São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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Fã de Robinho, agenciador espanhol promete emprego, mas exige comissão

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

À mesa de um restaurante perto da Plaza Mayor, um dos lugares mais visitados de Madri, surge a dica sobre como e onde conseguir "trabajo". A senha é procurar a piscina desativada de Marbella, na periferia de Madri, perto de outra praça, a Elíptica, não tão conhecida e histórica quanto a Mayor. Ao lado de um ginásio da avenida Oporto está a porta de entrada de muitos brasileiros no mercado de trabalho espanhol.
É em Plaza Elíptica que está uma churrascaria com anúncio em português no letreiro (rodízio de carne, baby beef, restaurante e cafeteria, em letras prateadas e acompanhadas de um touro) e que poderia ser confundida com um bar da Vila Madalena. Dentro da churrascaria de Marbella é onde costumam se reunir aliciadores de trabalhadores e brasileiros à procura de trabalho.
Na tarde de ontem, enquanto a população espanhola votava, a Folha foi a Marbella. No estacionamento do lugar, um trio de brasileiros deu mais informações sobre quem poderia ajudar a arranjar um trabalho em Madri, tudo ali mesmo, em Marbella. Enquanto se preparavam para entrar em seus carros, todos Golfs modelos antigos e algo avariados, os brasileiros disseram que um certo Miguel Luis era o "cara".
Espanhol, Miguel Luis ainda não estava na churrascaria, segundo os brasileiros, mas chegaria ainda antes de anoitecer. Questionados sobre como poderia identificar Miguel Luis, os brasileiros riram e soltaram: "Você não vai ter dúvida, o homem é um ímã! Quando ele chega, todo mundo cola perto".

"El Puto Amo"
Como dito pelos brasileiros, todos de Goiás, atualmente trabalhadores da construção civil espanhola com salários entre 1.500 e 2.000 euros, Miguel Luis chegou antes de anoitecer e a sua entrada teve o efeito anunciado. Miguel Luis vestia uma camisa 7 do Real Madri, com a frase "El Puto Amo" (gíria em espanhol para chefão) estampada nas costas.
Falar de futebol foi o assunto que o repórter usou para abordar Miguel Luis. Com um copo de cerveja na mão, o espanhol sorriu e perguntou se o repórter era da terra de Robinho. Ouviu que sim. Minutos depois, o que realmente importava: a Folha diz que ele fora indicado por brasileiros como "hermano de los trabajos en Madrid".
Ele pede uma cerveja ao interlocutor, que paga. Depois, diz não ter como ajudar a arranjar trabalho, "mas que alguns amigos sabiam onde e como conseguir". Enquanto bebia, voltou a falar de futebol.
Então, de repente, o espanhol disse que poderia arrumar "trabajo de camarero" (garçom). Para valorizar, tentou dizer que era a última vaga que tinha, que já havia sido reservada para outro "brasileño", mas que, como ele havia sido retido por "La Migra" no aeroporto internacional de Barajas, bastava o repórter se apresentar novamente em Marbella, na manhã de hoje (segunda-feira), para trabalhar até sábado e receber 800 euros (R$ 2.032) mensais, 200 semanais, "se não faltar ou cometer burradas".
Ao ouvir do repórter a contraproposta de que ele também queria se tornar um "mileurista", ou seja, ser um cidadão com salário médio mensal de pelo menos mil euros, Miguel Luis riu outra vez e soltou, irônico: "É pegar ou largar, ok?". "Se quiser começar a provar seu valor, pode vir aqui amanhã, às 7h, para ir ao local de trabalho às 8h. Deixe o seu passaporte comigo, pois será a minha e a sua garantia. Assim que você começar, acertaremos minha comissão."
Na hora marcada para começar o trabalho de "camarero" em Madri, o repórter já embarcava no aeroporto de Barajas rumo a São Paulo, deixando o emprego obtido para outro "hermano brasileño" com o sonho de fazer a vida na Espanha.


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