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Dívidas ameaçam o trabalho de ONGs voltadas a pacientes de Aids
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As perspectivas das ONGs que
trabalham com Aids estão diminuindo na mesma medida em
que cresce a sobrevida dos pacientes. "Aquelas que não encontrarem formas de sustentarem
seus próprios programas tendem
a desaparecer", alerta Rubens Oliveira Duda, presidente do Fórum
das ONGs-Aids de São Paulo.
Muitas das quase 500 organizações não-governamentais do país
voltadas para a Aids estão endividadas. A maioria já não conta
com o financiamento de programas oficiais nem encontrou alternativas de sustentação.
Dirigentes de ONGs alertavam
para esse risco ainda em 1997.
Com o bom desempenho do governo na área de assistência, os
órgãos financiadores estão se voltando para continentes mais carentes, como a África.
Em dois anos termina o programa Aids-2, que financia boa parte
dos programas em andamento no
Brasil. "Muitas ONGs ainda não
encontraram caminhos próprios", diz Regina Pedrosa, da Alivi.
Há um ano, o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), de São Paulo, e o
Pela Vidda, do Rio, estão promovendo oficinas com dirigentes de
ONGs sobre "planejamento estratégico". "As organização têm um
produto a oferecer para a comunidade", diz Eduardo Luiz Barbosa, coordenador do GIV. "Precisam aprender a mostrar quais benefícios esse produto traz e envolver a comunidade de forma que
ela financie o trabalho."
Sobrevivente
Mesmo aquelas que seguiram
direitinho as regras estão vivendo
dificuldades. O Gapa de São Paulo, fundado em abril de 1985 como a primeira das ONGs de Aids
da América Latina, já chegou a ter
19 pessoas trabalhando. Hoje tem
três e uma dívida em aluguéis
atrasados que beira os R$ 50 mil.
A dívida pode custar o apartamento da presidente do Gapa, a
advogada Aurea Celeste Abade,
único imóvel que ela possui e onde mora com a mãe e uma filha,
na zona norte da cidade.
"O proprietário do imóvel já entrou com pedido de penhora do
apartamento", diz Aurea. No contrato de aluguel da casa, em 1990,
Aurea era uma das fiadoras.
Várias vezes presidente do Gapa, Aurea é hoje a única na ativa
entre os fundadores. Pelo menos
cinco dos diretores já morreram.
"Aurea corre o risco de não resistir a tanta pressão", afirma Wildney Feres Contrera, uma das diretoras do Gapa.
Para conseguir fundos, os diretores estão contanto com a ajuda
do Grupo Empresarial, 24 grandes empresas que têm trabalhos
na área de prevenção à Aids.
Outra organização em dificuldade é a Apta, dedicada à prevenção em escolas e entre jovens.
Fundada em 1992, a ONG ficou
dois anos sem sede, ocupou um
espaço em um bar-café por seis
meses e agora paga R$ 350 por
mês por uma sala. O telefone é a
extensão da casa da presidente,
Teresinha Reis Pinto. "Esta semana perdemos os dois voluntários
que tocavam o programa Pé no
Breque, de prevenção para caminheiros", diz Terezinha. "Os rapazes, um sociólogo e um estudante,
não recebiam sequer vale transporte ou gasolina para o carro."
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