São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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SAÚDE
Viagra e Vasomax podem vender 150 milhões de comprimidos até o final do ano
EUA prevêem boom de drogas do sexo

AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Dallas

No balcão da farmácia, o casal decide qual será o "aditivo" da noite. Ela escolhe um creme vaginal, ele um gel e uma cartela de comprimidos. Na prateleira dos remédios para ereção e orgasmo estão drogas orais, sublinguais, injeções, cremes, supositórios uretrais e vaginais, de vários laboratórios.
A noite está garantida. E o casal segue para o motel ou para a casa, depois de pegar uma pizza na esquina. A cena, que pode parecer ficção, deve se tornar realidade em menos de cinco anos.
O congresso da Sociedade Americana de Urologia, realizado na semana passada em Dallas (EUA), mostrou que o "boom" dessas drogas já começou.
O primeiro dos comprimidos, o Viagra, há um ano no mercado, anunciou a venda de 50 milhões de unidades para 3 milhões de pacientes só nos EUA. O Vasomax, lançado há duas semanas no Brasil e que deve entrar na Europa e nos EUA ainda este ano, espera dividir o mercado em seis meses.
Até o final do ano, o número de comprimidos para ereção vendidos no mundo todo pode passar dos 150 milhões. Em faturamento, serão quase R$ 2 bilhões. Em termos de relações humanas, o resultado tem uma dimensão inédita: serão 150 milhões de relações sexuais que não teriam acontecido ou nem teriam sido tentadas se não tivessem surgido essas drogas. Revolução maior só teria acontecido com a descoberta da pílula, 40 anos atrás.

Cremes e supositórios
Vem muito mais por aí. Irwin Goldstein, da Universidade de Boston e um dos maiores entendidos em disfunção sexual, disse em Dallas que pelo menos outras quatro drogas do tipo Viagra estão no forno dos laboratórios. Poderão ser tomadas até seis horas antes da relação. Comprimidos sublinguais, cremes de uso tópicos, drogas que agem no sistema nervoso central e outras desenhadas para o orgasmo feminino, como supositórios vaginais, devem surgir nos próximos três anos. A geneterapia vai permitir a aplicação de células na musculatura lisa do pênis, tornando-a mais relaxável.
Não faltarão consumidores. De acordo com a pesquisa MMAS, de Massachusetts -tida como referência internacional- 10% da população masculina em geral sofre de algum tipo de disfunção erétil. Entre os homens de 40 a 70 anos, esse índice sobe para 52%.
"É um mercado fantástico", disse Sidney Glina, do Instituto H. Ellis.
Não está contado o contingente de homens que tomará o comprimido sem indicação médica. "A tendência é que os remédios venham também a ser usados de forma recreativa", disse Joaquim Francisco Claro, da Universidade Federal de São Paulo.
Por enquanto, a recomendação é que as drogas sejam prescritas sob acompanhamento médico.

No rancho de J.R.
De todo modo, os laboratórios sabem que o bolo a ser dividido é enorme. Na semana passada, a Schering-Plough reuniu 350 urologistas brasileiros no rancho de J.R. Ewing -o chefão do seriado "Dallas"- para anunciar o Vasomax. A mesa foi aberta por Sami Arap, professor titular da Faculdade de Medicina da USP, e encerrada por Goldstein, que coordenou um dos 20 estudos com a droga.
A pergunta dos médicos não podia ser outra: Vasomax ou Viagra? Para Goldstein, se o paciente tiver doença coronariana, a escolha será pelo Vasomax. O Viagra (sildenafil) não deve ser usado com nitratos, drogas empregadas em anginas e infarto do miocárdio. "A fentolamina (sal do Vasomax) é usada há décadas", afirmou Goldstein.
Celso Gromatzky, do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que o importante é ter diferentes opções. Para Glina, o futuro estaria na combinação das duas drogas. "Elas agem de forma complementar e associá-las permite doses menores", disse. Ainda não há pesquisas comparando as duas drogas. No Brasil, 23 estudos com o Vasomax estão sendo iniciados.


O jornalista Aureliano Biancarelli viajou a convite da Schering-Plough


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