São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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VÔO 1907

Justiça determina a retenção de Legacy

Decisão atende a pedido de marido de uma das vítimas do acidente, que quer assegurar recursos para pagamento de indenização

Jato foi comprado pela empresa dos EUA ExcelAire Services por US$ 25 milhões; ainda não há conclusões sobre a culpa no acidente

Alan Marques/Folha Imagem
Militares e peritos do IML trabalham em área coberta por
destroços do Boeing da Gol; ontem, houve troca da equipe
de resgate


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Justiça do Distrito Federal determinou anteontem, em caráter liminar, a retenção do jato Legacy da Embraer, que no dia 29 de setembro colidiu com o Boeing da Gol em pleno ar, no maior acidente da história do país, com 154 vítimas fatais.
O desembargador João de Assis Mariosi concedeu uma liminar a Bernardo Álvares da Silva Campos, cuja esposa estava no vôo 1907.
O jato executivo foi adquirido pela empresa de táxi aéreo norte-americana ExcelAire Services por US$ 25 milhões e, no dia 29, ia para os EUA. Ainda não há conclusões sobre quem teve a responsabilidade no acidente. O pedido de Campos visa assegurar recursos para eventuais indenizações aos parentes das vítimas no caso de culpa da tripulação do Legacy.
Enquanto a questão não é decidida em caráter definitivo pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, a Agência Nacional de Aviação Civil será depositária do jato.
Procurado pela Folha para comentar a retenção da aeronave, José Carlos Dias, advogado que representa a companhia de aviação americana ExcelAire, disse que a empresa se informará melhor sobre a decisão para enfrentá-la "no momento cabível e pelos canais jurídicos apropriados".

Investigação
Responsável pela investigação sobre o acidente, a Força Aérea indicou ontem que seu objetivo principal é esclarecer as circunstâncias do episódio, e não apontar culpa. "Ninguém está em busca de culpados, mas sim das causas para que não se repita", afirma Luiz Carlos Bueno, comandante da Aeronáutica, em Brasília.
No acidente do dia 29, ambas as aeronaves eram novas -o Legacy saído da fábrica e o Boeing com 17 dias de uso. Por isso, autoridades insistem para que não haja conclusões precipitadas sobre o caso.
Até o momento, sabe-se que o choque ocorreu a 37 mil pés, uma faixa de altitude exclusiva para o tráfego de Manaus em direção a Brasília -a rota do vôo da Gol. O Legacy, que ia em direção contrária, deveria voar a 36 mil pés segundo seu plano de vôo, mas estava a 37 mil pés.
Os pilotos do Legacy dizem que não cometeram erros -não teriam mudado de altitude porque não conseguiram contato com o controle de tráfego aéreo em Brasília.
Os dois aviões possuíam tecnologia para evitar colisões, mas aparentemente os instrumentos não funcionaram ou estavam desligados.
O terceiro vértice do triângulo reside no controle de tráfego aéreo, que poderia ter alertado o Legacy e o Boeing. "O controle aéreo estava com tudo funcionando normalmente, se houve problema quem vai averiguar é a comissão de investigação", diz o comandante.
Mesmo sem responder diretamente à pressão de congressistas norte-americanos pela liberação dos pilotos do Legacy, que estão com os passaportes retidos, Bueno deu a entender que a saída deles do Brasil antes da hora pode prejudicar as investigações sobre o acidente.


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