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POLÍCIA
Exame de DNA confirma que Pedrinho, levado da maternidade em Brasília, e O.M.B.J., criado em Goiás, são a mesma pessoa
Encontrado garoto sequestrado há 16 anos
LEILA SUWWAN
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um exame de DNA divulgado
ontem pela manhã em Brasília
confirmou que Pedrinho, bebê sequestrado na maternidade há 16
anos, foi encontrado. O jovem,
O.M.B.J., havia sido registrado e
criado como filho natural de uma
família de classe média de Goiânia
(GO), a 209 km de Brasília.
Os pais biológicos, Maria Auxiliadora Braule Pinto e Jayro Tapajós, receberam pela manhã um
laudo da Polícia Civil confirmando, com 99,99% de certeza, que
O.J. é Pedrinho.
O desfecho do caso, que marcou
a história de Brasília, foi celebrado, mas o adolescente temia que
houvesse represália à sua mãe
adotiva, V. Ela e o pai adotivo, O.,
que morreu no último dia 19 de
câncer, são considerados suspeitos de participação no sequestro.
Em janeiro de 1986, Pedrinho
foi levado do quarto que ocupava
com a mãe, no hospital Santa Lúcia, por uma mulher que se identificou como funcionária. Ela disse
que precisava levar o bebê para fazer exames e, como se soube depois, saiu pela porta do hospital
com o recém-nascido dentro de
uma bolsa.
Depois de 12 "alarmes falsos" ao
longo dos anos, a polícia recebeu
a primeira pista do verdadeiro paradeiro de Pedrinho no início do
mês passado, quando foi feito um
telefonema anônimo para o SOS
Criança de Brasília.
A informante, uma jovem de 19
anos, teria desconfiado de comentários sobre a filiação de seu
amigo, O.J.
Pesquisou na internet e encontrou uma foto de Tapajós -o pai
biológico do jovem- com dez
anos de idade no site da ONG Internacional Missing Kids
(www.missingkids.com.br).
Constatou as semelhanças e telefonou. Confirmou algumas
marcas de nascença, e agentes foram a Goiânia, onde filmaram e
fotografaram O.J. Anteontem, o
adolescente decidiu fornecer sangue para o exame de DNA e duas
equipes técnicas trabalharam até
ontem pela manhã.
Desfecho
Imediatamente, o resultado foi
divulgado aos pais biológicos. "É
seu filho. Acabou a história", disse, pelo telefone, o agente licenciado Fábio Barcelos, que trabalhou
por anos no caso.
Com o laudo na mão, Auxiliadora e Tapajós choraram, agradeceram, oraram e concederam diversas entrevistas aos cerca de 35
repórteres que permaneceram na
porta da casa da família. Até o início da noite ainda havia expectativa de um reencontro.
Ao falar com O.J. pela primeira
vez em 16 anos, Auxiliadora ouviu: "Tenha calma, não chore, tudo vai dar certo".
Seu único pedido ao pai biológico, com quem já conversara anteontem, foi o de não aparecer
nos jornais. No meio da tarde de
ontem, um acordo judicial proibiu a divulgação das fotos tiradas
pelos policiais em Goiânia.
Tapajós, que acompanhava essa
investigação havia cinco dias e tinha aspecto cansado, com olheiras, não perdeu o bom humor e
brincou com os jornalistas: "Recebi um homem feito. Economizei muito no arroz e feijão".
Os dois disseram que não iriam
tentar tirar O.J. de sua família
adotiva. Queriam apenas "somar
à família de criação". O casal, de
mãos dadas, disse que quer iniciar
o relacionamento com o filho,
sem pressões adicionais.
Suspeitos
O chefe da Polícia Civil, Laerte
Bessa, afirmou saber, "com 90%
de certeza", quem sequestrou Pedrinho. A informação seria divulgada depois de estudos conclusivos sobre a prescrição do crime.
De acordo com o Código Penal, o
sequestro prescreveu em 94, e os
culpados não poderiam mais ser
julgados criminalmente.
"Ela [V.] não deixou de ser uma
suspeita", disse o delegado Hertz
Andrade Santos, que preside o caso depois de sua reabertura.
No fim da tarde de ontem, o advogado da família adotiva, Ezizio
Barbosa, divulgou uma nota à imprensa afirmando que o menino
teria sido entregue ao pai adotivo
por uma gari de Brasília.
A nota diz ainda que a mãe adotiva recebeu a criança depois de
"uma depressão muito forte",
causada por cinco abortos, e que
optou pelo registro falso para evitar a "grande burocratização" do
processo de adoção. A criança foi
registrada em Mararosa (GO),
com a mesma data de nascimento, peso e altura de Pedrinho.
Quando foi confrontada em
Goiânia por agentes na semana
passada, sustentou, em depoimento, que O.J. era seu filho natural. Na nota, porém, explica que
fez isso para evitar que o menino
descobrisse que foi "adotado" e
que outros possíveis pais pudessem aparecer no futuro, prejudicando o filho psicologicamente.
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