São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Sobrado vizinho foi arrombado no dia do crime, diz operário

Do telhado da churrasqueira do edifício onde Isabella foi morta, é possível acessar sobrado em construção, cuja porta foi arrombada

Vizinha da casa disse ter ouvido um barulho dentro da construção horas após o crime; nem ela nem pedreiro foram ouvidos pela polícia

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um operário que trabalha numa obra vizinha do prédio onde a menina Isabella Nardoni, 5, foi assassinada diz que o portão frontal da casa -que ainda está em construção- foi arrombado na noite do crime.
O sobrado fica nos fundos do Edifício London, de onde Isabella foi jogada do sexto andar. Do telhado da churrasqueira é possível acessar a obra, diz pedreiro que trabalha na obra.
A casa fica num ponto cego da guarita onde o porteiro Valdomiro da Silva Veloso, 28, trabalhava no momento do crime. A cerca elétrica sobre os muros do edifício estava desligada naquela noite, segundo a polícia.
"Cheguei no domingo e disse: entrou ladrão aqui. O portão estava arrombado, mas não levaram nada. Tinha muito azulejo, mas não levaram. Nem meu radinho", disse o pedreiro Gabriel Santos Neto, 46.
Santos Neto disse que trabalha e dorme no local há sete meses. No sábado, quando Isabella foi morta, ele disse ter ido visitar a família em Diadema como faz todos os finais de semana. Voltou no domingo, um dia mais cedo. Afirmou que, desde que trabalha lá, a obra nunca havia sido invadida.

Barulho
A enfermeira Christiane Brito, que mora em uma casa vizinha ao sobrado e que também faz divisa com o prédio onde Isabella foi morta, disse ter ouvido um barulho dentro da construção na madrugada de domingo, cerca de uma hora depois de ouvir gritos vindos do prédio. "No horário [em que a menina caiu], eu escutei uma mulher gritar. Deu para escutar. Daqui, dá para escutar tudo", afirmou ela.
Sobre o barulho que ouviu vindo de dentro da construção, Christiane disse: "Escutei um estrondo mesmo, barulho de coisas sendo derrubadas e uma conversa, pareciam duas pessoas", afirmou. "Não chamei a polícia porque pensei que fossem os meninos da obra."
Santos Neto também disse não ter ligado para a polícia para relatar o arrombamento do portão porque, além de nada ter sido levado, os vizinhos o desaconselharam por acreditar ter sido a própria polícia que invadiu o prédio à procura de suspeitos do assassinato de Isabella. "Mas ninguém viu a polícia", afirmou o pedreiro.
A assessoria da Polícia Militar informou, porém, não ter registro da entrada de seus homens no endereço. Se algum policial entrou nesse local, ainda segundo a PM, provavelmente foi da Polícia Civil.
A Secretaria da Segurança Pública afirmou que, como o inquérito está sob sigilo, não poderia dar detalhes da investigação. A reportagem apurou, porém, que não há informações no inquérito sobre a entrada de policiais civis no endereço.
De acordo com Santos Neto, Christiane e outros dois operários da obra, até ontem nenhum policial esteve no local para realizar perícias ou para falar com os moradores ou trabalhadores sobre o assunto. A perícia já esteve pelo menos sete vezes no prédio dos Nardoni e no edifício em frente a ele.
O promotor Francisco José Cembranelli disse, após visita ao prédio de Isabella na semana passada, que somente "um homem-aranha" seria capaz de escapar pelos fundos do prédio. A visita do promotor foi feita depois de ele afirmar em entrevista que a versão de Alexandre Nardoni e da madrasta -de alguém estar dentro do apartamento- era "fantasiosa".
Para a moradora e os trabalhadores, o acesso ao prédio pelo sobrado seria possível. "Quando a pessoa quer, ela entra em qualquer lugar", disse o pedreiro João Francisco Sales.


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