São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Autoridades norte-americanas suspeitam que Welton Feliciano teve desidratação ao cruzar deserto a pé

Imigrante de Goiás morre ao entrar nos EUA

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

O brasileiro Welton Feliciano, 34, nascido em Fazenda Nova, no Estado de Goiás, foi encontrado morto no deserto do Arizona, na região oeste dos Estados Unidos, na última sexta-feira, após entrar ilegalmente no país cruzando a fronteira do México.
Seu corpo estava no bagageiro de uma camionete. O motorista, após ter sido parado pela polícia, tentou fugir correndo e foi preso. Um segundo ocupante da caminhonete conseguiu fugir.
Nos bolsos de sua calça foram encontrados um passaporte brasileiro -sem visto de entrada nos EUA- e o endereço de um hotel no México. Feliciano deve ter morrido de parada cardíaca provocada pela desidratação -a travessia foi feita a pé-, mas os resultados da autópsia ainda não foram revelados, disse o agente Lee Morgan, do Bureau de Imigração, ligado ao Departamento de Segurança Doméstica.
Feliciano, que era sapateiro, conseguiu dinheiro para a viagem aos Estados Unidos depois de vender um terreno da família.
Ele vivia com Marinalva Rodrigues e tinha um filho de 12 anos do primeiro casamento. Saiu de Goiânia com destino à Cidade do México, no dia 27 de maio, após vender um lote de terra.
O sapateiro fez dois contatos com os familiares, segundo a irmã dele, Vera Lúcia Lopes da Silva, 23. Um, quando ainda estava em São Paulo e o outro já em território mexicano, no dia 1º de junho.
Segundo Silva, durante o telefonema, o goiano demonstrou euforia e felicidade por estar prestes a alcançar seu objetivo -cruzar a fronteira. De acordo com a irmã, Feliciano foi "tentar a sorte nos Estados Unidos em busca de melhores condições de vida".
Silva disse que a família tentou várias vezes persuadi-lo a mudar de idéia. "Infelizmente, não conseguimos alcançar esse objetivo."
O corpo de Feliciano ainda está em Douglas, cidade próxima ao local em que ele foi encontrado. A região é rota freqüente de "coiotes" -pessoas que cobram para transportar ilegalmente imigrantes do México para os EUA- por ser uma das menos vigiadas da fronteira entre os dois países.
O local é também, segundo o agente ouvido pela Folha, um dos mais arriscados para travessia nessa época do ano, em que as altas temperaturas aumentam o risco de morte. "Aposto que você encontrará um ou dois corpos na fronteira toda semana."
Segundo o cônsul-adjunto da representação do Brasil em Los Angeles, Luís Fernando Carvalho, esse é o segundo caso de brasileiro morto ao tentar entrar nos EUA neste ano -outro caso ocorreu em fevereiro.
O agente diz que dois americanos e um mexicano já foram presos e estão sendo acusados de serem os responsáveis por guiar o grupo de 22 imigrantes ilegais de que Feliciano fazia parte. Deles, 20 eram mexicanos e um outro era brasileiro, amigo de Feliciano.
Morgan disse que não podia revelar seu nome, pois ele aceitou colaborar com a polícia e servirá de testemunha contra os coiotes.
O governo do Estado de Goiás se comprometeu a pagar as despesas com o traslado do corpo. De acordo com o assessor para assuntos internacionais de Goiás, Eli Chidiac, o governo negocia com a família a possibilidade de cremar o corpo de Feliciano nos EUA, o que tornaria o transporte dos restos mortais mais barato.
A mãe do sapateiro, Gertrudes Feliciano, 54, estava em choque com a notícia da morte do filho.


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