|
Próximo Texto | Índice
18 Estados pagam a delegados mais que SP
Levantamento feito pela Folha revela que Estado ocupa o 9º lugar no ranking dos que pagam as piores médias salariais
Delegados paulistas recebem salário médio de
R$ 7.085,85, menos que em Estados mais pobres como Piauí, Alagoas e Maranhão
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), está certo
quando diz que os sindicalistas
da Polícia Civil criaram um mito ao propagar a idéia de que o
Estado paga os piores salários
do país. Os policiais em greve
também têm razão quando
afirmam que São Paulo não paga um salário condizente com a
arrecadação do Estado.
Levantamento feito pela Folha revela que São Paulo ocupa
o 9º lugar no ranking dos Estados que pagam as piores médias salariais a delegados. Dito
de outra forma, 18 Estados pagam em média melhor do que
São Paulo. A pesquisa foi feita
em 26 Estados e no Distrito Federal. Quatro Estados não informaram a média (Rio, Mato
Grosso do Sul, Piauí e Rio Grande do Norte). Essa lacuna não
altera o ranking porque eles pagam pisos superiores à média
salarial paulista.
São Paulo paga a delegados
em média R$ 7.085,85, valor
menor do que Estados muito
mais pobres, como Piauí, Alagoas e Maranhão. Policiais civis
paulistas estão em greve desde
16 de setembro.
A Bahia é o Estado que paga o
pior salário médio a delegados.
Lá, a média é de R$ 5.427.
Quando se analisa o salário inicial, São Paulo ocupa a pior posição no país: o piso é de R$
3.708,18. O governo paulista diz
que esse valor não traduz a realidade salarial da categoria, já
que só 15 dos 3.500 delegados
recebem esse montante.
Disparidade
Não há a menor relação entre
a disponibilidade de recursos
para aplicação de um Estado e
os salários pagos aos seus policiais, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário a pedido da Folha.
Essa disponibilidade é medida pela receita líquida por habitante -ou seja, a soma de tudo que o Estado arrecada, do
que recebe da União menos as
transferências de recursos que
faz para os municípios.
São Paulo, por exemplo, ocupa a 18ª posição no ranking dos
melhores salários, mas o Estado está em 9º lugar em capacidade de aplicação por habitante. "Esse dado derruba o mito
de que São Paulo é o Estado
mais rico do país. O governo
não tem uma disponibilidade
de aplicação de recursos muito
grande", diz o advogado Gilberto Luiz do Amaral, presidente
do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.
A disparidade de salários é
tamanha que um agente em
Brasília, cargo similar ao de investigador, começa a carreira
com um salário de R$ 8.000,
valor superior ao que ganha um
delegado de São Paulo com 20
anos de profissão.
Brasília tem salários elevados porque os policiais civis ganham como policiais federais e
são pagos pela União.
Os salários dependem mais
da capacidade de pressão -ou
de chantagem- da polícia do
que da riqueza do Estado, segundo o sociólogo Claudio Beato, professor da Universidade
Federal de Minas Gerais. "São
corporações poderosas, que
muitas vezes pressionam o poder político, conseguindo salários que são irreais para alguns
Estados", diz.
O caso de Alagoas ilustra
bem os salários irreais de que
fala o pesquisador. Lá, um delegado ganha em média R$ 11
mil, ou 56% a mais do que em
São Paulo. Alagoas paga o 3º
melhor salário do país, mas
ocupa a 23ª posição na capacidade de aplicação de recursos.
Um dos aumentos da polícia
foi obtido há cerca de 20 anos,
quando o então secretário de
Segurança, Fernando Teodomiro, teve de deixar Maceió
porque fora ameaçado de morte por delegados, segundo Stelio Pimenta Jr., diretor jurídico
do sindicato da Polícia Civil de
Alagoas. "Eles resolveram a
questão na base do bangue-bangue", conta.
Próximo Texto: Danuza Leão: A crise, socorro Índice
|