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ENTREVISTA/WALDIR PIRES
Para ministro da Defesa, críticas são "levianas"
Pires diz que declarações de jornalista americano são impertinentes e que a
causa do acidente só será conhecida após abertura da caixa-preta do Boeing
Para o ministro da Defesa, Waldir Pires, os índices de acidentes aéreos
no Brasil, baixos em relação à média mundial, são
a melhor resposta à polêmica gerada pelas declarações do jornalista americano Joe Sharkey, que
afirmou que o controle
aéreo brasileiro é "péssimo". Pires classificou o
colunista do "The New
York Times", que estava
no Legacy que se chocou
com o Boeing, como "leviano". Ele diz que as críticas feitas ao monitoramento aéreo, à pesada
carga horária dos controladores de tráfego e aos
investimentos em segurança de vôo "não são
pertinentes ".
(MAELI PRADO)
FOLHA - Pelos dados da ONG Contas Abertas, o Brasil poderia gastar
mais em segurança de vôo. O fundo
aeronáutico tem uma disponibilidade de R$ 1,8 bilhão, que vem crescendo. Por que o governo não gasta
mais nessa área?
WALDIR PIRES - Eu tenho números que não me dizem isso. No
exercício de 2003, a dotação
autorizada [para o programa de
proteção ao vôo] foi de R$
327,318 milhões, um crédito
contingenciado de R$ 18,6 milhões e executado de R$ 308,6
milhões [os dados do Ministério da Defesa incluem os restos
a pagar, ou seja, despesas de orçamentos de exercícios anteriores contabilizadas posteriormente]. No exercício de
2004, a dotação autorizada foi
de R$ 468,7 milhões, e o crédito
executado foi de R$ 464 milhões. Em 2005, a dotação autorizada foi de R$ 495 milhões,
o crédito executado de R$ 435
milhões, e foram contingenciados R$ 59 milhões. Em 2006, a
dotação autorizada é de R$ 530
milhões, não há crédito contingenciado, há um crédito executado de R$ 284,6 milhões e o
crédito disponível é de R$
245,6 milhões. Minha impressão é de que não há problemas.
FOLHA - Controladores de tráfego
e pilotos fazem relatos de carga de
trabalho pesada e deficiência no
monitoramento do espaço aéreo.
Não falta mais investimento?
PIRES - Minha impressão, claro
que vamos verificar isso, é que
quase o pessoal todo que executa esse trabalho no Cindacta
[centro de controle] é formado
por sargentos e cabos que têm
salários e são treinados para isso. Trabalham as horas que são
compatíveis com a natureza
desse trabalho.
FOLHA - A informação é que os
controladores raramente trabalham
em turnos alternados de duas horas,
o que seria o mais indicado.
PIRES - Mas veja bem, a verdade é que os nossos números, os
episódios de acidentes, estão
entre os melhores do mundo.
Rivalizamos em nível de acidente com a Europa, com os
Estados Unidos. Vou examinar
isso, mas não creio que essas
críticas sejam pertinentes, não.
Na realidade, o êxito é extraordinário, nós temos índices admiráveis, competitivos com os
índices dos EUA e da Europa.
FOLHA - Mas não são assustadores
os relatos de pilotos que dizem que
há áreas do espaço aéreo brasileiro
em que a comunicação é deficiente?
PIRES - Não é o que me dizem
as autoridades atualmente.
Mas vamos fazer um inquérito
que tenha a garantia de uma investigação completa. Não posso antecipar testemunhos que
sejam dados, por exemplo, por
esse rapaz lá nos Estados Unidos [o colunista do "The New
York Times", Joe Sharkey, que
estava no Legacy]. É evidente
que a mim me parece que ele
tem uma personalidade um
pouco leviana, porque com os
índices que nós temos e as afirmações que ele faz, é algo absolutamente inadequado.
De qualquer forma o que é
importante agora é verificar tudo o que se diga e chegar à posição da investigação desse acidente como um exemplo, para
verificar realmente o que aconteceu. Se foi falha humana, se
foi falha do equipamento, se foi
o transponder que não funcionou, porque não funcionaram
os aparelhos que integravam os
equipamentos dos dois.
FOLHA - O sr. acha que até agora
tudo indica que aconteceu o quê?
PIRES - Não sei. O que aconteceu é que houve o choque. Agora, o sistema de controle informa: não autorizamos nenhuma
modificação no plano de vôo.
Os dois aparelhos estavam dotados de equipamentos que impediriam o choque. Mesmo que
houvesse uma falha humana, os
aparelhos, por eles mesmos, estariam impedindo o choque,
um sairia por um lado, o outro
sairia pelo outro. Eles existem
para isso. Vamos apurar.
FOLHA - O sr. está acompanhando
de perto as investigações?
PIRES - Confesso que eu fujo
enormemente ao debate técnico, porque a mim me parece
que se eu fizer isso fica parecendo que eu estou interferindo no inquérito técnico, administrativo, aeronáutico que deve ser feito. Eu quero isso com
total liberdade e com eficácia,
com zelo. Estamos fazendo
grande esforço na parte de
atenção às famílias, de identificação e resgate das vítimas.
FOLHA - O sr. citou as declarações
do jornalista Joe Sharkey, que criticou o controle do espaço aéreo brasileiro. A imagem de segurança de
vôo no Brasil lá fora fica afetada?
PIRES - A melhor forma de dizer dessa imagem são nossos
índices de acidente. É até uma
forma de responder, pois esse
rapaz é um leviano. Não há nem
como ainda saber. A caixa-preta do Boeing não foi aberta. Por
cautela não abrimos, e mandamos essa caixa-preta, que estava danificada, para o Canadá,
que é o que os tratados internacionais de aviação civil presumem. Esse rapaz me parece
uma dessas personalidades razoavelmente irresponsáveis
por ficar antecipando as coisas.
FOLHA - Os pilotos do Legacy, que
estão no Brasil, estão manifestando
uma irritação grande por não poderem sair do país.
PIRES - O que posso fazer? Estão sob ordem judicial. Se o juiz
determina alguma coisa, nenhuma autoridade executiva
pode interferir.
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