São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dívidas ameaçam o trabalho de ONGs voltadas a pacientes de Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As perspectivas das ONGs que trabalham com Aids estão diminuindo na mesma medida em que cresce a sobrevida dos pacientes. "Aquelas que não encontrarem formas de sustentarem seus próprios programas tendem a desaparecer", alerta Rubens Oliveira Duda, presidente do Fórum das ONGs-Aids de São Paulo.
Muitas das quase 500 organizações não-governamentais do país voltadas para a Aids estão endividadas. A maioria já não conta com o financiamento de programas oficiais nem encontrou alternativas de sustentação.
Dirigentes de ONGs alertavam para esse risco ainda em 1997. Com o bom desempenho do governo na área de assistência, os órgãos financiadores estão se voltando para continentes mais carentes, como a África.
Em dois anos termina o programa Aids-2, que financia boa parte dos programas em andamento no Brasil. "Muitas ONGs ainda não encontraram caminhos próprios", diz Regina Pedrosa, da Alivi.
Há um ano, o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), de São Paulo, e o Pela Vidda, do Rio, estão promovendo oficinas com dirigentes de ONGs sobre "planejamento estratégico". "As organização têm um produto a oferecer para a comunidade", diz Eduardo Luiz Barbosa, coordenador do GIV. "Precisam aprender a mostrar quais benefícios esse produto traz e envolver a comunidade de forma que ela financie o trabalho."

Sobrevivente
Mesmo aquelas que seguiram direitinho as regras estão vivendo dificuldades. O Gapa de São Paulo, fundado em abril de 1985 como a primeira das ONGs de Aids da América Latina, já chegou a ter 19 pessoas trabalhando. Hoje tem três e uma dívida em aluguéis atrasados que beira os R$ 50 mil.
A dívida pode custar o apartamento da presidente do Gapa, a advogada Aurea Celeste Abade, único imóvel que ela possui e onde mora com a mãe e uma filha, na zona norte da cidade.
"O proprietário do imóvel já entrou com pedido de penhora do apartamento", diz Aurea. No contrato de aluguel da casa, em 1990, Aurea era uma das fiadoras.
Várias vezes presidente do Gapa, Aurea é hoje a única na ativa entre os fundadores. Pelo menos cinco dos diretores já morreram. "Aurea corre o risco de não resistir a tanta pressão", afirma Wildney Feres Contrera, uma das diretoras do Gapa.
Para conseguir fundos, os diretores estão contanto com a ajuda do Grupo Empresarial, 24 grandes empresas que têm trabalhos na área de prevenção à Aids.
Outra organização em dificuldade é a Apta, dedicada à prevenção em escolas e entre jovens.
Fundada em 1992, a ONG ficou dois anos sem sede, ocupou um espaço em um bar-café por seis meses e agora paga R$ 350 por mês por uma sala. O telefone é a extensão da casa da presidente, Teresinha Reis Pinto. "Esta semana perdemos os dois voluntários que tocavam o programa Pé no Breque, de prevenção para caminheiros", diz Terezinha. "Os rapazes, um sociólogo e um estudante, não recebiam sequer vale transporte ou gasolina para o carro."



Texto Anterior: Saúde: Teste de câncer deve ser exigido a mulheres
Próximo Texto: Evento: Debate lança livro sobre maconha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.