São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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Prefeitura paga até por água da chuva

DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo Transbordo Ponte Pequena, na avenida do Estado, passa metade do lixo coletado na cidade de São Paulo. São mais de quatro toneladas diárias. E o fosso no qual os caminhões despejam a carga -que depois é içada por pás às carretas- é descoberto.
Em outras palavras: a água da chuva encharca o lixo e aumenta artificialmente seu peso -elevando, conseqüentemente, seu custo. Pela tonelada de lixo coletado são pagos de R$ 33,96 a R$ 52,22, conforme a região.
No Santo Amaro, a cobertura é apenas parcial: o fosso está abrigado, mas a carreta fica exposta ao tempo enquanto é carregada. A única exceção é o Vergueiro, mas por ele passa apenas 15% do lixo domiciliar paulistano.
Essa é, provavelmente, uma das formas de aumento artificial do peso -e da densidade- do lixo da cidade. "É fato que não temos capacidade de investimento e que todos os transbordos estão tecnologicamente defasados", diz Fabio Pierdomenico, diretor do Limpurb, que usa esses argumento para defender a concessão do sistema em troca dos recursos.
A água, porém, é só a mais casual forma de incrementar artificialmente os quantitativos de coleta. Nas empresas, por exemplo, não há quem não saiba o que é "pegar barranco". O jargão faz referência ao acréscimo de terra e entulho ao lixo domiciliar.
A mistura teria origem na diferença de preço existente entre os resíduos. A tonelada removida de entulho chega a custar à prefeitura metade do pago pelo lixo domiciliar na mesma região.
Além do eventual acréscimo de materiais ao lixo, caberia ainda ao governo checar possíveis fraudes no registro das cargas, avaliam técnicos em resíduos sólidos.
Nesse caso, o TCM tem apontado outra brecha que até hoje se mantém: o que está cadastrado no computador dos transbordos são as cabines, não as carretas dos veículos. Com isso, a prefeitura ignora se a empresa aumentou a capacidade do conjunto, fez menos viagens e, assim, ganhou em produtividade. Isso pode elevar falsamente a densidade dos registros públicos e -o mais grave- impede a prefeitura de incluir a economia obtida nos cálculos contratuais, a favor do governo. (SC)


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