São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997.



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Ensino falho cria texto obscuro

especial para a Folha

Os problemas estruturais -deficiências na educação básica e no ensino jurídico- fazem com que grande número de estudantes e profissionais do direito não saibam manejar a língua falada e escrita, seu principal instrumento de trabalho.
Há ainda uma certa tendência dos trabalhadores do direito em usar expressões esquisitas e de sentido dúbio.
Tudo isso conjugado resulta, muitas vezes, em verdadeiros desastres da linguagem.
É o caso do advogado que, para não repetir no texto Lei das Sociedades Anônimas, chamou-a de "diploma do anonimato".
Muitos transformam uma simples assembléia de acionistas em "conclave assemblear". E o recurso extraordinário (ao Supremo Tribunal Federal), não raro, torna-se um "remédio heróico" ou "apelo extremo".
Os estudantes e estagiários são as vítimas mais fáceis desta herança linguística. Inexperientes e no afã de demonstrar conhecimento, escrevem coisas quase incompreensíveis.
José Alexandre Tavares Guerreiro, professor de direito comercial da USP, conta que um estudante, referindo-se ao jurista Orlando Gomes, escreveu: "estribado no escólio do saudoso mestre baiano, o pedido contido na exordial não logrou agasalho".
Ele queria dizer que, com fundamento em citação de Orlando Gomes, o pedido contido na petição inicial não foi aceito pelo juiz.



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