São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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ANTÔNIO INÁCIO DA SILVA (1909-2010)

Moreno, cangaceiro de Lampião

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Um dos maiores medos de Antônio Inácio da Silva era ter sido decapitado, como fizeram com os seus pares. Sobrevivente do cangaço, Moreno, como era chamado, integrou o grupo de Lampião.
No fim dos anos 30, as cabeças de Lampião e Maria Bonita foram expostas ao público, como troféu. Pouco depois, Moreno e a mulher, a também cangaceira Durvalina, fugiram para Minas.
Deixavam para trás um filho, nascido quando o bando ainda existia -o menino não pôde ficar entre os cangaceiros, pois seu choro poderia denunciá-los. Foi, então, dado a um padre, que o criou.
Em Minas, o casal teve cinco filhos. Um deles, Murilo, conta que o pai foi agricultor, carvoeiro e comerciante.
Por precaução, Moreno passou a se chamar José Antônio Souto. Durvalina tornou-se Jovina Maria. E o passado virou segredo até para os filhos. Aos poucos, porém, o casal deixou escapar a existência do primeiro filho, e os outros decidiram procurá-lo.
Em 2005, Inácio, o menino deixado com o padre, finalmente reencontrou os pais, para a alegria da família.
A participação do casal no cangaço acabou conhecida por todos, virou livro ("Moreno e Durvalina - Sangue, amor e fuga no cangaço", de João de Sousa Lima) e até filme, ainda não lançado -o sonho de Moreno era vê-lo.
Viúvo há dois anos, ele morreu na segunda, aos cem, após sofrer parada cardiorrespiratória. Anteontem, em Belo Horizonte, atendendo a um desejo seu, houve fogos em seu enterro, para comemorar o fato de ele ter morrido sem ter sido decapitado em seguida.

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