São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Monges vão a cinema, teatro e praia e têm celular

Clausura é encarada pelo beneditinos mais no aspecto espiritual do que físico

Mosteiro tem hoje 43 monges ou noviços; para virar monge, candidato tem de ser aprovado em votação feita pela comunidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Esqueça aquela imagem do monge que passa anos isolado do mundo. Os beneditinos vivem sempre no mesmo mosteiro, mas podem sair, ir a cinema, teatro e concertos, usam celular, passam férias na praia e, no caso dos que vivem no Mosteiro de São Bento, lutam para recuperar o centro de São Paulo.
"O monge não busca o paraíso pela "fuga mundi". Santo Antão [que teria vivido entre 251 e 356 e chegado aos 105 anos] vivia no deserto, mas voltava para a cidade sempre que havia problemas", ilustra Carlos Eduardo Uchôa.
A clausura, segundo ele, não é tanto uma questão física. "É mais uma questão espiritual, de silenciar o coração para ter foco na espiritualidade", afirma.
O mosteiro tem hoje 43 monges ou noviços, a maior parte deles na faixa entre os 20 e os 30 anos de idade. O candidato a monge tem de estudar cinco anos e meio. Entra como postulante, fase que dura seis meses. Fica dois anos como noviço. Após mais três anos, precisa ser aprovado pela comunidade para virar monge. Precisa estudar filosofia, teologia e línguas (latim, grego, francês, inglês e italiano, por exemplo).
Há votação, também, para a escolha do abade, superior espiritual do mosteiro. O cargo é vitalício. O abade atual, dom Mathias Tolentino Braga, é o 68º a ocupar essa função no Mosteiro de São Bento.
Os monges são reconhecidos pelo Vaticano, mas não fazem parte da hierarquia da igreja. Ou seja, nunca chegarão a bispo, cardeal ou papa. Podem ser abades, no máximo. Eles não podem rezar missas nem receber confissões de pecado. Há, porém, monges que são padres e, nesse caso, não há restrições.
A vida monástica é baseada no lema "ora et labora". Os monges beneditinos de São Paulo dão aulas no colégio e na faculdade, trabalham com cultura e são famosos pelos pães que fazem. Sobrevivem com o que ganham com esses trabalhos, com a fazenda que têm em Mogi das Cruzes e com aluguel de imóveis.
O Colégio São Bento fecha o ano com uma dívida de cerca de R$ 400 mil, segundo dom Mathias. A padaria cobre o rombo, diz ele. O ensino secundário foi fechado em 2009.
A situação já foi pior. O colégio corria o risco de fechar em 2003, justamente no seu centenário, quando foi salvo por uma doação de R$ 2,5 milhões, feita por Antonio Ermírio de Moraes (do grupo Votorantim), Lázaro Brandão (Bradesco) e por José Safra (do banco homônimo). "Sem essa doação, o colégio teria fechado", conta dom Mathias. O curioso é que um dos salvadores do colégio, Safra, é judeu.
Atualmente, 143 dos 280 alunos do colégio são chineses ou filhos de chineses, a maioria deles comerciantes na rua 25 de Março. Mulheres, proibidas de estudar lá até 1975, são maioria.
No ano passado, o governo chinês deu ao colégio uma condecoração pelo "ensino exemplar" de mandarim. Só 58 escolas no mundo receberam essa honraria, de acordo com dom Mathias. (MARIO CESAR CARVALHO)


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