São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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entrevista

Para delegado, "achatamento" é deliberado

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo, Sérgio Roque, diz que o Estado paga em média menos do que Piauí e Maranhão por uma opção política do PSDB. "O achatamento é deliberado", diz. Roque afirma que, por sua experiência prática, não acredita que a média salarial em São Paulo seja de R$ 7.085. Mas ele não dispõe de números para contrapor a esse valor.

 

FOLHA - Levantamento feito pela Folha dos salários médios da Polícia Civil em todo o Brasil mostra que SP não paga os piores salários, mas o valores são inferiores aos de Estados mais pobres, como Alagoas, Acre e Espírito Santo. Por que o Estado chegou a essa situação?
SÉRGIO ROQUE -
Há um achatamento salarial muito grande em todo o funcionalismo público de São Paulo. Isso ocorreu nesses 12 anos de PSDB, com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tanto que hoje os salários do funcionalismo representam 39% das receitas, quando eram 50% há oito anos. O achatamento é deliberado.

FOLHA - O sr. acha lícito os sindicalistas dizerem que SP paga o pior salário do país, o que não é verdade?
ROQUE -
No entendimento dos sindicalistas, é o salário mais baixo do país. Está certo que só 18 ganham o piso de R$ 3.700, mas são quase 200 os que ganham R$ 200 a mais. É vergonhoso para o Estado que mais arrecada no país.

FOLHA - A folha de pagamento para segurança em SP cresceu mais nos últimos oito anos do que nas áreas de saúde e educação. O sr. não acha que isso mostra boa vontade do governo?
ROQUE -
Não. Todas essas áreas essenciais deveriam receber mais verbas. O governo deveria investir mais em todas essas áreas

FOLHA - O governo diz que, se fosse conceder o reajuste que a categoria quer, o Estado quebra.
ROQUE -
Isso não é verdade. O que há hoje é uma desproporção muito grande entre os salários da PM e os da Polícia Civil. A folha de inativos da PM é muito grande, nenhum governo vai agüentar pagar isso por muito tempo. Hoje a PM tem 54 coronéis na ativa, e os reformados são mais de mil. Nenhum Estado agüenta isso. A folha de pagamento da PM é uma caixa-preta, você nunca vai conseguir obter os dados. Os gastos com tenentes, ativos e inativos, é superior à folha de pagamentos da Polícia Civil inteira. Não é por causa dessa desorganização que o Estado vai penalizar as outras carreiras.

FOLHA - Há pesquisadores de segurança que criticam o baixo grau de profissionalização da polícia. O sistema de trabalho no plantão -trabalha um dia e descansa dois- seria um indicador desse baixo índice de profissionalismo. Por que os policiais não sugerem mudanças nessa área?
ROQUE -
O objetivo da nossa greve não é só salarial. O nosso objetivo principal é reformar a polícia. A estrutura da polícia está toda errada. Vou dar um exemplo de desperdício. Tupã e São Roque têm 80 mil habitantes cada um. Tupã tem oito unidades policiais e São Roque, duas. O delegado deveria poder sair do plantão para ir ao local do crime, para investigar, mas não vai. O modelo de polícia nosso é ultrapassado. A PM deveria atuar de forma preventiva, se antecipando ao crime. É um modelo bom para começar as mudanças.

FOLHA - O sociólogo Cláudio Beato diz que o inquérito é uma figura inútil, que é jogado fora na fase judicial.
ROQUE -
Não é verdade. Todos (ou 98%) dos processos penais nascem de um inquérito policial. O inquérito é uma garantia para o cidadão contra o arbítrio. Quando ele é chamado à delegacia, sabe por que está sendo investigado. No inquérito, ele pode oferecer provas em sua defesa. O sistema processual brasileiro exige isso. O inquérito tem mais de cem anos.

FOLHA - O sr. não acha que os policiais estão extrapolando ao reivindicar eleição direta para delegado-geral?
ROQUE -
Não. Em Polícia Judiciária não pode haver hierarquia, não existe cadeia de subordinação. O delegado tem de ser livre para investigar, como acontece no Ministério Público. O delegado deveria ser eleito pela classe, como faz o Ministério Público. Um delegado-geral eleito não estaria preso ao governo, não estaria ligado ao comando partidário do governador.


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