São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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Traficantes aterrorizam hospital

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

O Hospital Estadual Colônia Curupaiti, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), especializado no atendimento a pacientes de hanseníase ou com sequelas da doença, está sofrendo com a violência do tráfico de uma favela vizinha.
Na segunda-feira de Carnaval, um homem perseguido por um grupo de supostos traficantes da favela do Jordão foi morto a pauladas, à luz do dia, em uma das vilas da colônia onde moram ex-hansenianos com suas famílias. Os criminosos ainda degolaram a vítima e deixaram o corpo, sem a cabeça, no meio da rua.
Na sexta-feira passada, o posto de pagamento dos funcionários da colônia, quase todos pacientes sequelados, foi assaltado por um bando armado, que levou R$ 22,8 mil.
Segundo empregados ouvidos pela Folha, já houve outros casos de homicídios e assaltos dentro dos limites do Curupaiti, que é separado da favela apenas por um muro. Na parte mais alta da colônia, o muro tem uma porta que fica permanentemente aberta, possibilitando o livre trânsito de pessoas de um lado para o outro.
Na porta, foi inscrita a sigla CV, do Comando Vermelho, principal organização criminosa do tráfico de drogas no Rio. Mais abaixo, a 50 m dali, a mesma inscrição está no asfalto da rua da vila 4, onde ocorreu o último assassinato.
Ontem, uma grande mancha no chão dessa vila, em frente às casas de números 17 e 30, ainda podia ser vista. Segundo os moradores, foi ali que ocorreu o crime. Como a vila é em aclive, a mancha de sangue escorre por cerca de 5 m.
Os moradores das quatro vilas da colônia -cerca de 1.500 pessoas, das quais 860 são pacientes- estão com medo e pouco falam a respeito da violência.
Atualmente, apenas um policial militar faz a segurança do Curupaiti -uma área total de 450 mil metros quadrados-, mas não patrulha a região mais alta, próxima ao acesso à favela. Há também quatro seguranças patrimoniais desarmados: dois na portaria, um no ambulatório e um no hospital.
"A segurança nos preocupa. Precisaríamos de pelo menos um carro da PM circulando aqui direto. Já solicitei reforços, e nada", disse a diretora-geral do hospital, Deolinda Brazão.
Dois funcionários da unidade afirmaram à Folha haver pontos-de-venda de drogas dentro da colônia, mas a diretora declarou não ter conhecimento disso.
O hospital, que existe há 72 anos, realiza 6.000 consultas por mês para casos de hanseníase e doenças dermatológicas e mais 2.000 de outras especialidades. No local, pacientes e familiares dispõem de campo de futebol, quadra esportiva, oficinas de terapia ocupacional e templos religiosos.



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