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LETRAS JURÍDICAS
Sua Excelência, o presidente Lula
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Conheço Lala, que é
Laura, com a variável Lalu, para Laura Lucia. Lembro-me
de Lela, mas não recordo por que
razão ganhou esse apelido, pois se
chama Letícia. Lila, como evidente, é a viúva do saudoso Mario
Covas, mas há muitos anos tivemos a querida amiga dona Lila
Nunes, no Rio de Janeiro. Conheço mais de uma Lola, apelido comum entre as espanholas. Lula é
uma senhora da sociedade paulistana, que já era chamada assim antes de o presidente eleito
nascer. É também um artilheiro
que o Palmeiras teve há meio século. Lula e Lu têm a vantagem
de servir para homens e mulheres.
O futuro chefe do Executivo, o
homem apelidado de Lula, é a
síntese unipessoal do Brasil. Assim se apresenta aqui e se apresentará no exterior, quando se
empossar, para representar nosso
país. Apelidado? Não! Lula é prenome acrescido por sentença ao
nome do eleito presidente da República, que, depois, o passou a
seus filhos. A história é conhecida,
tanto que a referi em edição antiga de meu livro "Lei dos Registros
Públicos Comentada". No breve
período em que foi deputado federal, Luís Inácio da Silva requereu ao juiz Ruy Coppola, da Vara
de São Bernardo do Campo, competente para assuntos do registro
civil, que fosse acrescido ao seu
prenome o apelido pelo qual era
conhecido de suas lutas históricas
como líder metalúrgico.
O pedido foi processado regularmente e deferido, satisfeita a
exigência de que o Ministério Público se manifestasse a respeito do
assunto. Foi averbado nos registros do requerente para conhecimento geral. Naquele tempo, o
artigo 58 da Lei dos Registros Públicos não tinha a redação de hoje. Em algumas decisões ainda
predominava a idéia da imutabilidade do prenome. O juiz Ruy
Coppola decidiu bem, transformando o que era apelido em nome legal, entre o prenome e o sobrenome. Assim, se alguém quiser
dirigir-se ao presidente eleito, observará o tratamento protocolar
de Excelentíssimo Senhor Presidente para chamá-lo de Luiz Inácio Lula da Silva ou só Lula da
Silva, sem nenhum desrespeito.
Lula é o primeiro presidente
nessa condição. Muitos chefes do
Executivo, desde a proclamação
da República, tinham apelidos,
alguns de família e outros postos
pelos inimigos, mas nenhum com
os mesmos característicos do agora eleito. É destino dos homens
chamados Luís terem apelidos
com variáveis das duas primeiras
letras, ou só elas. Tenho um amigo, advogado dos melhores, que,
para nós, é apenas Lu, mesmo
apelido pelo qual é conhecida a
esposa de Geraldo Alckmin, aliás,
Geraldinho para os que o conhecem de perto. Luiz Gonzaga, o
grande compositor, cantor e músico, era Lua. Ter com alguém suficiente intimidade para chamá-lo pelo apelido permite aproximação que deve dar ao novo presidente uma qualificação que os
outros não tiveram: coloca-se
mais próximo do povo que o elegeu, pelo qual prometeu trabalhar muito e cujas esperanças
prometeu não trair. O tratamento
protocolar, porém, é inafastável.
Foi esquecido pelos fotógrafos nas
primeiras aparições do eleito, aos
gritos de "Lula", "Lula!". Dos fotógrafos se admite tudo. Quando
o rei Jorge 6º, da Inglaterra, chegou de navio aos Estados Unidos
pela primeira vez, os fotógrafos
pediram, aos berros, que o soberano esperasse para uma foto a
mais antes de se retirar do porto:
"One more, mister king!" (Mais
uma, "seu" Rei!). O rei, enfarpeladíssimo, de casaca e cartola, sorriu e esperou.
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