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DANUZA LEÃO
A crise, socorro
E meu dinheirinho aplicado, que está derretendo? E o que eu tenho a ver com hipotecas das casas americanas?
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A CRISE: alguém entende o que
está se passando? Eu, não.
Na minha total ignorância
sobre economia, sempre achei que,
se alguém perde de um lado, alguém
ganha de outro. Só que, pelo que tenho entendido, desta vez todo mundo está perdendo; é como se tivessem feito uma fogueira com quase
todo o dinheiro que existia no mundo e tudo virado fumaça. Alguém deve ser o culpado, mas quem?
Outro dia vi numa vitrine uma
sandália bem bonitinha, que nem
cara era, e entrei para comprar. Mas
lembrei da crise e fui para casa sem.
É bem verdade que não precisava
dela, mas eu tinha (tenho ainda, só
não sei por quanto tempo) condições de me dar este presente. Mas
com a crise, nem sandália nem chocolate, nem nada que não seja essencial. Mas, pensei, se ninguém comprar, as lojas vão fechar e muita gente vai perder o emprego. Então, o
que fazer? Os tempos mudaram
mesmo. Lembrei de Chanel, que dizia que a única coisa indispensável
na vida é o supérfluo.
Voltei para casa meio deprê, mas é
mais fácil lidar com a depressão
quando se conhece a sua origem
-no caso, a crise-, do que quando
não se entende o que está se passando. Mas a crise, para mim, não passa
de uma palavra, e que me enche de
medo. Se as pessoas pararem de
comprar, não haverá razão para
anúncios nos jornais e revistas, sem
anúncios a imprensa vai acabar, e se
acabar, todos os jornalistas ficarão
sem emprego, começando por mim,
claro. Ok, tenho um apartamento
que posso vender e ir morar num
conjugado, mas com a crise, quem
vai ter dinheiro para comprar o
meu? Eu, que sonhava em ter uma
velhice tranqüila, vou morar debaixo da ponte, isso é mais do que evidente. Procuro desesperadamente
uma alternativa para o futuro, mas
não encontro nenhuma; meus amigos devem estar na mesma situação,
não tenho um emprego público, daqueles que dão estabilidade, e não
sou do PT. Estou perdida.
Além de não entender a crise,
também não entendo a mecânica da
eleição americana. Se a maioria dos
eleitores não é o que importa para
eleger o presidente, já que são os delegados do colégio eleitoral que decidem, então para que eleição? E
quem escolhe esses delegados? Vou
deixar para pensar nisso quando for
uma sem-teto e não tiver mesmo nada para fazer.
E a fusão dos bancos? Eu gostaria,
só por curiosidade, de saber quem
teve a idéia e telefonou para o outro
dizendo "que tal uma fusão entre
nossos bancos?" Teria o outro respondido: "que ótima idéia, vamos
tomar um chope e conversar sobre
isso"? Será que foi assim? E será que
com a fusão vou ficar menos tempo
na fila do banco? Ah, por que não sou
prima, mesmo longe, de um Moreira
Salles ou de um Setubal?
Voltando à crise: tudo começou
nos Estados Unidos, com a história
das hipotecas; seria o caso do dólar ir
para o ralo, mas não: o dólar subiu
no mundo todo. Dá para entender?
E meu dinheirinho aplicado que está derretendo, de quem é a culpa? E
algum dia eu vou ter ele de volta? E o
que é que eu tenho a ver com as hipotecas das casas americanas?
Este mundo está muito complicado; vou botar um tênis e dar uma
volta na Lagoa para esfriar a cabeça.
Aliás, é a única coisa que posso fazer
de graça.
danuza.leao@uol.com.br
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