São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Controle da dengue é um dever de todos

BENEDITO ANTONIO LOPES DA FONSECA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 2010, o número de casos de dengue aumentou consideravelmente e, com isso, o de casos graves e mortes. Esse crescimento pode estar relacionado a um aumento da população de vetores devido ao prolongamento das chuvas em 2009, no período interepidêmico.
Outra explicação é o retorno da circulação em larga escala do vírus dengue-1, o primeiro a causar epidemias no Brasil, mas que afetou um pequeno número de pessoas quando circulou (até a década de 90). Por esse motivo, existe a disponibilidade de um grande número de pessoas suscetíveis (que não criaram imunidade).
Como esse sorotipo possui um grande poder de disseminação, já era esperada uma epidemia.
E ainda a alta dos casos hemorrágicos, já que uma expressiva proporção dessa população agora é infectada pela segunda vez. O controle da dengue, por ser uma estratégia multifatorial, não é tarefa fácil, fato demonstrado pelos 100 milhões de casos de dengue clássica e mais de 500 mil de dengue hemorrágica notificados por ano à Organização Mundial da Saúde.
Até o advento de uma vacina, o controle e a prevenção das epidemias de dengue restringem-se ao controle vetorial, que deve ser feito também no período interepidêmico.
Mas como obter sucesso com essa iniciativa se entulho e outros materiais que favorecem a água parada são, muitas vezes, guardados por pessoas para vender para usinas de reciclagem ou para uso pessoal? Uma solução para melhorar a efetividade de campanhas e visitas seria fazer esse tipo de trabalho à noite ou em finais de semana, pois seria mais provável encontrar os seus moradores.
O treinamento médico é outro ponto importante, pois depende desses profissionais o levantamento da suspeita clínica e o tratamento precoce.
Recentemente, foi adicionado ao arsenal diagnóstico da dengue um teste rápido. Apesar de caro, é extremamente útil.
Na experiência de Ribeirão Preto, esse teste passou a ser pedido recentemente a todos os pacientes com quadro compatível com dengue. Só cerca de 50% dos pacientes confirmaram a doença, mas isso contribuiu para a disseminação do conhecimento sobre a dengue e para um controle razoável.
Apesar de mais de 21 mil casos terem sidos notificados em Ribeirão, só houve cinco mortes. O controle da dengue é responsabilidade de toda a população, tanto no sentido de reconhecer os sintomas dessa doença e diminuir criadouros, quanto de requerer das autoridades de saúde a melhoria constante de sistemas de atendimento.


BENEDITO ANTONIO LOPES DA FONSECA é infectologista e professor livre-docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto

Texto Anterior: Outro lado: Governo nega responsabilidade pelas mortes
Próximo Texto: Ribeirão Preto: Casal pegou a doença na sequência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.