mãe sai andando sem rumo pela favela com esgoto correndo
em canaletas abertas. Nessas
andanças já caiu três vezes (ela
sofre de pressão alta). Sem dinheiro para advogado, acredita
no Estado: "Vão arranjar um
advogado para ele".
Na favela, até tem vizinho
que confirma à TV que Leandro é o que dizem. Uma mulher
diz que "já desconfiava de que
ele era maníaco". Mas é a TV ir
embora e o pessoal que duvida
começa a aparecer. Os vizinhos
próximos não acreditam, a mãe
do filho dele, B., não acredita, a
dona do bar não acredita, a dona do lava-rápido onde ele trabalhou também não. A inspetora da escola, a professora, ninguém acredita. Mas isso se fala
à boca pequena.
O menino que, lembra a inspetora da escola, era um garoto
saudável, "com umas notinhas
ruins, mas que adorava educação física e que vivia abraçado
na gente, de tão carente" virou
doença contagiosa.
Único filho homem de Ana
Lúcia, Leandro foi mimado pela mãe, diz a irmã. Na adolescência, foi viver com o pai em
Belo Horizonte. Lá, foi acusado
de, em 2006, então com 17
anos, ter matado a namorada e
incendiado o corpo. Condenado a cumprir medida socioeducativa de internação por tempo
indeterminado, fugiu.
Ana Lúcia e Jaqueline foram
procuradas por assistentes sociais que as levaram para visitá-lo sob a orientação de que nada
perguntassem. "Diziam que
não seria bom falar do assunto
para não deixá-lo nervoso",
lembra Jaqueline.
Ana Lúcia fala de Leandro
com expressão triste. Não lembra até que ano ele cursou (foi
até a 6ª série) e só fala que ele
era um menino "que respeitava
todo mundo" e que, mesmo
sendo usuário de crack, nunca
levou droga para casa.
No dia 26 de agosto, ela saiu
às 6h da manhã em busca de
uma clínica de recuperação para Leandro. O rapaz havia lhe
deixado um bilhete com imprecisas indicações, em letra de
criança: "Casa de recuperação
Casa de Meu Pai.....Av Ipiranga
em frente ao Extra. Quando a
senhora ver (sic) as pessoas
vestida (sic) de branco no sinal,
pergunta na onde (sic) fica a casa." E em letras garrafais: "Te
amo eternamente". Ana não
encontrou o endereço.
No mesmo dia, à noite, policiais procuraram-na em casa
atrás de informações sobre
Leandro. Ela não sabia onde
ele estava. Entregou aos policiais uma foto do filho que, horas depois, seria preso.
(LC e MB)
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