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Polícia do Rio mata mais que a de SP, diz ONG
No RJ, taxa de mortes é 6 vezes superior à paulista, segundo a Human Rights Watch; nos dois Estados, policiais matam mais que os dos EUA
Divulgado ontem, relatório anual da ONG aponta os "frequentes" assassinatos extrajudiciais como uma das razões para o resultado
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
A polícia do Estado do Rio
mata seis vezes mais do que a
de São Paulo, que por sua vez
mata sete vezes mais do que as
forças de segurança nos Estados Unidos, de acordo com relatório divulgado ontem pela
ONG Human Rights Watch.
As mortes cometidas por policiais por 100 mil habitantes
em 2008 no Rio atingem taxa
de 6,86, contra 0,97 em SP. Nos
EUA, ela é de 0,12, e na África
do Sul, 0,96. Nos últimos três
anos, a polícia paulista matou
mais (371) do que feriu (283)
em supostos episódios de resistência a prisão.
Nos últimos cinco anos foram 5.611 pessoas mortas por
agentes do Rio e 2.176 por policiais paulistas em supostos tiroteios, em comparação a 1.623
mortos na África do Sul. A população africana é de 45 milhões; SP tem 41,8 milhões de
moradores e o Rio, 16 milhões.
O documento aponta os "frequentes" assassinatos extrajudiciais como importante fator
na estatística. Houve mais de 11
mil mortos em supostos confrontos desde 2003. A entidade
admite que muitos são legítimos, mas há "claramente" abusos não apurados.
"A execução extrajudicial de
suspeitos criminosos não é a
resposta ao crime violento",
disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas
da Human Rights Watch. Para
ele, "em vez de combater a violência, em muitos casos, a polícia não tem feito mais que potencializá-la pela força letal".
Segundo o relatório, "em alguns casos, as provas indicam
que os assassinatos ocorreram
após o término dos supostos tiroteios. Em outros, sequer houve trocas de tiros".
A entidade reconhece que o
problema é mais grave no Rio,
mas também é sério em São
Paulo, "apesar da queda encorajadora na taxa de homicídios
nos últimos anos". A HRW afirmou ter elencado 51 casos com
provas de assassinatos em mortes de civis por policiais nos
dois Estados. Em nenhum houve condenação judicial.
Um indicativo importante do
abuso da força é, segundo a
ONG, o desproporcional número de mortos em suposto confronto com as polícias. No Rio,
morrem 44 pessoas para cada
PM que morre em tiroteio; em
São Paulo, 18. Nos EUA, nove.
Um caso extremo é o do Comando de Policiamento de
Choque paulista (incluindo a
Rota), que matou 305 pessoas
entre 2004 e 2008 e feriu apenas 20. Só um policial morreu
em confronto no período.
As polícias brasileiras, além
de matarem muito, prendem
menos que as dos EUA. O índice de detenções por morte lá é
108 vezes maior do que em SP e
1.641 vezes maior que no Rio.
Os maiores entraves são, para a ONG, a impunidade de policiais e o acobertamento de
crimes. A principal sugestão da
ONG é criar grupos no Ministério Público para apurar mortes
cometidas por policiais.
A OAB do Rio duvida que o
Estado siga as recomendações.
"Vamos mover nove representações junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos",
disse a presidente da comissão
de direitos humanos da OAB,
Margarida Pressburger.
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