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ANTÔNIO INÁCIO DA SILVA (1909-2010)
Moreno, cangaceiro de Lampião
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
Um dos maiores medos de
Antônio Inácio da Silva era
ter sido decapitado, como fizeram com os seus pares. Sobrevivente do cangaço, Moreno, como era chamado, integrou o grupo de Lampião.
No fim dos anos 30, as cabeças de Lampião e Maria
Bonita foram expostas ao público, como troféu. Pouco depois, Moreno e a mulher, a
também cangaceira Durvalina, fugiram para Minas.
Deixavam para trás um filho, nascido quando o bando
ainda existia -o menino não
pôde ficar entre os cangaceiros, pois seu choro poderia
denunciá-los. Foi, então, dado a um padre, que o criou.
Em Minas, o casal teve cinco filhos. Um deles, Murilo,
conta que o pai foi agricultor,
carvoeiro e comerciante.
Por precaução, Moreno
passou a se chamar José Antônio Souto. Durvalina tornou-se Jovina Maria. E o passado virou segredo até para
os filhos. Aos poucos, porém,
o casal deixou escapar a existência do primeiro filho, e os
outros decidiram procurá-lo.
Em 2005, Inácio, o menino
deixado com o padre, finalmente reencontrou os pais,
para a alegria da família.
A participação do casal no
cangaço acabou conhecida
por todos, virou livro ("Moreno e Durvalina - Sangue,
amor e fuga no cangaço", de
João de Sousa Lima) e até filme, ainda não lançado -o
sonho de Moreno era vê-lo.
Viúvo há dois anos, ele
morreu na segunda, aos cem,
após sofrer parada cardiorrespiratória. Anteontem, em
Belo Horizonte, atendendo a
um desejo seu, houve fogos
em seu enterro, para comemorar o fato de ele ter morrido sem ter sido decapitado
em seguida.
coluna.obituario@uol.com.br
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