DA SUCURSAL DO RIO

"Demagogos", burocracia, tempo de mandato e até a própria gestão estão no rol dos culpados do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), 40, pelo caos que tomou conta da cidade nesta semana e matou 55 pessoas. (IN)

 

FOLHA - O sr. tem dito que nenhuma cidade aguentaria essa chuva, mas reconhece "ineficiências conhecidas não solucionadas". Até onde vai a culpa de cada uma?
PAES - O que não é minha culpa ou de nenhum antecessor meu? A maré subiu e a lagoa encheu. Não tinha jeito. A lagoa tem 50 cm [de altura], quando está cheia vai a 90 [cm], mas foi a 140 [cm] e transbordou. Não precisa ter ocupação irregular de encostas para ter muitas mortes. Mas, se não tivesse tanta, não teríamos tantas mortes. Há áreas ricas, com projeto aprovado, que desabaram, como no Humaitá...

FOLHA - Qual foi a sua falha?
PAES - Poderia ter removido mais comunidades. Mas se tivesse sido conivente, se tivesse ouvido demagogos de quinta dizendo que o "Choque de Ordem" é contra pobre, talvez houvesse mais mortes.

FOLHA - Remoção é solução?
PAES - Em algumas situações. Mas nada é tão radical quanto a imprensa deseja. Nem tudo tem que ser reassentamento, nem tudo tem que ser urbanização. Há áreas que podem receber projetos de urbanização. A maioria das comunidades pode. Outras não.

FOLHA - O sr. sabe quantas comunidades pretende remover?
PAES - Não. Temos um mapeamento com 13 mil domicílios em situação de muito risco. Todos em favelas.

FOLHA - A remoção é tabu...
PAES - Reassentamento. Eu não me preocupo com essa discussão ideológica completamente ineficiente.

FOLHA - Quem é demagogo?
PAES - Um monte de especialistas que, vendo gente morrendo, diz que "só pode sair se oferecer abrigo decente". É melhor colocar a pessoa na rua gripada, toda molhada, com pneumonia, do que deixar em casa podendo haver deslizamento.

FOLHA - Por que não se reassenta antes dos acidentes?
PAES - Não é verdade. O Prazeres, de fato, não estava na nossa área de risco. Mas, a partir do momento em que tem o problema, está na área de risco. A prefeitura vem fazendo isso. Há um plano público de retiradas.

FOLHA - Mas todos vão para o aluguel social, aguardando as casas...
PAES - Qual a alternativa? O aluguel social é um paliativo, nunca definitivo. Até porque o poder público não vai ficar pagando aluguel o resto da vida.

FOLHA - O Rio estará preparado para a Olimpíada?
PAES - A última coisa que me preocupa neste momento é Olimpíada e Copa do Mundo. É a maior besteira e baboseira monstruosa. Estou preocupado com a cidade no seu dia-a-dia, com quem vive aqui.


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