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Há 3 dias no IML, jovem procura por 15 parentes
BRUNA FANTTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Uma saga para tentar achar e
identificar 15 parentes mortos.
Assim pode ser resumida a rotina dos últimos três dias de Cássia Monteiro, 17, na fila de espera do IML, na Leopoldina, zona
norte do Rio.
Já tendo feito o reconhecimento de três irmãos, da avó,
de uma tia e de duas primas,
Cássia voltou ontem ao IML
para reconhecer outros tios e
primos. No total, foram 15 parentes que morreram no deslizamento de terça de manhã no
morro dos Prazeres, de onde 25
corpos foram resgatados.
Cássia só soube da tragédia
quando voltava para casa, após
passar a noite fora.
Acompanhada de dois tios,
sua expressão foi de perplexidade ao saber pelo IML que o
corpo de sua mãe, Jurema
Monteiro, não estava lá.
"Cheguei a ficar feliz, na esperança de que ela estivesse viva, mas lembrei que meu tio pegou o número da viatura que
retirou o corpo do hospital",
disse, desnorteada.
O tio, Luiz Monteiro, 30, morador de um bairro da Baixada
Fluminense, estava inconformado. "Já tentei entrar em
contato até com os diretores do
IML e do Hospital Souza
Aguiar, onde ela foi socorrida,
mas não obtive sucesso. Parece
que o corpo evaporou". A família ainda enfrentava outro drama: duas crianças, uma de 10
anos e outra de 8 meses, ainda
estavam sob os escombros.
Diante de tantos mortos e desaparecidos, outro tio de Cássia, Luiz Carlos Ribeiro, fez
uma lista com nomes de amigos
e familiares mortos e soterrados. O nome de Jurema, sua
prima de segundo grau, tinha
um ponto de interrogação.
A notícia do desaparecimento do corpo de Jurema fez com
que os bombeiros elevassem
para cinco os desaparecidos no
morro dos Prazeres. O tenente-coronel Márcio Magnelli, que
comanda o resgate no local,
acha que pode ter ocorrido um
erro de comunicação.
"Vizinhos disseram que a levaram com vida para o hospital
onde ela faleceu. Mas diante
desse desencontro, ela pode estar aqui, então voltamos a procurar", disse.
O local das buscas, a rua Gomes Lopes, era tomada por curiosos e parentes de vítimas
ainda soterradas. Sebastião Armond, 33, acompanhava a procura pelos corpos de dois sobrinhos. A família de Sebastião
morava ao lado da família Monteiro. Da casa deles, seis pessoas já haviam sido retiradas
mortas e outras duas estavam
em estado grave no hospital.
O diretor do IML, Frank Ferline, disse que o corpo de Jurema pode ter sido levado para
outro instituto localizado no
bairro de Campo Grande, mas a
informação não foi confirmada.
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