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DANUZA LEÃO
Mulher tem memória
Elas, mais emocionais, são capazes de tudo, quando deixadas; mulher não esquece -nem perdoa
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VOCÊ É medrosa? E quem não
é? E de que você tem medo?
Bem, existem os medos básicos: de barata, de rato, de cobra, da
escuridão.
Mas existem outros, nos quais
quase não se pensa, mas dos quais se
tem pânico -e esses são os piores.
São os medos subjetivos, quando
se faz algo que não se deveria, de ser
punida; por um pai imaginário, por
Deus, por um alguém que não faz
outra coisa a não ser olhar atentamente para tudo que você faz, para
premiar ou castigar. De preferência,
castigar.
Existem outros medos nos quais
não se pensa mas que são permanentes: medo de ficar doente, de ficar velha e sozinha, de morrer.
Quando se pensa em todos esses
medos, chega a surpreender como
podemos, às vezes, passar horas falando bobagem e dando risada.
Quando criança, você teve medo
de seu pai? Se teve, vai passar a vida
inteira tendo medo do marido e
do patrão, símbolos da autoridade
masculina.
E o medo da maldade? E do olho
grande?
Medo tem a ver com culpa, e quem
é culpada vive sempre com medo do
castigo.
Existem as pessoas que não são
culpadas de nada, e as que são culpadas de tudo. As primeiras passam
pela vida felizes, felizes; já as outras
acham que, se no lugar de terem
comprado aquele batom tivessem
mandado o dinheiro para os necessitados da África, teriam pelo menos
feito sua parte. Como é difícil viver.
Mas é preciso não confundir o medo com a covardia, e às vezes -aliás,
o tempo todo- é preciso se posicionar, sem medo. Se posicionar, no caso, é apenas organizar seus pensamentos e ter suas opiniões, o que, se
para alguns é simples, para outros é
quase impossível.
Por que será? Serão essas pessoas
tão reprimidas que isso as impede
não apenas de dar sua opinião mas
até de terem uma? Ou será medo?
Existem alguns medos bem concretos: da reação daquele homem
quando você anuncia que está indo
embora. Com todas as conquistas
que as mulheres conseguiram, nessa
hora o medo é físico -afinal, os homens costumam ser agressivos,
mais fortes que nós (fisicamente), e
às vezes, quando feridos, passam dos
limites. Outro medo é quando, já
com o novo, você cruza pela primeira vez com o que foi abandonado.
Mas os homens também têm seus
medos, sobretudo quando são eles
que abandonam. As mulheres
-mais emocionais e menos civilizadas- são capazes de tudo, quando
deixadas; mulher não esquece
-nem perdoa.
Aconteceu com um casal de velhinhos -bem velhinhos mesmo- que
estava visitando a filha, num domingo. Falavam sobre o passado, e num
determinado momento ela perguntou -afinal, já havia tanto tempo-
se ele havia tido um caso com
uma determinada mulher, décadas
atrás, o que na época ele negou com
firmeza.
A conversa estava tão amena, a
paz tão grande, com a família toda
reunida, que ele disse que sim, era
verdade. Ela avançou no pescoço dele e foi preciso a filha e o genro para
separá-los. Apesar de já terem passado dos 80, ela passou meses sem
falar com ele.
E é bom que os homens também
tenham medo, pois uma mulher
com raiva é muito mais perigosa
do que um homem com um revólver
na mão.
danuza.leao@uol.com.br
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