São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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ADMINISTRAÇÃO

Limpurb admite que não afere densidade de lixo, mas diz que fim de pagamento por tonelada "encerra discussão"

Sem controle de índice, governo nega fraude

DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo admite que não há controle da densidade do lixo e que, conseqüentemente, não é possível barrar cargas suspeitas. Diz ainda que o atual modelo (com pagamento por tonelada) é "perverso", pois opõe metas públicas de redução dos resíduos a interesses privados de lucro. Apesar disso, no entanto, o governo nega a possibilidade de haver desvios em série.
Para sustentar a lisura dos procedimentos, a administração cita a existência da fiscalização visual em transbordos e aterros e diz que só se pode falar em irregularidade quando há ofensa à "regra legal".
"Para haver irregularidade tem de haver regra. E não há regra legal que determine esse número [a densidade do lixo]. Então, não havendo lei sobre isso, não há irregularidade", diz Fabio Pierdomenico, diretor do Limpurb.
O argumento de Pierdomenico ignora que os contratos de operação de coleta, transbordo e aterro de lixo são claros sobre o tipo de resíduo que eles devem manejar. E há leis igualmente claras -com penas diversas- para quem desrespeita os contratos públicos.
O governo segue sustentando a inexistência de fraudes com base no total de toneladas recolhidas da cidade nos últimos anos. Pelos dados da prefeitura, elas caíram de 3,64 mil em 1996 -houve um pico ainda maior em 1998- para 3,16 mil em 2003. A redução, porém, é calculada a partir de dados de um período no qual, em registros, a densidade do lixo superava 1 t/m3, o que põe em xeque os quantitativos apresentados.
Pierdomenico admite que nenhuma das recomendações do TCM foi adotada até agora, mas diz que isso não aconteceu "porque desde 2002 a prefeitura tenta uma solução definitiva" -o fim do pagamento por tonelada.
"Não queremos estudar [a densidade], queremos acabar com esse problema. O que eu fiz para estudar a densidade? Fiz mais: vou sepultar isso", diz Pierdomenico.
Em 96, quando o TCM pediu que a prefeitura definisse a densidade média do lixo nos transbordos, o Limpurb indicou 0,746 t/ m3, com máximo de 0,78 t/m3. É o último dado. Em resposta, o TCM avaliou que não há coerência para o fato de o padrão se igualar ao esperado para o lixo compactado.
Quem assina o estudo é o engenheiro Afonso Celso Teixeira de Moraes, 56, que era diretor de transbordos e hoje é técnico da divisão de pesquisas do Limpurb.
Alvo de sindicância por suposta omissão nesse caso, Moraes diz que "o controle de densidade ficou atrelado ao desenvolvimento do novo sistema informatizado".
O sistema a que ele se refere estará pronto, segundo o Limpurb, em outubro -oito anos depois da primeira recomendação do TCM. Mas só vai incluir o controle da densidade -com a fixação empírica do índice- se não houver concessão. "Porque você contrata [alguém para estudar a densidade] quando vai usar [o dado]", diz Moraes. (SÍLVIA CORRÊA)


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