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Barrada no baile sofre derrota na Justiça
Jovem pedia indenização por ter sido impedida de entrar em festa de gala, em Tubarão (SC), por causa de traje inadequado
Juiz que considerou pedido improcedente escreveu em sentença que o Judiciário deveria cuidar de "conflitos realmente importantes"
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Quando tinha 15 anos, Marcela (nome fictício) foi proibida
de entrar em um baile de gala
em Tubarão (SC) porque o traje
-blusa social e saia comprida-
foi considerado inadequado pela organização do evento.
Indignada, a mãe comprou a
briga. Bateu o pé na porta do
clube e, após um pequeno bate-boca, a entrada da menina foi
permitida. Tarde demais.
Argumentando que Marcela
fora humilhada, sua mãe decidiu processar o clube. Pediu R$
5.440 de indenização por danos
morais.
Sete anos depois, Marcela,
agora com 22 anos, foi barrada
novamente, mas na Justiça.
Em abril, o Tribunal de Justiça
de Santa Catarina manteve decisão de 2002 do juiz Lédio Rosa de Andrade, da 2ª Vara Cível
de Tubarão, que negou o pedido da indenização.
O juiz considerou improcedente o pedido de indenização
porque, em sua análise, "quem
consente com a futilidade a ela
está submetida". O magistrado
escreveu ainda que o Judiciário
deveria cuidar de "conflitos
realmente importantes".
Andrade afirmou que, para
determinar com quem estaria a
razão, teria de nomear um estilista ou colunista social para,
"cientificamente", verificar se o
vestido era ou não de gala. "Ridículo seria isto."
"Foi um desabafo", disse o
juiz à Folha. "Fiquei angustiado quando, ao pensar em toda a
riqueza e o excedente de miséria inaceitável que o Brasil tem,
tive que resolver isso. É porque
parte da sociedade valoriza coisas que não contribuem para
nada."
"Fico decepcionado porque
já fiz doutorado, pós-doutorado, publiquei livros e fiquei conhecido por essa decisão. Recebi cartas do Brasil inteiro e hoje
me pergunto se não deveria ter
emitido uma sentença formal,
fora daquele tom."
Procurada, Marcela não aceitou falar sobre o assunto.
"Há uma banalização de valores hoje em dia e ela era a
maior vítima", avaliou Andrade. Segundo o juiz, Marcela hoje estuda direito e tem se destacado na área. "O caso dela era
citado na faculdade e isso a
chateava. Por mérito, ela não
tomou o rumo da futilidade
apontado naquele momento."
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