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Boom imobiliário agrava enchente em SP
Aumento da impermeabilização do solo causa chuvas mais densas e acúmulo de água em regiões de vale
EDUARDO GERAQUE
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As mortes e as perdas materiais causadas pelas avalanches
de água na cidade têm algum
grande culpado?
Seria "são Pedro", que protagonizou o terceiro mês de dezembro mais chuvoso desde
1943, ou os governos, que permitiram a ocupação desordenada da cidade?
O ritmo de impermeabilização de São Paulo dá uma boa
pista. Na última década, ele
cresceu mais de 50%.
A linha escolhida pelas diferentes gestões, segundo especialistas, é a mais cara: remediar em vez de prevenir.
"A verticalização da cidade é
muito grande. Esse é um grande problema, apesar de que
também está chovendo muito
em São Paulo", diz Augusto Pereira Filho, especialista em
ciências atmosféricas da USP.
O cenário descrito pelo pesquisador é real, ele ocorreu na
última virada de ano. Pelo radar, era possível detectar nuvens ao redor da região metropolitana de São Paulo com 10
km de altura. No mesmo instante, na tarde do dia 1º, as nuvens sobre a metrópole chegavam aos 18 km de altura. O que
indica muita água no céu.
Onde antes havia terra, grama ou árvore agora há cimento
e asfalto. Isso cria calor. Ou seja, sem construções que realmente aumentem as áreas verdes da capital, a própria cidade
vai continuar turbinando as
chuvas que se formam sobre
ela. E, neste ano, o El Niño, naturalmente, tem feito sua parte.
Chuva forte e concentrada é
alto risco na certa. A água, por
causa do solo muito impermeável, não chega aos lençóis freáticos. O sistema de drenagem,
dimensionado para um volume
de águas menor, é ineficiente. O
processo termina nos alagamentos constantes.
O prefeito Gilberto Kassab
(DEM) está certo quando diz
que chove muito. Mas o grande
volume de água é fruto da ocupação urbana caótica, permitida por ele e seus antecessores.
Drenagem
A prefeitura vai contratar
nos próximos meses um plano
diretor de drenagem. A ideia é
mapear a situação de toda a cidade em relação à capacidade
de drenagem (galerias, bocas de
lobo, piscinões), volume histórico de chuvas e impermeabilização. O plano deve ficar pronto em três anos.
O objetivo é deve apontar,
por exemplo, que uma determinada região está no limite de
impermeabilização e que precisará de obras como piscinões
ou de mais parques.
Será a primeira vez que um
projeto desses é feito na cidade.
A região metropolitana já conta
com um plano de macrodrenagem desde a década de 1980,
mas o diagnóstico vale apenas
para as grandes bacias hidrográficas e não aborda a questão
do sistema de microdrenagem.
Outra medida apontada é a
criação de parques lineares,
que recuperam as várzeas dos
rios e podem ser usados como
área de lazer no restante do
ano. O governo diz que há sete
parques lineares prontos e 20
em obras. Segundo Eduardo
Jorge, secretário do Verde e
Meio Ambiente, eles ajudarão a
evitar a criação de novas áreas
críticas para enchentes.
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