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Jovem fica 1 h preso após xingar Bush
O artista urbano André Selite, 19, foi detido por policiais militares e levado para uma cela mesmo sem acusação formal
Advogados afirmam que houve abuso de poder; privação de liberdade só se justifica com ordem judicial ou prisão em flagrante
CLÁUDIA COLLUCCI
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
BRUNO MIRANDA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
Após xingar o presidente dos
EUA, George W. Bush, o artista
urbano André Selite, 19, foi detido por policiais militares, levado a uma delegacia de polícia
e colocado em uma cela, onde
permaneceu por mais de uma
hora até ser liberado sem nenhuma acusação. Para advogados criminalistas, o procedimento configura abuso de autoridade da polícia.
A confusão teve início após a
chegada da comitiva da primeira-dama Laura Bush à ONG Cidade Escola Aprendiz, na rua
Belmiro Braga, na Vila Madalena, na manhã de ontem. Moradores do local dizem que Selite
gritou: "Bush, filho da p...". Ele
alega, porém, que falou a frase
durante uma entrevista a uma
rádio alemã.
Imediatamente, o jovem, que
estava sem camisa, foi abordado por um policial militar. A
Folha presenciou quando o policial ordenou que ele saísse do
local, ou seria detido.
O artista respondeu que não
sairia e que não seria detido
porque não estava cometendo
nenhum crime. O policial, então, pediu um documento. Como ele não tinha, foi levado para o 14º DP.
Selite afirma que foi colocado
numa cela, sozinho, por pouco
mais de uma hora. Segundo ele,
os policiais não o maltrataram
nem a caminho do DP e nem no
período em que ficou na cela.
Advogados
Para o advogado Fernando
Castelo Branco, professor de
processo penal da PUC-SP, por
não portar documentos e agir
de forma inconveniente, Selite
poderia ter sido levado para a
delegacia para a confirmação
da identidade. Mas não deveria
ter ficado detido. "A privação
da liberdade só existe por ordem judicial ou prisão em flagrante. Não houve justificativa
legal para a prisão."
Segundo ele, pelo fato de ter
xingado Bush, Selite poderia
ser processado por injúria caso
o presidente norte-americano
ou o ministro da Justiça brasileira formulasse uma queixa
formal.
Outra hipótese, segundo
Castelo Branco, seria enquadrá-lo por perturbação do sossego e da ordem, prevista na Lei
das Contravenções Penais.
"Mas isso não justificaria a prisão, ainda que por uma hora."
A mesma avaliação tem o advogado criminalista Alberto
Zacharias Toron. "A pessoa pode ser levada a uma delegacia
para tirar a impressão datiloscópica, mas mantê-lo preso é
um ato abusivo e inaceitável. É
abuso de autoridade."
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