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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Autoridades norte-americanas suspeitam que Welton Feliciano teve desidratação ao cruzar deserto a pé
Imigrante de Goiás morre ao entrar nos EUA
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
O brasileiro Welton Feliciano,
34, nascido em Fazenda Nova, no
Estado de Goiás, foi encontrado
morto no deserto do Arizona, na
região oeste dos Estados Unidos,
na última sexta-feira, após entrar
ilegalmente no país cruzando a
fronteira do México.
Seu corpo estava no bagageiro
de uma camionete. O motorista,
após ter sido parado pela polícia,
tentou fugir correndo e foi preso.
Um segundo ocupante da caminhonete conseguiu fugir.
Nos bolsos de sua calça foram
encontrados um passaporte brasileiro -sem visto de entrada nos
EUA- e o endereço de um hotel
no México. Feliciano deve ter
morrido de parada cardíaca provocada pela desidratação -a travessia foi feita a pé-, mas os resultados da autópsia ainda não foram revelados, disse o agente Lee
Morgan, do Bureau de Imigração,
ligado ao Departamento de Segurança Doméstica.
Feliciano, que era sapateiro,
conseguiu dinheiro para a viagem
aos Estados Unidos depois de
vender um terreno da família.
Ele vivia com Marinalva Rodrigues e tinha um filho de 12 anos
do primeiro casamento. Saiu de
Goiânia com destino à Cidade do
México, no dia 27 de maio, após
vender um lote de terra.
O sapateiro fez dois contatos
com os familiares, segundo a irmã
dele, Vera Lúcia Lopes da Silva,
23. Um, quando ainda estava em
São Paulo e o outro já em território mexicano, no dia 1º de junho.
Segundo Silva, durante o telefonema, o goiano demonstrou euforia e felicidade por estar prestes
a alcançar seu objetivo -cruzar a
fronteira. De acordo com a irmã,
Feliciano foi "tentar a sorte nos
Estados Unidos em busca de melhores condições de vida".
Silva disse que a família tentou
várias vezes persuadi-lo a mudar
de idéia. "Infelizmente, não conseguimos alcançar esse objetivo."
O corpo de Feliciano ainda está
em Douglas, cidade próxima ao
local em que ele foi encontrado. A
região é rota freqüente de "coiotes" -pessoas que cobram para
transportar ilegalmente imigrantes do México para os EUA- por
ser uma das menos vigiadas da
fronteira entre os dois países.
O local é também, segundo o
agente ouvido pela Folha, um dos
mais arriscados para travessia
nessa época do ano, em que as altas temperaturas aumentam o risco de morte. "Aposto que você
encontrará um ou dois corpos na
fronteira toda semana."
Segundo o cônsul-adjunto da
representação do Brasil em Los
Angeles, Luís Fernando Carvalho,
esse é o segundo caso de brasileiro
morto ao tentar entrar nos EUA
neste ano -outro caso ocorreu
em fevereiro.
O agente diz que dois americanos e um mexicano já foram presos e estão sendo acusados de serem os responsáveis por guiar o
grupo de 22 imigrantes ilegais de
que Feliciano fazia parte. Deles, 20
eram mexicanos e um outro era
brasileiro, amigo de Feliciano.
Morgan disse que não podia revelar seu nome, pois ele aceitou
colaborar com a polícia e servirá
de testemunha contra os coiotes.
O governo do Estado de Goiás
se comprometeu a pagar as despesas com o traslado do corpo. De
acordo com o assessor para assuntos internacionais de Goiás,
Eli Chidiac, o governo negocia
com a família a possibilidade de
cremar o corpo de Feliciano nos
EUA, o que tornaria o transporte
dos restos mortais mais barato.
A mãe do sapateiro, Gertrudes
Feliciano, 54, estava em choque
com a notícia da morte do filho.
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