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Traficantes aterrorizam hospital
MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio
O Hospital Estadual Colônia
Curupaiti, em Jacarepaguá (zona
oeste do Rio), especializado no
atendimento a pacientes de hanseníase ou com sequelas da doença, está sofrendo com a violência
do tráfico de uma favela vizinha.
Na segunda-feira de Carnaval,
um homem perseguido por um
grupo de supostos traficantes da
favela do Jordão foi morto a pauladas, à luz do dia, em uma das vilas da colônia onde moram ex-hansenianos com suas famílias.
Os criminosos ainda degolaram a
vítima e deixaram o corpo, sem a
cabeça, no meio da rua.
Na sexta-feira passada, o posto
de pagamento dos funcionários
da colônia, quase todos pacientes
sequelados, foi assaltado por um
bando armado, que levou R$ 22,8
mil.
Segundo empregados ouvidos
pela Folha, já houve outros casos
de homicídios e assaltos dentro
dos limites do Curupaiti, que é separado da favela apenas por um
muro. Na parte mais alta da colônia, o muro tem uma porta que fica permanentemente aberta, possibilitando o livre trânsito de pessoas de um lado para o outro.
Na porta, foi inscrita a sigla CV,
do Comando Vermelho, principal organização criminosa do tráfico de drogas no Rio. Mais abaixo, a 50 m dali, a mesma inscrição
está no asfalto da rua da vila 4, onde ocorreu o último assassinato.
Ontem, uma grande mancha no
chão dessa vila, em frente às casas
de números 17 e 30, ainda podia
ser vista. Segundo os moradores,
foi ali que ocorreu o crime. Como
a vila é em aclive, a mancha de
sangue escorre por cerca de 5 m.
Os moradores das quatro vilas
da colônia -cerca de 1.500 pessoas, das quais 860 são pacientes- estão com medo e pouco falam a respeito da violência.
Atualmente, apenas um policial
militar faz a segurança do Curupaiti -uma área total de 450 mil
metros quadrados-, mas não
patrulha a região mais alta, próxima ao acesso à favela. Há também
quatro seguranças patrimoniais
desarmados: dois na portaria, um
no ambulatório e um no hospital.
"A segurança nos preocupa.
Precisaríamos de pelo menos um
carro da PM circulando aqui direto. Já solicitei reforços, e nada",
disse a diretora-geral do hospital,
Deolinda Brazão.
Dois funcionários da unidade
afirmaram à Folha haver pontos-de-venda de drogas dentro da colônia, mas a diretora declarou não
ter conhecimento disso.
O hospital, que existe há 72
anos, realiza 6.000 consultas por
mês para casos de hanseníase e
doenças dermatológicas e mais
2.000 de outras especialidades. No
local, pacientes e familiares dispõem de campo de futebol, quadra esportiva, oficinas de terapia
ocupacional e templos religiosos.
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