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Regras do Conar são desrespeitadas, diz estudo
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo realizado pela
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo) mostra que as
propagandas de cerveja veiculadas na TV não respeitam várias determinações do código
de auto-regulamentação da publicidade do Conar (Conselho
Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária).
As propagandas, de acordo
com o estudo, têm apelo imperativo ao consumo, despertam
a atenção de crianças e adolescentes, mostram pessoas que
aparentam ter menos de 25
anos, exploram o erotismo, não
são veiculadas apenas em programas de TV destinados ao
público adulto e mostram a cerveja relacionada ao sucesso
profissional, social ou sexual.
Das 16 regras do Conar avaliadas na pesquisa, 12 foram
desrespeitadas.
"A auto-regulamentação não
serve para absolutamente nada", diz a psicóloga Ilana
Pinsky. Ela foi a orientadora do
advogado Alan Vendrame em
seu trabalho de mestrado no
Departamento de Psiquiatria
da Unifesp. A pesquisa foi financiada pela Fapesp (entidade do governo paulista que fomenta pesquisas científicas).
O estudo contou com a participação de 282 estudantes do
ensino médio de escolas públicas de São Bernardo do Campo,
no Grande ABC. Suas idades
variavam de 14 a 17 anos -portanto, não podiam consumir
bebida alcoólica.
Esses adolescentes assistiram a 33 propagandas de cerveja veiculadas na televisão durante a Copa do Mundo de
2006. Eles escolheram as cinco
que, na opinião deles, foram as
melhores.
Em seguida, os pesquisadores entregaram um questionário aos estudantes, com perguntas relacionando as propagandas às normas do Conar. Os
adolescentes não sabiam qual
era o propósito do estudo.
Os pesquisadores usaram as
impressões dos jovens para
concluir que as cervejarias não
respeitam as normas de auto-regulamentação.
"Os jovens são maciçamente
bombardeados por uma série
de propagandas de cerveja na
televisão, de manhã, à tarde e à
noite. Diversos estudos mostram que a propaganda tem
efeito na tomada da decisão do
consumo", afirma Ilana Pinsky.
Na quarta-feira passada, o
governo retirou a urgência de
um projeto de lei em análise pela Câmara dos Deputados que
proíbe a veiculação de anúncios
de bebidas alcoólicas no rádio e
na televisão das 6h às 21h.
O projeto perdeu a prioridade, segundo deputados, por
causa da pressão dos fabricantes de cerveja, das agências de
publicidade e das emissoras de
rádio e televisão. Agora, sem o
status de urgência, o texto pode
levar anos para ser votado.
Dentro do governo federal, a
aprovação era aguardada com
ansiedade principalmente pelo
Ministério da Saúde e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A decisão foi criticada por diversas entidades, como o Cremesp (Conselho Regional de
Medicina de São Paulo) e o Idec
(Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor). Um abaixo-assinado com cerca de 600 mil
nomes foi levado ao Congresso
pedindo que o projeto de lei
fosse aprovado.
O Cremesp afirmou que, por
causa do álcool, "famílias continuarão sendo dizimadas, a violência doméstica continuará
sendo freqüente e o Brasil seguirá como o campeão em acidentes automobilísticos".
Outra preocupação é o fato
de as pessoas começarem a beber cada vez mais jovens. A pesquisa da Unifesp apresentou
outro questionário aos adolescentes. A idade média do primeiro consumo de bebida alcoólica, no caso dos 67% que já
haviam bebido, foi de apenas
13,8 anos. No Brasil, a venda de
álcool a menores de 18 anos é
expressamente proibida.
Enquanto em diversos países
do mundo a propaganda de bebidas alcoólicas é limitada por
lei, em outros, como o Brasil, o
mercado de publicidade é auto-regulado.
O Conar é uma ONG (organização não-governamental) formada por 180 conselheiros, entre profissionais de publicidade
e representantes da sociedade
civil, que tem por objetivo fazer
valer o código de auto-regulamentação publicitária.
A pesquisa mostrou, no entanto, que regras como a que
proíbe relacionar o álcool à direção foram respeitadas.
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