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Monges vão a cinema, teatro e praia e têm celular
Clausura é encarada pelo beneditinos mais no aspecto espiritual do que físico
Mosteiro tem hoje 43 monges ou noviços; para virar monge, candidato tem de ser aprovado em votação feita pela comunidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Esqueça aquela imagem do
monge que passa anos isolado
do mundo. Os beneditinos vivem sempre no mesmo mosteiro, mas podem sair, ir a cinema,
teatro e concertos, usam celular, passam férias na praia e, no
caso dos que vivem no Mosteiro de São Bento, lutam para recuperar o centro de São Paulo.
"O monge não busca o paraíso pela "fuga mundi". Santo Antão [que teria vivido entre 251 e
356 e chegado aos 105 anos] vivia no deserto, mas voltava para a cidade sempre que havia
problemas", ilustra Carlos
Eduardo Uchôa.
A clausura, segundo ele, não
é tanto uma questão física. "É
mais uma questão espiritual, de
silenciar o coração para ter foco
na espiritualidade", afirma.
O mosteiro tem hoje 43 monges ou noviços, a maior parte
deles na faixa entre os 20 e os
30 anos de idade. O candidato a
monge tem de estudar cinco
anos e meio. Entra como postulante, fase que dura seis meses.
Fica dois anos como noviço.
Após mais três anos, precisa ser
aprovado pela comunidade para virar monge. Precisa estudar
filosofia, teologia e línguas (latim, grego, francês, inglês e italiano, por exemplo).
Há votação, também, para a
escolha do abade, superior espiritual do mosteiro. O cargo é
vitalício. O abade atual, dom
Mathias Tolentino Braga, é o
68º a ocupar essa função no
Mosteiro de São Bento.
Os monges são reconhecidos
pelo Vaticano, mas não fazem
parte da hierarquia da igreja.
Ou seja, nunca chegarão a bispo, cardeal ou papa. Podem ser
abades, no máximo. Eles não
podem rezar missas nem receber confissões de pecado. Há,
porém, monges que são padres
e, nesse caso, não há restrições.
A vida monástica é baseada
no lema "ora et labora". Os
monges beneditinos de São
Paulo dão aulas no colégio e na
faculdade, trabalham com cultura e são famosos pelos pães
que fazem. Sobrevivem com o
que ganham com esses trabalhos, com a fazenda que têm em
Mogi das Cruzes e com aluguel
de imóveis.
O Colégio São Bento fecha o
ano com uma dívida de cerca de
R$ 400 mil, segundo dom Mathias. A padaria cobre o rombo,
diz ele. O ensino secundário foi
fechado em 2009.
A situação já foi pior. O colégio corria o risco de fechar em
2003, justamente no seu centenário, quando foi salvo por uma
doação de R$ 2,5 milhões, feita
por Antonio Ermírio de Moraes (do grupo Votorantim),
Lázaro Brandão (Bradesco) e
por José Safra (do banco homônimo). "Sem essa doação, o colégio teria fechado", conta dom
Mathias. O curioso é que um
dos salvadores do colégio, Safra, é judeu.
Atualmente, 143 dos 280 alunos do colégio são chineses ou
filhos de chineses, a maioria deles comerciantes na rua 25 de
Março. Mulheres, proibidas de
estudar lá até 1975, são maioria.
No ano passado, o governo
chinês deu ao colégio uma condecoração pelo "ensino exemplar" de mandarim. Só 58 escolas no mundo receberam essa
honraria, de acordo com dom
Mathias.
(MARIO CESAR CARVALHO)
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