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entrevista
Para delegado, "achatamento" é deliberado
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Associação dos Delegados de Polícia
de São Paulo, Sérgio Roque,
diz que o Estado paga em
média menos do que Piauí e
Maranhão por uma opção
política do PSDB. "O achatamento é deliberado", diz. Roque afirma que, por sua experiência prática, não acredita
que a média salarial em São
Paulo seja de R$ 7.085. Mas
ele não dispõe de números
para contrapor a esse valor.
FOLHA - Levantamento feito pela Folha dos salários médios da
Polícia Civil em todo o Brasil mostra que SP não paga os piores salários, mas o valores são inferiores aos de Estados mais pobres,
como Alagoas, Acre e Espírito
Santo. Por que o Estado chegou a
essa situação?
SÉRGIO ROQUE - Há um achatamento salarial muito grande em todo o funcionalismo
público de São Paulo. Isso
ocorreu nesses 12 anos de
PSDB, com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tanto que
hoje os salários do funcionalismo representam 39% das
receitas, quando eram 50%
há oito anos. O achatamento
é deliberado.
FOLHA - O sr. acha lícito os sindicalistas dizerem que SP paga o
pior salário do país, o que não é
verdade?
ROQUE - No entendimento
dos sindicalistas, é o salário
mais baixo do país. Está certo que só 18 ganham o piso de
R$ 3.700, mas são quase 200
os que ganham R$ 200 a
mais. É vergonhoso para o
Estado que mais arrecada no
país.
FOLHA - A folha de pagamento
para segurança em SP cresceu
mais nos últimos oito anos do
que nas áreas de saúde e educação. O sr. não acha que isso mostra boa vontade do governo?
ROQUE - Não. Todas essas
áreas essenciais deveriam
receber mais verbas. O governo deveria investir mais
em todas essas áreas
FOLHA - O governo diz que, se
fosse conceder o reajuste que a
categoria quer, o Estado quebra.
ROQUE - Isso não é verdade.
O que há hoje é uma desproporção muito grande entre
os salários da PM e os da Polícia Civil. A folha de inativos
da PM é muito grande, nenhum governo vai agüentar
pagar isso por muito tempo.
Hoje a PM tem 54 coronéis
na ativa, e os reformados são
mais de mil. Nenhum Estado
agüenta isso. A folha de pagamento da PM é uma caixa-preta, você nunca vai conseguir obter os dados. Os gastos
com tenentes, ativos e inativos, é superior à folha de pagamentos da Polícia Civil inteira. Não é por causa dessa
desorganização que o Estado
vai penalizar as outras carreiras.
FOLHA - Há pesquisadores de
segurança que criticam o baixo
grau de profissionalização da polícia. O sistema de trabalho no
plantão -trabalha um dia e descansa dois- seria um indicador
desse baixo índice de profissionalismo. Por que os policiais não sugerem mudanças nessa área?
ROQUE - O objetivo da nossa
greve não é só salarial. O nosso objetivo principal é reformar a polícia. A estrutura da
polícia está toda errada. Vou
dar um exemplo de desperdício. Tupã e São Roque têm 80
mil habitantes cada um. Tupã tem oito unidades policiais e São Roque, duas. O delegado deveria poder sair do
plantão para ir ao local do
crime, para investigar, mas
não vai. O modelo de polícia
nosso é ultrapassado. A PM
deveria atuar de forma preventiva, se antecipando ao
crime. É um modelo bom para começar as mudanças.
FOLHA - O sociólogo Cláudio
Beato diz que o inquérito é uma
figura inútil, que é jogado fora na
fase judicial.
ROQUE - Não é verdade. Todos (ou 98%) dos processos
penais nascem de um inquérito policial. O inquérito é
uma garantia para o cidadão
contra o arbítrio. Quando ele
é chamado à delegacia, sabe
por que está sendo investigado. No inquérito, ele pode
oferecer provas em sua defesa. O sistema processual brasileiro exige isso. O inquérito
tem mais de cem anos.
FOLHA - O sr. não acha que os
policiais estão extrapolando ao
reivindicar eleição direta para delegado-geral?
ROQUE - Não. Em Polícia Judiciária não pode haver hierarquia, não existe cadeia de
subordinação. O delegado
tem de ser livre para investigar, como acontece no Ministério Público. O delegado
deveria ser eleito pela classe,
como faz o Ministério Público. Um delegado-geral eleito
não estaria preso ao governo,
não estaria ligado ao comando partidário do governador.
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