São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA

Polícia teme que, após morte de Dênis, líder do tráfico local, rivais iniciem briga pelo controle de pontos-de-venda de droga

PM tenta evitar guerra do tráfico na Rocinha
Antônio Gaudério/Folha Imagem
Comerciantes fecham lojas na Rocinha, zona sul do Rio, por determinação de traficantes, após a morte de Denir do Nascimento



PEDRO DANTAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A PM (Polícia Militar) ocupou ontem a favela da Rocinha (São Conrado, zona sul do Rio), por tempo indeterminado, na tentativa de impedir o início de uma guerra entre traficantes rivais pelo controle dos pontos-de-venda de droga do morro, após a morte de Denir Leandro do Nascimento, o Dênis da Rocinha, anteontem no presídio Bangu 1.
Dênis, 50, comandou durante duas décadas o tráfico na favela da Rocinha. Mesmo atrás das grades há 13 anos, ele determinava a sucessão no comando dos pontos-de-venda de cocaína e maconha, atualmente controlados pelo traficante conhecido como Lulu.
O tráfico na Rocinha -uma das maiores favelas do país, com uma população presumível de 150 mil habitantes- abastece parte da zona sul carioca.
Ao tomar conhecimento da morte de Dênis, moradores espalharam, na noite de anteontem, panos e plásticos pretos em sinal de luto em vários pontos da favela e na passarela de pedestres em frente à saída do túnel Dois Irmãos, que liga os bairros de São Conrado e Gávea.
Uma das bandeiras negras estava colocada a menos de 50 m do PPC (Posto de Policiamento Comunitário) da Rocinha.

Comércio fechado
Ontem, por volta de 12h15, o comércio começou a fechar suas portas na parte mais alta da favela. Às 12h30, a maioria dos comerciantes estabelecidos no largo do Boiadeiro e na via Ápia, os dois maiores centros comerciais da Rocinha, baixaram as portas, por ordem dos traficantes.
Um rapaz mulato, aparentando cerca de 20 anos, sem camisa e vestido com um bermudão cinza, foi o encarregado de ordenar o fechamento aos comerciantes. Ele não quis dar entrevista.
O presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Barcelos (uma localidade na favela), Paulo César Martins Vieira, o Amendoim, que participou no ano passado do programa televisivo "No Limite" (Rede Globo), chegou a pedir aos comerciantes que abrissem as portas, mas não foi atendido.
"Não existe ordem nenhuma. As pessoas ficam tão alopradas com esse negócio de notícia que acabam fazendo essa besteira. Mas isso é ruim para a imagem da comunidade", disse Amendoim à Folha.
A exemplo dos demais moradores e comerciantes da Rocinha, o líder comunitário não quis comentar a morte do traficante. "Não cheguei a conhecer ele", afirmou Amendoim.
Às 14h30, cerca de 70 policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais), do Getam (Grupamento Tático-Móvel) e do 13º, 4º e 23º Batalhões da Polícia Militar entraram na favela.
Os traficantes chegaram a soltar fogos de artifício, mas não houve troca de tiros.

Sem disputa
"Particularmente, acho que não vai haver nada, mas, já que existe o risco, vamos ocupar o morro para evitar uma disputa pelos pontos-de-venda de drogas", disse o comandante do 23º BPM, coronel Luiz Soares de Oliveira, comandante da operação.
De acordo com Oliveira, 30 homens do Batalhão de Choque estão de prontidão no caso de um confronto na Rocinha. O coronel disse que agentes do Serviço Reservado do 23º BPM estavam na Rocinha desde a divulgação da morte de Dênis.
Depois da ocupação, a primeira ação dos policiais foi a retirada das faixas de luto colocadas por traficantes. "É um exagero. Uma afronta ao Poder Público", disse Oliveira.
No enterro de Dênis, no cemitério São Francisco Xavier, no Caju (zona norte do Rio), apenas três pessoas esperavam o corpo do traficante. Uma mulher, que não se identificou, disse que dois ônibus trariam moradores da Rocinha para a cerimônia.
Agentes funerários informaram que parentes de Dênis, que não moram mais na Rocinha, pretendiam cremar o corpo, mas não conseguiram obter autorização judicial.
O corpo do traficante ainda pode ser submetido a nova necropsia para apurar as circunstâncias de sua morte.

Colaborou Karine Rodrigues, da Sucursal do Rio

Texto Anterior: Justiça: Procuradoria pede afastamento de dois prefeitos reeleitos no Piauí
Próximo Texto: Secretário diz que traficante foi morto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.