São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Boom imobiliário agrava enchente em SP

Aumento da impermeabilização do solo causa chuvas mais densas e acúmulo de água em regiões de vale

EDUARDO GERAQUE
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As mortes e as perdas materiais causadas pelas avalanches de água na cidade têm algum grande culpado?
Seria "são Pedro", que protagonizou o terceiro mês de dezembro mais chuvoso desde 1943, ou os governos, que permitiram a ocupação desordenada da cidade?
O ritmo de impermeabilização de São Paulo dá uma boa pista. Na última década, ele cresceu mais de 50%.
A linha escolhida pelas diferentes gestões, segundo especialistas, é a mais cara: remediar em vez de prevenir.
"A verticalização da cidade é muito grande. Esse é um grande problema, apesar de que também está chovendo muito em São Paulo", diz Augusto Pereira Filho, especialista em ciências atmosféricas da USP.
O cenário descrito pelo pesquisador é real, ele ocorreu na última virada de ano. Pelo radar, era possível detectar nuvens ao redor da região metropolitana de São Paulo com 10 km de altura. No mesmo instante, na tarde do dia 1º, as nuvens sobre a metrópole chegavam aos 18 km de altura. O que indica muita água no céu.
Onde antes havia terra, grama ou árvore agora há cimento e asfalto. Isso cria calor. Ou seja, sem construções que realmente aumentem as áreas verdes da capital, a própria cidade vai continuar turbinando as chuvas que se formam sobre ela. E, neste ano, o El Niño, naturalmente, tem feito sua parte.
Chuva forte e concentrada é alto risco na certa. A água, por causa do solo muito impermeável, não chega aos lençóis freáticos. O sistema de drenagem, dimensionado para um volume de águas menor, é ineficiente. O processo termina nos alagamentos constantes.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) está certo quando diz que chove muito. Mas o grande volume de água é fruto da ocupação urbana caótica, permitida por ele e seus antecessores.

Drenagem
A prefeitura vai contratar nos próximos meses um plano diretor de drenagem. A ideia é mapear a situação de toda a cidade em relação à capacidade de drenagem (galerias, bocas de lobo, piscinões), volume histórico de chuvas e impermeabilização. O plano deve ficar pronto em três anos.
O objetivo é deve apontar, por exemplo, que uma determinada região está no limite de impermeabilização e que precisará de obras como piscinões ou de mais parques.
Será a primeira vez que um projeto desses é feito na cidade. A região metropolitana já conta com um plano de macrodrenagem desde a década de 1980, mas o diagnóstico vale apenas para as grandes bacias hidrográficas e não aborda a questão do sistema de microdrenagem.
Outra medida apontada é a criação de parques lineares, que recuperam as várzeas dos rios e podem ser usados como área de lazer no restante do ano. O governo diz que há sete parques lineares prontos e 20 em obras. Segundo Eduardo Jorge, secretário do Verde e Meio Ambiente, eles ajudarão a evitar a criação de novas áreas críticas para enchentes.


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