São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2001

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SAÚDE PÚBLICA

Serviços de desratização e combate ao mosquito da dengue são precários; captura de cães e gatos está suspensa

Pragas ameaçam "invadir" São Paulo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cães abandonados procriando-se pelas ruas, nuvens de pernilongos, baratas, ratazanas proliferando-se. Entre as "pragas" que a administração petista diz estar herdando, a ameaça dos bichos é a que mais ilustra o abandono dos serviços públicos. E a que mais preocupa em termos de saúde.
Desde 4 de outubro passado, a câmara que sacrifica animais está fechada. Na semana passada, uma liminar da Justiça proibiu o uso do laço na captura de cães e gatos. Estima-se que 8.000 perambulem pelas ruas. Um morcego desgarrado, infectado, pode trazer de volta a raiva afastada da cidade desde 1983 (leia texto na página).
A "irregularidade" nos programas de desratização e de combate ao Aedes aegypti pode duplicar os casos de leptospirose e espalhar a dengue na cidade. "O que sabemos, por enquanto, é que estamos sob várias ameaças", diz Fernando de Azevedo Corrêa, 70, que assumiu o Centro de Controle de Zoonoses há uma semana. Ex-professor de parasitologia, Corrêa deixou a coordenação dos Institutos de Pesquisas do Estado para dirigir um serviço de pouco prestígio, mas que reúne técnicos considerados de excelência.
A desratização é feita pelas administrações regionais, com participação dos núcleos regionais do Serviço de Zoonose. O veneno deve ser aplicado nos meses que antecedem as chuvas, entre setembro e outubro. De acordo com técnicos do serviço, a falta de veículos obrigou a uma seleção dos locais de riscos, limitando a desratização às margens dos principais córregos e afluentes.
O contato com a urina do rato causa a leptospirose, que no ano passado fez 2.078 vítimas, um número que, segundo técnicos, deve ser três vezes maior. Os meses de maior incidência são janeiro e fevereiro, por causa das chuvas e enchentes. O resultado da "desratização precária" realizada na primavera começa a ser medido agora pelos casos de leptospirose.
A campanha de combate e prevenção do Aedes foi terceirizada. O dinheiro vem do Ministério da Saúde para a prefeitura que repassa para um consórcio de empresas. Em setembro, o consórcio chegou a interromper os serviços por falta de pagamento. "Os profissionais do Serviço de Zoonoses, que são especialistas, é que deveriam estar à frente do programa", diz o vereador Adriano Diogo (PT). "Os pareceres técnicos que temos não são favoráveis às empresas", diz o diretor Corrêa. O contrato com o consórcio vai até abril, mas a Secretaria da Saúde quer mudanças rápidas.
São Paulo teve dois casos de dengue autóctones (contraídos no local) no início de 1999. O Aedes já foi identificado em pelo menos 33 dos 96 distritos administrativos. A presença do mosquito é o principal indicador de que a doença pode se propagar.
Também o mosquito culex está vencendo a briga. Trata-se do pernilongo comum, que não transmite doenças, mas inferniza as noites de moradores próximos ao rio Pinheiros. O Serviço de Zoonoses diz que não adianta colocar veneno se o mato da beira do rio não é cortado.


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