São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bope faz publicidade de empresa de armas

Ação de marketing foi parte de um treinamento em "favela cinematográfica" sobre uso de armamentos não-letais

Policiais gravaram vídeo institucional e concederam entrevista utilizando boné da empresa; PM diz ter sido "convidada" para evento

Bia Guedes/Folha Imagem
Policial do Bope faz demonstração usando boné da fabricante

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) da Polícia Militar do Rio participaram ontem em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, de uma ação de marketing de um fabricante de armamentos não-letais. Agentes fizeram uma apresentação do material para a imprensa em uma "favela cenográfica" e posaram com o boné da empresa.
Quarenta policiais de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Espírito Santo e Rio participaram de um treinamento gratuito da Condor -fabricante do produto- no sítio da empresa.
A Secretaria de Segurança e a Polícia Militar do Rio pretendem comprar armas não-letais. A Condor vê o Estado como um mercado novo. Para o governo, o treinamento com as armas da empresa não direciona a escolha, pois "a disputa será aberta para todos". A Condor diz ser a única fabricante nacional desse tipo de produto.
Durante o treinamento, os policiais tiveram contato com armas que ainda não conheciam, como um lançador de balas de borracha calibre 40 mm. O tenente do Bope Marcelo Corbage elogiou o produto ao gravar um vídeo da Condor.
"Ele tem um alcance e uma cadência de tiros maior do que as armas [não-letais] que temos", disse o policial para o vídeo. "Queremos desmistificar a imagem de que as operações do Bope são letais", disse Corbage.
"O nosso objetivo em oferecer o curso é que os policiais usem o produto de forma adequada", disse o diretor de Relações Institucionais da Condor, Antônio Carlos Magalhães.
O comandante do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque), coronel Carlos Milagres, deu entrevistas vestindo o boné da empresa. Ele reconheceu o deslize. "Talvez eu nem devesse mesmo [estar com o boné]. Mas estou aqui na condição de aluno".
De acordo com coronel Milagres, o BPChoque será usado como um "modelo" do uso de armamento não-letal a ser expandido para os outros batalhões do Estado.
A Polícia Militar do Rio disse que foi "convidada a fazer uma demonstração de utilização de armas não-letais". "Qualquer coisa fora isso é uma especulação", afirmou. A PM não respondeu se Milagres tinha autorização para vestir o boné da empresa em entrevistas e se Corbage podia gravar o vídeo.


Texto Anterior: Em operação, "Tropa de Elite" mata 3 no Rio
Próximo Texto: Senado aprova aumento de recursos à saúde
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.