São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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POLÍCIA

Exame de DNA confirma que Pedrinho, levado da maternidade em Brasília, e O.M.B.J., criado em Goiás, são a mesma pessoa

Encontrado garoto sequestrado há 16 anos

LEILA SUWWAN
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um exame de DNA divulgado ontem pela manhã em Brasília confirmou que Pedrinho, bebê sequestrado na maternidade há 16 anos, foi encontrado. O jovem, O.M.B.J., havia sido registrado e criado como filho natural de uma família de classe média de Goiânia (GO), a 209 km de Brasília.
Os pais biológicos, Maria Auxiliadora Braule Pinto e Jayro Tapajós, receberam pela manhã um laudo da Polícia Civil confirmando, com 99,99% de certeza, que O.J. é Pedrinho.
O desfecho do caso, que marcou a história de Brasília, foi celebrado, mas o adolescente temia que houvesse represália à sua mãe adotiva, V. Ela e o pai adotivo, O., que morreu no último dia 19 de câncer, são considerados suspeitos de participação no sequestro.
Em janeiro de 1986, Pedrinho foi levado do quarto que ocupava com a mãe, no hospital Santa Lúcia, por uma mulher que se identificou como funcionária. Ela disse que precisava levar o bebê para fazer exames e, como se soube depois, saiu pela porta do hospital com o recém-nascido dentro de uma bolsa.
Depois de 12 "alarmes falsos" ao longo dos anos, a polícia recebeu a primeira pista do verdadeiro paradeiro de Pedrinho no início do mês passado, quando foi feito um telefonema anônimo para o SOS Criança de Brasília.
A informante, uma jovem de 19 anos, teria desconfiado de comentários sobre a filiação de seu amigo, O.J.
Pesquisou na internet e encontrou uma foto de Tapajós -o pai biológico do jovem- com dez anos de idade no site da ONG Internacional Missing Kids (www.missingkids.com.br).
Constatou as semelhanças e telefonou. Confirmou algumas marcas de nascença, e agentes foram a Goiânia, onde filmaram e fotografaram O.J. Anteontem, o adolescente decidiu fornecer sangue para o exame de DNA e duas equipes técnicas trabalharam até ontem pela manhã.

Desfecho
Imediatamente, o resultado foi divulgado aos pais biológicos. "É seu filho. Acabou a história", disse, pelo telefone, o agente licenciado Fábio Barcelos, que trabalhou por anos no caso.
Com o laudo na mão, Auxiliadora e Tapajós choraram, agradeceram, oraram e concederam diversas entrevistas aos cerca de 35 repórteres que permaneceram na porta da casa da família. Até o início da noite ainda havia expectativa de um reencontro.
Ao falar com O.J. pela primeira vez em 16 anos, Auxiliadora ouviu: "Tenha calma, não chore, tudo vai dar certo".
Seu único pedido ao pai biológico, com quem já conversara anteontem, foi o de não aparecer nos jornais. No meio da tarde de ontem, um acordo judicial proibiu a divulgação das fotos tiradas pelos policiais em Goiânia.
Tapajós, que acompanhava essa investigação havia cinco dias e tinha aspecto cansado, com olheiras, não perdeu o bom humor e brincou com os jornalistas: "Recebi um homem feito. Economizei muito no arroz e feijão".
Os dois disseram que não iriam tentar tirar O.J. de sua família adotiva. Queriam apenas "somar à família de criação". O casal, de mãos dadas, disse que quer iniciar o relacionamento com o filho, sem pressões adicionais.

Suspeitos
O chefe da Polícia Civil, Laerte Bessa, afirmou saber, "com 90% de certeza", quem sequestrou Pedrinho. A informação seria divulgada depois de estudos conclusivos sobre a prescrição do crime. De acordo com o Código Penal, o sequestro prescreveu em 94, e os culpados não poderiam mais ser julgados criminalmente.
"Ela [V.] não deixou de ser uma suspeita", disse o delegado Hertz Andrade Santos, que preside o caso depois de sua reabertura.
No fim da tarde de ontem, o advogado da família adotiva, Ezizio Barbosa, divulgou uma nota à imprensa afirmando que o menino teria sido entregue ao pai adotivo por uma gari de Brasília.
A nota diz ainda que a mãe adotiva recebeu a criança depois de "uma depressão muito forte", causada por cinco abortos, e que optou pelo registro falso para evitar a "grande burocratização" do processo de adoção. A criança foi registrada em Mararosa (GO), com a mesma data de nascimento, peso e altura de Pedrinho.
Quando foi confrontada em Goiânia por agentes na semana passada, sustentou, em depoimento, que O.J. era seu filho natural. Na nota, porém, explica que fez isso para evitar que o menino descobrisse que foi "adotado" e que outros possíveis pais pudessem aparecer no futuro, prejudicando o filho psicologicamente.


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