|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em SP, doença afeta mais os heterossexuais
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um boletim inédito sobre a
Aids na maior cidade do Brasil
contradiz a tese do chefe do departamento de HIV/Aids da
OMS (Organização Mundial da
Saúde), Kevin de Cock, para
quem não há risco de uma epidemia entre heterossexuais.
Segundo o boletim, obtido
pela Folha, dos homens que tiveram diagnóstico de Aids em
São Paulo em 2007, a maioria
(36,6%) se infectou justamente
em relações heterossexuais.
Em seguida, as formas mais
freqüentes de infecção foram
as relações homossexuais
(24,8%), as bissexuais (9,8%) e
o uso de droga injetável (7,4%).
"A epidemia de Aids é heterossexual", afirma a psicóloga
Maria Cristina Abbate, que
coordena o programa de DST/
Aids da Secretaria Municipal
da Saúde.
Nas primeiras duas décadas
da epidemia (anos 80 e 90), os
homens de São Paulo se contaminavam mais por relações homossexuais (25,7%) e pelo uso
de droga (24,3%). As relações
heterossexuais vinham em terceiro lugar (17,6%).
Para Abbate, uma razão para
o crescimento entre heterossexuais foi a idéia de que a doença
era exclusiva de gays. "As primeiras campanhas eram voltadas para os gays, e eles, de fato,
abraçaram a camisinha. Os heterossexuais acreditaram que a
Aids não chegaria a eles. Acabaram ficando expostos."
A psicóloga diz que a declaração do diretor da OMS é "perigosa", por induzir os heterossexuais a pensar como antes. "Se
você põe um vetor moral ou religioso na epidemia, você presta um desserviço", afirma.
Outro sinal de que a doença
está mais heterossexual é o fato
de a proporção de doentes em
São Paulo ter caído de 26 homens por 1 mulher em 1985 para 2 homens por 1 mulher hoje.
Curva decrescente
O boletim informa que a Aids
mantém a tendência de queda.
Em 2007, houve 1.693 casos
novos na cidade. No ano anterior, haviam sido 2.574. A diminuição entre um ano e outro
(34%) foi a maior até agora.
Os dados incluem só doentes
de Aids. Muitas pessoas têm o
vírus HIV, mas não a doença
-ou seja, não tiveram o sistema
imunológico afetado. A notificação dos infectados com o
HIV ao governo não é compulsória, só a de doentes de Aids.
A porcentagem de mortes é a
menor até hoje. Em 2007,
13,7% dos doentes morreram.
Uma década antes, 47%.
Entre as razões estão as campanhas de prevenção, a distribuição de seringas descartáveis
e preservativos, a oferta de exames e o programa de remédios.
"A epidemia está em declínio, mas não podemos dizer
que os números são excelentes.
Ainda há muito por fazer", diz
Maria Cristina Abbate.
Texto Anterior: Relatório: Casos de Aids caem, mas doente é tratado com atraso Próximo Texto: Lula sanciona pacote que agiliza julgamentos Índice
|