São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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Comandante da PM revela que fora informado anteontem; desde janeiro, governo acompanha movimentação do grupo de Dudu

Polícia sabia do planejamento da invasão

Severino Silva/Agência O Dia
Corpo de Wellington da Silva, que foi baleado na Rocinha, onde também foi morta Fabiana Oliveira


MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Desde janeiro deste ano que a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio sabia que traficantes fiéis ao ex-chefão Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, tentariam retomar o controle das "bocas" de cocaína e maconha da favela da Rocinha (zona sul).
Apesar dos alertas da Subsecretaria de Inteligência da pasta estadual, que investigava as articulações de Dudu com outros líderes da facção CV (Comando Vermelho), a Polícia Militar foi incapaz de evitar a invasão, os tiroteios e a morte, até a conclusão desta edição, de três inocentes e de dois policiais militares.
O comandante-geral da PM, coronel Renato Hottz, disse, em entrevista à tarde na sede do comando da corporação, que, por volta das 18h de anteontem, foi informado de que ocorreria uma tentativa de invasão na Rocinha.
Hottz afirmou ter destacado 180 policiais militares, de vários batalhões, para o patrulhamento da favela. O contingente não conseguiu impedir a ação dos criminosos e as mortes.
Mesmo assim, o comandante disse considerar que não houve falhas no policiamento da região a partir da noite de anteontem.
"A polícia não pode estar em todas as áreas ao mesmo tempo. A Rocinha é um mundo. Se não houvesse a intervenção da polícia, teríamos uma situação lastimável", afirmou o coronel.
Após o tiroteio da madrugada, a PM reforçou o policiamento na Rocinha com mais 120 homens. Cerca de 80 policiais civis também foram deslocados para a favela. Houve reforço ainda nos acessos à avenida Niemeyer e na auto-estrada Lagoa-Barra, perto de onde ocorreram os tiroteios.
Para o comandante da PM, a ação policial é prejudicada pelos clientes do tráfico.
"Ao comprar a droga, ele [o usuário] deposita dinheiro no cofre dos traficantes. Com o dinheiro, o traficante compra a arma, como a que matou a moça [Telma Pinto Veloso] na avenida Niemeyer , afirmou Hottz.
O coronel repetiu o que costuma dizer o secretário estadual de Segurança, Anthony Garotinho. Para ele, o Rio sofre com a suposta omissão do governo federal no policiamento das fronteiras.
"O Rio não produz armas e não produz drogas. A polícia do Rio não é a culpada", disse, sem citar a Polícia Federal, responsável pela vigilância das fronteiras do país.
Segundo Hottz, a Polícia Militar conseguiu, durante a madrugada, evitar que um grupo de traficantes da Vila Cruzeiro (Penha, zona norte) chegasse à Rocinha para ajudar o grupo de Dudu em sua investida para tomar a favela.


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