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ANÁLISE
Controle da dengue é um dever de todos
BENEDITO ANTONIO LOPES DA
FONSECA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 2010, o número de casos
de dengue aumentou consideravelmente e, com isso, o de casos graves e mortes. Esse crescimento pode estar relacionado a um aumento da população
de vetores devido ao prolongamento das chuvas em 2009, no
período interepidêmico.
Outra explicação é o retorno
da circulação em larga escala do
vírus dengue-1, o primeiro a
causar epidemias no Brasil,
mas que afetou um pequeno
número de pessoas quando circulou (até a década de 90).
Por esse motivo, existe a disponibilidade de um grande número de pessoas suscetíveis
(que não criaram imunidade).
Como esse sorotipo possui um
grande poder de disseminação,
já era esperada uma epidemia.
E ainda a alta dos casos hemorrágicos, já que uma expressiva proporção dessa população agora é infectada pela segunda vez.
O controle da dengue, por ser
uma estratégia multifatorial,
não é tarefa fácil, fato demonstrado pelos 100 milhões de casos de dengue clássica e mais de
500 mil de dengue hemorrágica notificados por ano à Organização Mundial da Saúde.
Até o advento de uma vacina,
o controle e a prevenção das
epidemias de dengue restringem-se ao controle vetorial,
que deve ser feito também no
período interepidêmico.
Mas como obter sucesso com
essa iniciativa se entulho e outros materiais que favorecem a
água parada são, muitas vezes,
guardados por pessoas para
vender para usinas de reciclagem ou para uso pessoal?
Uma solução para melhorar a
efetividade de campanhas e visitas seria fazer esse tipo de trabalho à noite ou em finais de semana, pois seria mais provável
encontrar os seus moradores.
O treinamento médico é outro ponto importante, pois depende desses profissionais o levantamento da suspeita clínica
e o tratamento precoce.
Recentemente, foi adicionado ao arsenal diagnóstico da
dengue um teste rápido. Apesar
de caro, é extremamente útil.
Na experiência de Ribeirão
Preto, esse teste passou a ser
pedido recentemente a todos
os pacientes com quadro compatível com dengue. Só cerca de
50% dos pacientes confirmaram a doença, mas isso contribuiu para a disseminação do
conhecimento sobre a dengue e
para um controle razoável.
Apesar de mais de 21 mil casos
terem sidos notificados em Ribeirão, só houve cinco mortes.
O controle da dengue é responsabilidade de toda a população, tanto no sentido de reconhecer os sintomas dessa doença e diminuir criadouros, quanto de requerer das autoridades
de saúde a melhoria constante
de sistemas de atendimento.
BENEDITO ANTONIO LOPES DA FONSECA é
infectologista e professor livre-docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de
Medicina da USP de Ribeirão Preto
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