São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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JUVENTUDE ENCARCERADA

Sete mulheres e um homem foram demitidos após revista; funcionários alegam que sofreram ameaça

Febem acha celular de interno com educador

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após negar denúncias de descontrole em unidades, a Febem de São Paulo demitiu ontem oito funcionários que teriam sido flagrados em uma revista, feita pela manhã, escondendo celulares pertencentes a internos, além de outros objetos vetados, como correntes de ouro e relógios.
À noite, o complexo voltou a registrar uma nova rebelião com cinco feridos -a 14ª do ano no Tatuapé num total de 25 motins ocorridas na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) -, que continuava até o fechamento desta edição.
Os educadores sociais demitidos -sete mulheres e um homem- trabalhavam nas unidades 1 e 39 do complexo do Tatuapé (zona leste). Eles estavam há pouco mais de três meses na instituição. No distrito policial, eles afirmaram que tiveram os objetos colocados em suas roupas pelos internos pouco antes da entrada da Tropa de Choque da Polícia Militar nas unidades. Teriam sido ameaçados pelos adolescentes.
Os funcionários foram ouvidos no 81º DP (Belém) e liberados. Em dois boletins de ocorrência, eles foram citados como "averiguados". Um inquérito foi aberto para apurar o possível crime de facilitação de fuga, segundo o delegado Enjolras Rello de Araújo.
As demissões ocorrem em meio a mais uma crise na Febem. Na semana passada, foram registradas três rebeliões e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou que o presidente da instituição, Alexandre de Moraes (PFL), deixará o cargo até o próximo dia 2 para assumir uma vaga no Conselho Nacional de Justiça.
A revista -que atingiu 13 das 14 unidades- foi realizada no complexo após denúncias de descontrole feitas pela Promotoria da Infância e da Juventude. Segundo os promotores, os internos estariam dando ordens nas unidades, teriam celulares e se negavam a usar uniforme. Levantamento da Promotoria mostrou que um celular foi apreendido a cada três dias, em média, só nos três principais complexos -Tatuapé, Vila Maria e Raposo Tavares- em 2005.
A revista começou a ser feita por volta das 8h de ontem e também incluiu funcionários. Duas horas depois, sete educadoras foram flagradas com cinco celulares, segundo o boletim de ocorrência 1575/2005. Também foram encontrados com elas seis correntes de ouro e vários relógios pertencentes a internos.
Em outro boletim de ocorrência, que estava sendo registrado na noite de ontem, outro funcionário foi flagrado com um celular. No total, a Febem apreendeu na revista 21 celulares -seis com os funcionários-, 14 carregadores e 65 naifas (facas improvisadas).
Para a Febem, não há dúvida de que os funcionários flagrados facilitaram o uso de celulares para os internos e não há informação de que eles agiam sob ameaça.
Segundo a fundação, os funcionários foram descobertos quando, durante a revista, disseram que os celulares encontrados eram deles, mas não souberam informar os respectivos números.
Muitos objetos foram apreendidos nas meias e nas roupas íntimas, o que aumentou a desconfiança de policiais. Também segundo a Febem, nenhum deles apresentou espontaneamente o objeto apreendido ou alegou, naquela hora, estar sob ameaça.


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