São Paulo, sexta, 10 de abril de 1998

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Stones é que deveriam abrir show de Bob Dylan

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Diz o ditado que pedras que rolam não acumulam musgo. Ou será que acumulam?
Já se passaram mais de 20 anos desde que Mick Jagger perpetrou a famosa frase, que não pretendia chegar aos 50 anos cantando "Satisfaction".
Chegou e continua a garantir o leite das crianças usando seus "rubber lips", lábios de borracha, para seduzir e controlar com mão de ferro, como um Orlando Orfei rebolativo ou um P.T. Barnum de rímel, seu cirquinho particular.
Que nem é tão cirquinho assim. Basta dizer que 200 pessoas compõem a milionária empresa itinerante dos Rolling Stones.
O show que eles trazem ao Brasil desta vez, Bridges to Babylon, também tem números de intimidar qualquer Raimundo: só a ponte móvel comandada por computador, que iça os Stones para o meio da platéia, pesa 15 toneladas. O som esbanja 300 mil watts e o equipamento de palco pesa cerca de 350 toneladas.
Voodoo Lounge, o show que eles apresentaram por aqui alguns anos atrás, certamente entrou para os anais do rock como um dos melhores de todos os tempos. E o atual pode não ser tão brilhante, mas é sempre um show dos Stones, com a qualidade musical que isso implica.
Mesmo assim, qualquer carcomido apreciador do rock, como eu, sente uma ponta de tristeza diante da arquitetura atual dos Stones.
Para a garotada que está saindo do cueiro, vale notar que aquele "ragazzo" que amava os Beatles e os Rolling Stones nunca existiu. Na pré-história que eu conheci, o mundo era dividido entre aqueles que amavam os Beatles e aqueles que amavam os Stones. Eu preferia os Beatles, mas, só pra contrariar, às escondidas, metia um "Sticky Fingers" na vitrola.
E quando soube que Keith Richards, guitarrista que divide o topo do mundo com Eric Clapton, não dirige a palavra ao parceiro, e que Jagger virou um caretinha (você já viu a casa dele em revistas como "Architectural Digest"?) de deixar os poucos cabelos que sobram na cabeça do Marcelo Nova em pé, senti dobrar o peso do tempo sobre os ombros.
Se o excesso de profissionalismo engoliu um bom naco da magia dos Stones, só nos resta comemorar que Bob Dylan, firme e forte e fiel às origens, está aí para salvar a pátria.


QUALQUER NOTA

Santos
D. Paulo Evaristo afirmou que o Brasil precisa se esforçar mais para ter outros beatificados. Pois eu me coloco à disposição para servir de postuladora de alguns tapuias que merecem ser beatificados em vida. A saber: Jader Barbalho, ACM e Iris Rezende. Ah, sim! Como esquecer do bom cristão Sérgio Motta?

Pacheco à provençal
São Paulo ganhou um simpático restaurante, com boa comida e uma gente muito da descolada. Trata-se do Zola, da rua Bartolomeu Zunega, em Pinheiros. O destaque fica por conta dos mariscos do tamanho do meu cão Pacheco.

Boa pedida
Em tempos de pechincha, vale a dica: de 6 a 9 de maio, 60 expositores da área de decoração se reúnem na Feira do Aconchego, na rua Marina Cintra, 67. Entrada franca.



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