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DANUZA LEÃO
O amor e o poder
A nudez pública da namorada do presidente é, no mínimo, embaraçosa. Sarkozy deu prova de ser audacioso
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MESMO COM o Carnaval pegando fogo, não consegui
me desligar do affair Sarkozy/Carla Bruni. Como estava em
Paris no momento do primeiro encontro (público) dos pombinhos, na
Eurodisney, e nas viagens que se seguiram, segui de perto o caso pelos
jornais europeus, que aliás não deram trégua. Na primeira coletiva do
ano, o presidente disse aos 600 jornalistas presentes que o caso era sério e que, se houvesse casamento,
eles só saberiam depois -e assim foi
feito. Desde o início do romance, a
popularidade do presidente caiu sete pontos.
Grande parte dos franceses aceita,
sem drama, as infidelidades conjugais, mas delas não se fala; vide
François Mitterrand, que teve uma
filha fora do casamento, mas o fato
só foi sabido depois de sua morte. Há
cerca de dois anos a ex de Sarkozy,
Cecilia, abandonou o marido para
viver uma história de amor em Nova
York, com direito à capa de revista e
tudo; um mês depois foi recebida de
volta ao lar sem nenhum problema.
Houve a campanha eleitoral, Sarkozy ganhou as eleições, mesmo
sem o voto de sua mulher no segundo turno, e não demorou para, já primeira-dama da França, Cecilia pedir o divórcio.
O romance do já presidente com a
ex-modelo começou três meses
mais tarde, e sete semanas depois,
houve o casamento. Acontece que
Carla, antes de conhecer Sarkozy,
havia posado -nua- para uma revista espanhola. A nudez pública da
namorada do presidente de um país
é, no mínimo, embaraçosa. Pois Sarkozy deu prova de ser audacioso,
ousado e, sobretudo, provocador:
dias depois das fotos serem publicadas no mundo inteiro, a imprensa foi informada do casamento,
realizado numa cerimônia íntima
no Elysée.
Paixão? Pode até ser, mas é claro
que essa união deve ter tido um delicioso sabor de vingança, em relação a sua ex, Cecilia, que deixou o
marido duas vezes diante do país
inteiro. Abandonos, quanto mais
públicos, mais ferem.
E Carla? Bonita, uma carreira de
cantora e compositora mais para o
medíocre, conseguiu chegar a um
posto com o qual jamais teria ousado sonhar. Ambiciosa ela é, pois a
lista dos seus casos, só com homens famosos, inclui Donald
Trump -e esse, francamente, não
dá. Além disso, sua vida era bem
alegre; viajava o tempo todo, fazia o
que queria, e é exatamente aí que
entra minha curiosidade.
É claro que Sarkozy deve ter seus
charmes, ao quais ser um dos homens mais importantes do mundo
só acrescenta. Mas ele é também
muito ocupado; faz viagens relâmpago pela França e ao exterior, e eu
queria muito saber da primeira
manhã de Carla no Elysée. Ele a
abraça, dá um beijo, e sai para trabalhar; ela fica na cama, cercada
pelos veludos e dourados do palácio presidencial; faz o quê? Liga para uma amiga e convida para conhecer seu novo lar? Ou lembra de
ter visto uma bolsa em uma loja e
sai para comprar -com cinco seguranças e um punhado de paparazzi atrás? Nos primeiros dias pode até ser engraçado, mas durante
cinco anos? E a vida oficial? Quando Sarkozy for jantar com o prefeito de Lyon, Carla também vai, para
conversar com a esposa? Fácil não
vai ser, divertido, menos ainda -e
Carla Bruni não tem nada em comum com Bernadette Chirac.
Quem deve estar se mordendo é
a ex, Cecilia, e torcendo para ver o
circo pegar fogo. Porque esse circo
vai pegar fogo; não sei como nem
quando, mas é só esperar.
A França está mudando muito
rápido, e o resultado das eleições
municipais deste ano vai dizer o
que os franceses estão achando
dessas mudanças.
Quem deve estar adorando é Ségolène Royal.
danuza.leao@uol.com.br
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