São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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GUERRILHA URBANA
Megaoperação, que durou 4 h e envolveu dois helicópteros, deteve 10 suspeitos e apreendeu 4 armas
Polícia ocupa favela com 450 homens

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Renan da Silva Gomes, 3 anos, observa megaoperação da polícia na favela Heliópolis, em São Paulo, para prender líder do tráfico local


 Na avaliação dos policiais, ação em Heliópolis foi bem-sucedida

 Disputa de gangues do tráfico já deixou 26 mortos desde dezembro

CHICO DE GOIS
ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

A polícia de São Paulo mobilizou ontem 450 homens e dois helicópteros em uma megaoperação na favela Heliópolis (zona sudeste). Após quatro horas de buscas, o saldo da operação foi de dez suspeitos detidos, além de quatro armas e pequenas porções de cocaína, maconha e crack apreendidas.
Apesar do pouco resultado prático da operação, a ação foi considerada um sucesso pelos policiais.
"O objetivo foi mostrar à população que estamos presentes", disse o delegado Ubiracyr Pires da Silva, titular da Divisão de Entorpecentes do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos). "Com ações desse tipo, queremos dar tranquilidade aos moradores", disse Silva.
Nenhum líder do tráfico foi encontrado. Segundo a polícia, o local é dominado por Lusérgio Soares de Oliveira, o Sujeirinha, considerado o chefe do tráfico.
A disputa por pontos de venda de drogas entre Sujeirinha e Wilson Andrade Souza, o Barriga, da vizinha favela Paraguai, na Vila Prudente, já deixou 26 mortos desde dezembro. Sob ameaça, os moradores de 390 barracos das favelas Paraguai e Sem Terra abandonaram suas casas.
A ação começou por volta de 9h e terminou às 13h. Até mesmo prédios do Cingapura foram revistados porque havia a informação de que traficantes estariam ocupando alguns apartamentos.

Drogas
Num barraco à beira de um córrego, policiais localizaram um ponto de tráfico. No local, havia cerca de 100 gramas de cocaína, pedras de crack, uma balança, telefone celular e álbuns de fotos.
Ao perceber a aproximação dos investigadores, os ocupantes fugiram pelo córrego. Um adolescente, apontado como um dos soldados do tráfico, foi preso.
A Polícia Militar apreendeu, em outro barraco, aproximadamente 500 gramas de cocaína, além de gesso, que seria misturado à droga para aumentar o lucro.
Em outra casa da favela foram recolhidos um revólver e munição para fuzil e para pistola 45. Nessa casa, Terezinha Bononi Milani foi morta com vários tiros no mês passado. Ainda há manchas de sangue no chão e nas paredes. A polícia não descobriu os responsáveis pelo crime.
Na mesma rua foi encontrada uma certidão de nascimento falsa em nome de Mateus Próspero de Souza. O documento pertenceria a Rony Pereira dos Santos Alves, procurado pela Justiça por roubo e formação de quadrilha.
Entre as pessoas detidas estava Osmar Francisco Rodrigues, condenado a 12 anos de prisão por roubo. Três pessoas encaminhadas à delegacia por consumo de drogas e outras três por porte ilegal de armas deveriam ser liberadas depois de pagar fiança. O adolescente detido por infração seria encaminhado à Febem.
No total, a polícia vistoriou 50 estabelecimentos comerciais, 120 residências e 300 pessoas.
A favela Heliópolis é a maior de São Paulo, com uma população estimada em 80 mil habitantes. Ela ocupa uma área de cerca de 1 milhão de m2, quase o tamanho do parque Ibirapuera.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que 49% dos moradores têm até 22 anos.

Combate homeopático
O delegado Ubiracyr Pires da Silva disse que a favela Heliópolis concentra microtraficantes. Para ele, ao realizar operações de busca e apreensão como as de ontem, a polícia acaba, aos poucos, com o tráfico na favela.
O comandante do Policiamento de Choque, Osvaldo de Barros Júnior, reconheceu que o resultado prático ficou abaixo do esperado. Mas afirmou que a mobilização de vários policiais teve como objetivo "recuperar a área".
Barros Júnior disse que a Rota continuará patrulhando as ruas da favela 24 horas por dia. "As operações vão continuar", afirmou. "Elas acontecerão em locais e dias alternados."



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