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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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SISTEMA CARCERÁRIO

Muro foi explodido e detentos estavam com granada, fuzis e pistolas; motim durou quase 17 horas

Rebelião deixa 1 morto e 7 feridos em Bangu

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
Vista do presídio Bangu 4, onde ocorreu uma tentativa de fuga, frustrada pela PM, seguida de rebelião de presos de quase 17 horas


FERNANDA DA ESCÓSSIA
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Uma tentativa de fuga do presídio Bangu 4 (zona oeste do Rio) resultou numa rebelião de quase 17 horas, encerrada no início da tarde de ontem com um preso morto, seis presos feridos e um agente penitenciário baleado.
Explosivos foram usados para abrir um buraco no muro na parte de trás do presídio. Com os cerca de 900 presos amotinados, foram encontradas uma granada e armas como fuzis e pistolas.
Os três agentes penitenciários tomados como reféns foram libertados com vida. Os detentos de Bangu 4 integram a facção criminosa CV (Comando Vermelho). Segundo a Polícia Militar e a Secretaria da Administração Penitenciária, o tumulto começou por volta das 20h40 de anteontem, quando houve a explosão do muro da unidade.
Logo depois, cerca de dez homens, do lado de fora do presídio, teriam trocado tiros com o policial militar de plantão na guarita. O grupo teria chegado pela mata que fica nos fundos de Bangu 4.
Um grupo armado do Soe (Serviço de Operações Externas) do Departamento do Sistema Penitenciário chegou e começou a trocar tiros com os presos, matando um deles e ferindo seis. O agente penitenciário Thales Costa Lima foi baleado no peito.

Contradições

As versões sobre a origem da explosão são contraditórias.
O secretário da Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, disse que os explosivos foram colocados pelo grupo que atacou o presídio. Segundo o secretário, não foram vistos carros transportando o grupo, porque eles chegaram pela mata. "Estavam a pé ou a cavalo", afirmou.
Pelo buraco no muro, de acordo com ele, podem ter sido passadas armas aos detentos. Santos não descartou, porém, a hipótese de que os presos já tivessem armas. Santos disse que não houve falha na segurança.
O delegado-adjunto da 34ª DP (Delegacia de Polícia), Cândido Ribeiro, encarregado do caso, disse que os três agentes foram tomados reféns antes mesmo da explosão. Um dos reféns, Édson da Silva, prestou depoimento ontem à tarde e disse, segundo o delegado, ter sido detido no corredor D. Só depois disso ele teria ouvido a explosão e os tiros.
Ribeiro disse duvidar do ataque do lado de fora do presídio, pois a movimentação dos presos começou antes mesmo da explosão.
Pela afirmação do delegado, os presos já teriam os explosivos, o que contradiz o secretário da Administração Penitenciária -secretaria criada pela governadora Rosinha Matheus (PSB) por causa das rebeliões nos presídios e da entrada de armas e celulares.
Desde que a governadora Rosinha assumiu, em janeiro, o motim de Bangu 4 foi o segundo. E aconteceu no mesmo dia da apreensão, em Bangu 1 (no mesmo complexo), de um radiotransmissor que pode ser do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
O governo chegou a anunciar, ao meio-dia de ontem, o fim da rebelião, mas depois voltou atrás. O último refém foi libertado por volta da 13h30.
Astério Santos também não confirmou a versão inicial da polícia para a rebelião, segundo a qual Bangu 4 teria sido atacado com uma bazuca como forma de desviar a atenção da segurança e permitir a fuga de Neifrance da Silva Nunes, o Nei Sapo, líder do tráfico da favela do Jacarezinho (zona norte), preso em Bangu 3.

Negociação

Um grupo do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) conduziu as negociações com os presos. Um preso que se identificou apenas como Hermes, da favela de Vigário Geral, comandava os amotinados.
As negociações foram interrompidas por volta das 2h e retomadas às 7h. Por volta das 11h30, os presos apresentaram uma lista de reivindicações, entre elas pedidos de transferências, melhora na qualidade da comida servida dos detentos e no programa de assistência jurídica.
O secretário da Administração Penitenciária disse que as reivindicações não haviam sido atendidas, e que os presos concordaram em entregar as armas -dois fuzis, cinco pistolas, um machado, nove facas, uma granada, quatro radiotransmissores e um carregador de fuzil.
A secretaria da Administração Penitenciária informou no início da noite de ontem que o detento morto em Bangu 4 era Paulo César Santiago. Até o início da tarde estava sendo divulgado outro nome. Os nomes do feridos não haviam sido divulgados até o fechamento desta edição.


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